Esfinge
Finges que ignoras o meu sofrimento,
Com esse teu ar de monja disfarçada,
E se encontro, tens o atrevimento
De os teus olhos volver para a calçada.
O teu desprezo, que é o meu tormento,
Torna-me a vida insípida e pesada;
Pois não te move o fúnebre lamento
Deste meu coração em tua estrada.
Se após a tua morte alguém disser
Que era o teu corpo esbelto de mulher,
Das leis uma completa aberração...
Não terei os sorrisos da descrença
Que era um sinal – a tua indiferença –
De que nunca tiveste coração.
I. Coutinho
Belo Horizonte, 29-12-1926.