O rafeiro
Tão fiel se mostra o meu rafeiro
A acompanhar-me por onde eu caminho,
Que muita vez com ele me abespinho ,
E forço-o a abandonar o meu roteiro.
Mas o meu indulgente companheiro
Mal me descobre um gesto de carinho,
Abana a cauda e alonga-me o focinho,
E me acompanha como de primeiro.
Não se espante, leitor, do que lhe digo:
O mundo não é mais do que um abrigo
De cães humildes, este mundo inteiro...
Há muita gente, nesta vida escassa,
Soberba e altiva, que afinal não passa
De um desbriado e mísero rafeiro.
Novembro, 1925