O sacerdote

 

Homenagem ao Exmo. Sr. Bispo Diocesano, por motivo da ordenação dos novos presbíteros Antônio Martins de Sousa e Joaquim Jacó Pinto.

Gozando de uma paz que o mundo não conhece,
No seu negro albornoz , vai demandando a rua;
Em torno o poviléu zombeteiro o escarnece,
Mas ele indiferente a marchar continua...

Sobe, em pouco, os degraus da igreja da cidade,
Dos lábios se lhes escapa uma ardente oração,
Em que suplica a Deus que legue à humanidade
A graça sem igual do seu doce perdão.

Renovando a missão do meigo Nazareno,
Que a turba, que o maldiz, compassivo perdoa,
O sacerdote sempre abre um sorriso ameno
Aos insultos da plebe, e a bendiz e a abençoa.

No catre do hospital agoniza um enfermo,
Nas fortes contorções de uma doença minaz ;
Em pranto vela o padre, e ao ver tocar ao termo
Aquela alma, lhe dá a extrema-unção da paz.

Dos óleos ao contato o doente se reanima,
E senta-se no leito, em que a vida renasce,
E na raiva cruel que a mente lhe domina,
Do ministro de Deus escarra em plena face.

Pouco importa, diz este, a injúria que me atira,
Foi para o pecador que fez Deus o perdão –
E o braço levantando, enquanto o doente expira,
Sobre o corpo lhe traça a cruz da absolvição.


Recitada pelo autor na sessão de 27 de julho do ano de 1924.

Albornoz é uma espécie de casaco de mangas largas, com capuz ou gola subida.

Minaz é a que ameaça ou intimida; ameaçadora ou intimidante.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011