Minha mãe

 

Na superfície de seus olhos baços
Toda a candura de outros tempos mora;
É a mesma santa que, no colo, outrora,
Tão docemente me apertava aos braços.

Do tempo a mancha, em vigorosos traços,
Sua loura trança de marfim colora;
Curva-lhe o dorso levemente, e agora
Também lhe causa dores e cansaços.

Tendo-a, tenho, feliz, o que desejo,
Pois, nos seus olhos, meu futuro vejo,
Como através do mais delgado véu...

Assim velhinha mesmo se revela
Tão meiga e boa para mim, que, nela,
Penso estar vendo minha mãe do céu.

Niterói, 01-10-1923


Na versão datilografada, encontrada em seu espólio, com informação de que foi publicado em “Município, a 20/01/1924, ocorrem as seguintes variantes: v. 1 “olhos baços,”; v. 6 “O seu cabelo de ébano descora,”; v. 13 “mim que, nela,”; v. 14 “Mãe do Céu”.
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