Meu canário
O meu canário, rústico e bisonho,
Tantas vezes, mudo, fico a ouvi-lo,
Que dele são os versos que burilo,
Dele são as estrofes que componho.
Dele é também o tédio que destilo,
Assassino cruel de tanto sonho,
E mais todo o poder de que disponho,
Que o seu estilo é o meu estilo.
Hei de enfeixar, num único volume,
Os versos que aprendi pelo costume
De ouvir a este cantor tão desgraçado,
Para que um dia, morto o meu amigo,
Relendo-os, possa recordar comigo
O seu passado que é o meu passado.
Novembro, 1925