Santa Isabel

 

Quase nunca se passava um dia,
Que aos desgraçados não levasse esmola,
E do regaço , com prazer, fazia
A compassiva e próvida sacola.

Naquelas trevas, que só Deus consola,
Ela era como um raio de alegria,
O rei, porém, que descobrira a mola,
Que da mulher o espírito movia,

Certa vez perguntou-lhe o que levara.
– Levo rosas...
                        A dúvida lhe crava
O coração de setas venenosas.

E o rei quer vê-las. Mas desse embaraço
Vem Deus livrá-la, que, no seu regaço,
A ceia muda num montão de rosas.

Niterói, 29-08-1924


Trata-se de Isabel de Aragão (1270-1336), rainha de Portugal, esposa de D. Dinis, Deu origem a este soneto o fato conhecido como “A lenda do milagre das rosas”.

Regaço é a concavidade formada pela saia ou avental que se suspende para colocar algo.

Provida – que provê (providente, provedor) ou que se previne (previdente, prudente, precavido).

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