A H. L. F.
Viva, quando no peito a fé dos crentes,
Nunca a dúvida em mim achou guarida,
Porém a perguntar consumo a vida,
Por que nos criou Deus tão diferentes?
Quisera ter nos lábios, inocentes,
Os mesmos risos que tu tens, querida;
Sofrer os males da presente vida
Com a coragem indômita que os sentes.
Deus que me deu esta paixão imensa
Por ti, deu-te o punhal da indiferença
Com que os meus dias torturando vais...
Por que podendo, lá do céu profundo,
Fazer-me o homem mais feliz do mundo,
Fez-me o mais desgraçado dos mortais?
I. Coutinho
Belo Horizonte, 27-12-1926