Minha mãe
Na superfície de seus olhos baços
Toda a candura de outros tempos mora;
É a mesma santa que, no colo, outrora,
Tão docemente me apertava aos braços.
Do tempo a mancha, em vigorosos traços,
Sua loura trança de marfim colora;
Curva-lhe o dorso levemente, e agora
Também lhe causa dores e cansaços.
Tendo-a, tenho, feliz, o que desejo,
Pois, nos seus olhos, meu futuro vejo,
Como através do mais delgado véu...
Assim velhinha mesmo se revela
Tão meiga e boa para mim, que, nela,
Penso estar vendo minha mãe do céu.
Niterói, 01-10-1923