Retorno

Eis-me de volta ao meu solar antigo,
Depois de longos, tenebrosos anos,
Passados a formar milhões de planos
De um dia regressar ao teto amigo!

A porta aberta em par... disse comigo:
“Vou surpreender lá dentro a mãe e os manos”.
Mas tudo era deserto! Em desenganos
Mudou-se-me a ilusão, meu terno abrigo.

O teto a desabar... o parque em calma...
Cinzas das coisas mortas, ruínas dalma,
A mim tal dor poupai por caridade...

Mesto chorei como Jesus no Horto,
Ali, à vista do passado morto,
O pranto de dez anos de saudade.

Niterói, 31-03-1922         Ismael Coutinho


Publicado no jornal Lira, em Resende, sem indicação de data.
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