Esfinge

Finges que ignoras o meu sofrimento,
Com esse teu ar de monja disfarçada,
E se encontro, tens o atrevimento
De os teus olhos volver para a calçada.

O teu desprezo, que é o meu tormento,
Torna-me a vida insípida e pesada;
Pois não te move o fúnebre lamento
Deste meu coração em tua estrada.

Se após a tua morte alguém disser
Que era o teu corpo esbelto de mulher,
Das leis uma completa aberração...

Não terei os sorrisos da descrença
Que era um sinal – a tua indiferença –
De que nunca tiveste coração.

I. Coutinho

Belo Horizonte, 29-12-1926.


A expressão Pois não te move substitui a expressão Não te enternece, que foi rasurada.

O ponto de exclamação depois de estrada foi substituído pelo ponto final.

Uma vírgula após Das leis foi rasurada ou eliminada.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011