M. P. da R.

.

Testa espaçosa, e de cabelo fino,
Limpo, corado, a barba traz em dia,
Conhece a fundo os métodos de ensino,
Como um grã-fino da pedagogia.

Uma veste marrom, tem lisa a tez,
Ante a beleza estética se inflama;
Além de professor de português,
Inda é também causídico de fama.

Sempre que escreve, mais o estilo apura,
Vem honrar e avivar as leis de estática
Se, por acaso , faz literatura,
Não despreza os preceitos da gramática.

Dentro das classes, é geral a crença:
– Ninguém os olhos da lição desvia;
Cada frase que diz, cada sentença,
É um primor raro de ourivesaria.


Com as pequenas travessas nunca enfuna,
Compassivo se mostra aos seus senões;
Dele me disse, há dias, uma aluna:
Eis o bamba da língua de Camões.

A seu respeito, na secretaria,
Ouvi dizer, não creio na versão:
Que, apesar de ser rico, tem mania
De só roupas fazer a prestação.

Em vigílias e estudo a vida passa,
Erguendo acesa da instrução a tocha;
De um ditador de Roma tem a graça,
Ó pena ousada, que já quer ser rocha!

Ismael de Lima Coutinho


Rosalvo do Valle anotou, a lápis, ao lado dessas iniciais: “[Mário Pena da Rocha]”. Trata-se do segundo ocupante da cadeira número 5 da Academia Brasileira de Filologia. Aproveito a oportunidade para registrar meu agradecimento pela leitura atenta e excelente revisão feita pelo referido professor Rosalvo.
Este poema foi preservado em um datiloscrito não datado.

Leitura provável do verso que substitui, na entrelinha, o seguinte: Não se engana nas leis da matemática. Estática é o ramo da mecânica que investiga as propriedades de corpos que se encontram em equilíbrio quando sob a ação de forças.

A palavra acaso substitui a palavra ventura, a que se sobrepõe, em manuscrito.

No datiloscrito está setudo por estudo.

 

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011