Quando o teu braço, preso no meu braço,
Formos pisando o leito dos caminhos;
Um céu mais lindo sorrirá no espaço,
As próprias aves cantarão nos ninhos.
E o pastor que nos vir, à luz do poente,
Em júbilo, juntinhos caminhar,
Há de dizer consigo, intimamente:
São dois brancos pombinhos a noivar.
E serei para ti, neste degredo
Inda maior, talvez, do que Moisés;
Farei que a água mane do rochedo
E que a terra floresça, aos nossos pés.
Se a fadiga prostrante na jornada
E um instante, quiseres descansar,
Serão meus braços uma rede armada,
Onde possas, querida, repoisar.
E cantarei baladas amorosas,
E pastorais com tão sentido entono ,
Que, olhando o céu, ao trescalar das rosas,
Tu, finalmente, pegarás no sono.
Os astros todos, do longínquo espaço
As tuas faces ficarão a vê-las;
Do teu sono tranquilo, em meu regaço,
Terão inveja as pálidas estrelas.
Olha: As roseiras estão florindo em rosas.
Não sentirás das estações os gelos.
Com a tepidez das minhas mãos nervosas,
Afagarei teus fúlgidos cabelos.
Cumprirei os teus íntimos desejos
Nem a velhice te conhecerá.
Pois ao calor fremente dos meus beijos
Todo o teu corpo se remoçará.
Vendo multiplicar-se o paraíso,
Assim iremos pela vida afora;
Tendo nos lábios um perene riso,
Tendo no peito uma perpétua aurora.
E quando um dia, à margem de uma estrada,
A morte espalme, sobre nós, seu véu;
A minha alma com a tua entrelaçada,
Ambas libertas subirão ao céu.
Ismael Coutinho
08-05-1927
Como se trata de um poema do qual não conhecemos o título, também não sabemos se foi perdida a parte inicial, já que foram localizadas apenas duas folhas soltas com seis e quatro estrofes respectivamente.