A mariposa

Curtos giros descreve a mariposa ousada,
Em torno da candeia acesa que a reclama,
E no ardor insensato, em que tanto se inflama,
Passa o corpo na luz, nem se sente abrasada.

Mais as curvas estreita, e mais arrebatada
Na vertigem do lume, em voltas se derrama;
Um momento lhe queima a sedutora chama
Suas asas de felpo, e ela cai fulminada.

Vamos, minha alma, agora ao que mais nos importa
Mira-te no cristal da mariposa morta,
Olha a imobilidade em que a triste repousa...

Não sejas imprudente... Este exemplo te imponho...
Que se corres assim atrás desse teu sonho,
Tu também cairás como essa mariposa.

Niterói, 24-08-1924

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011