Lodo d’alma
Meiga donzela, não sorrias tanto,
Compõe as fibras da mimosa face,
E considera que do riso nasce,
Muitas vezes, a pérola do pranto.
Das águas claras, o tranquilo manto,
O curioso que sondar ousasse,
Embaixo, o lodo, sob o véu fugace ,
Encontraria, trêmulo de espanto.
Como o lodo que dorme sob as águas,
Assim no coração dormem as mágoas,
Sob os sorrisos que o prazer espalma...
Meiga donzela, não sorrias tanto,
Olha que pode sobrevir-te o pranto,
Que é o lodo impuro do oceano d’alma
05-05-1925