Livro de Resumos
- 1a parteA AGONÍSTICA EM GONÇALVES DIAS
Amós Coêlho da Silva (UERJ)
Os antigos gregos eram dotados de espírito agônico, termo que é um grecismo, ligado a ‘agón’, concurso, e ao nosso agonia, o qual anota Aurélio Buarque de Hollanda [Do gr. agonía,’luta’], mas que a Medicina o deslocou com o sentido de os momentos que antecedem à morte. Este espírito agônico é simbólico heroísmo numa sociedade arcaica, como a dos helenos. Também o nativo brasileiro, na visão romântica de alguns poetas, fora dotado de espírito agônico. Situa-se o Romantismo entre o final do século XVIII e metade do XIX, está relacionado com as suas mudanças sociais e políticas de então. Surge, daí, uma atmosfera fomentadora dos sentimentos, bem como o retorno à natureza. Na Europa, revalorização da Idade Média e, por conseguinte, o ressurgimento do sentimento religioso. No Brasil, o Indianismo sustentou-se sob a égide do bom selvagem, ideal de Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778).Gonçalves Dias(1823 - 1864) focalizou o nosso nativo com o significado sugerido por Rousseau: o bom selvagem. E, na criação de um discurso nacionalista, se valeu, dentro dessa inédita realidade do Novo Mundo, do espírito agônico de nossas sociedades primitivas, quando fez o relato da proeza do bravo tupi, o qual fora capturado pela guerreira tribo dos Timbiras.
A AQUISIÇÃO DO SUJEITO PRONOMINAL EM CONTEXTO DE MUDANÇA: DADOS DE UM FALANTE DO INGLÊS APRENDENDO O PORTUGUÊS COMO L2
Ernani Machado Garrão Neto (UFRJ)
A análise aqui proposta tem por finalidade observar o comportamento do parâmetro pro-drop no processo de aquisição do português como L2 por um falante adulto do inglês. Consideraremos nesse estudo a hipótese de Duarte (1995), segundo a qual o português do Brasil (doravante PB) tem passado por um processo de mudança em que se verificam alterações na representação do sujeito pronominal. Tais alterações implicam a sua não-omissão categórica em contextos comuns às línguas [+] pro-drop como o espanhol e o italiano, o que nos leva a crer que o PB esteja perdendo, gradualmente, a sua capacidade de omitir fonologicamente o sujeito em certos ambientes sintáticos.
Mas o que se espera de um falante adulto do inglês (língua [-] pro-drop) aprendendo o português (língua [+] pro-drop) no Brasil? Com base nos resultados encontrados, pudemos concluir que há fortes indícios de que um aprendiz de L2 realmente reflete o input que recebe, no estágio final de aquisição (após a aquisição de flexão). Nosso informante, que tem como L1 o inglês e apresenta estruturas típicas desta fase do processo de aprendizagem do português (flexiona corretamente todos os verbos regulares para a 1ª e 3ª pessoas), apresentou em sua amostra de fala um índice de 27% de sujeitos nulos, enquanto o índice encontrado para o PB por Duarte (1995 - entrevistas com falantes de nível universitário) é de 29%. Resultados muito próximos que acenam para a confirmação da hipótese considerada.
A CANÇÃO DO TEMPO EM MANUEL BANDEIRA
UM ENFOQUE ESTILÍSTICO
Rosane Marins de Menezes (UERJ/UFF)
Considerando a importância do estudo da estilística da língua portuguesa, no que respeita à sua função de investigar todo “o aparato afetivo e emocional que caracteriza a expressividade do autor”, e, com isso, propiciar-nos um maior aprofundamento nos textos literários, buscamos neste trabalho desenvolver uma análise estilístico-literário do poema Canção do vento e da minha vida, de Manuel Bandeira.
Assim, por entendermos que o terreno da estilística é vasto e abrange todos os limites da gramática, procuramos abordar nesta análise os aspectos fônicos, morfológicos, sintáticos e semânticos do texto em questão, tendo como principal base teórica o trabalho do Prof. Dr. Ruy Magalhães de Araújo: A Estilística através dos Textos.
A análise literária do poema que procedemos à análise estilística, vem completar o enfoque entrando pelo enigma da simbologia literária existente no texto eleito, e, também, enfatizando o lugar de importância que Manuel Bandeira dá ao tempo, não só no poema estudado, como em toda a sua obra. Procuramos fundamentar essa análise literária na esteira filosófica de Heidegger, Sartre e outros pensadores que igualmente contribuíram com suas teorias, objetivando uma maior compreensão do ser e do tempo
A CONSTRUÇÃO DA FRASE LATINA SEGUNDO PRISCIANO
Airto Ceolin Montagner (UERJ/UNIGRANRIO)
A análise da frase latina em Prisciano baseia-se na oração minimamente constituída. A ausência da oposição sujeito e predicado não vem reposta pela noção de substância e acidente. A análise desloca seu foco para o constituinte. Entre o usus e a ratio, a opção pelo usus pulveriza as análises. Todavia, a originalidade de Prisciano está na sua abordagem da sintaxe como parte relativamente autônoma da gramática latina.
A CONTRIBUIÇÃO GRAMATICAL DOS ALEXANDRINOS, DOS SÁBIOS DE PÉRGAMO E A GRAMÁTICA LATINA
Amós Coêlho da Silva (UERJ)
Os modelos gregos dos estudos gramaticais. A iniciativa platônica é um elo para os estóicos, os quais admitem a origem da linguagem como natural, ‘phýsis’ e, por isso, uma imposição social, por isso a irregularidade, a anomalia; para Aristóteles, a linguagem tem por princípio convenção, ‘nómos’ ou ‘thesis’ e estaria sob o domínio da regularidade, analogia; são seguidores do Estagirita os filólogos de Alexandria. Quintiliano elucida como a pesquisa etimológica penetra em Roma. Os estudos etimológicos dos gramáticos latinos e, principalmente, de Varrão, uma fonte importante para a modernidade científica. Os estudos de Antenor Nascentes e de Émile Benveniste. Como poetas antigos e modernos retiram da etimologia energia e expressividade.
A CRÍTICA CONTEMPORÂNEA E OS NOVOS PARÂMETROS DA TEORIA LITERÁRIA
Geysa Silva (UFJF)
A crítica contemporânea revela uma nova diretriz da Teoria Literária, voltada agora para os Estudos Culturais, que abalam os cânones antes considerados como intocáveis. Assim, as produções das “margens” são hoje objeto de estudos acadêmicos, incluindo-se aí, não só a chamada cultura popular, como também a cultura que se torna presente através dos meios modernos de comunicação. Nesse contexto, a análise das Histórias em Quadrinhos (HQs) é realizada de maneira a salientar suas características verbais e figurativas, visto que esta é uma forma narrativa com singularidade tanto na diagramação da página como nos temas condutores da trama. Verifica-se uma grande preocupação com a religiosidade e com a violência, marcas de um tempo de incertezas, em que o homem se vê esquecido pelas instituições e recorre aos mistérios do sagrado para sentir-se menos abandonado. Outrora amaldiçoadas pela crítica e pela pedagogia, as HQs, no momento atual, deixam de ser mero divertimento para tornarem-se índices dos problemas que evidenciam uma época de mobilidade de valores e encenam a fragilidade da vida. Ao invés de “paraliteratura”, as HQs se apresentam como veículo de crítica social, apontando, em suas histórias, as mazelas de uma sociedade de consumo desenfreado e, simultaneamente, em suas imagens, as relações com a arte acadêmica, em especial com a pop-art.
A
EDIÇÃO DE TEXTO COMO PRESERVAÇÃO
DA CULTURA E DA HISTÓRIA DE UM POVO
José Pereira da Silva (UERJ)
“A tarefa básica dos filólogos consiste em salvar os textos da destruição material”, segundo Lausberg, que poderá ser realizada de três modos: através do magistério, em que o filólogo-docente repete a informação repetidamente até que seus discentes a guardem na memória; através da crítica textual, em que o filólogo-editor vigia para que o teor original dos textos seja preservado ou restabelecido, e através da busca de documentos inteiramente perdidos.
“A tarefa central dos filólogos consiste na conservação do sentido que se deve dar ao teor do texto”, continua Lausberg, visto que as alterações sociais, culturais, lingüísticas, econômicas e numerosas outras produzem certas dificuldades na interpretação do verdadeiro sentido dos textos mais antigos, motivo pelo qual o filólogo é convocado para prestar os seus serviços.
Cabe ao filólogo brasileiro, a preservação da cultura nacional e clássica através da língua, com prioridade na atividade de crítica de textos. Alguns trabalhos já realizados e outros em realização serão divulgados, tais como: as Questoens Apologeticas... do Pe. Manoel da Penha do Rosário, que defende o direito de cristianizar os índios em suas línguas; o Roteiro da Viagem... do Pe. José Monteiro de Noronha, que inicia a Historiografia Geográfica da Amazônia; os Autos da Devassa, que relatam a prisão dos Letrados do Rio de Janeiro; a Viagem Filosófica... de Alexandre Rodrigues Ferreira, com os relatos da única expedição científica do Brasil, no período colonial e a Obra Poética de Gregório de Matos etc., que traz os mais cruciais problemas da crítica textual e literária brasileira.
A EDIÇÃO DE TEXTOS MODERNOS
ALGUMAS
DIFICULDADES DE LEITURA
EM DOCUMENTOS DO SÉCULO XVIII
Gilberto Nazareno Telles Sobral (UFBA)
Sendo a edição de textos uma tentativa de resgate de aspectos sócio-culturais de um povo num determinado período, ela possibilita aos cientistas e ao leitor não especializado o acesso a um texto autêntico, livre das interferências da tradição. Quanto à edição de textos modernos, muitos são os problemas encontrados e que estão diretamente ligados à época em que foram escritos, devido ao grande número de abreviaturas encontradas, além das diferenças paleográficas e ortográficas entre a cursiva dos séculos XVIII e XIX da moderna. A partir da edição semidiplomática de um documento notarial da Comarca de Santo Amaro, do século XVIII, pertencente ao Acervo de Manuscritos Baianos da Universidade Federal da Bahia, foi realizado um levantamento das dificuldades de leitura supracitadas.
A EDIÇÃO DE TEXTOS NA BAHIA
Lucidalva Correia Assunção (UEFS)
Neste trabalho, traçaremos o panorama da edição de textos na Bahia, da década de 70 (criação do Grupo de Edição Crítica da UFBA) a 90. Para isso, identificaremos os modelos editoriais privilegiados e, conseqüentemente, as principais referências utilizadas pelo grupo supracitado nesses vinte anos, na prática da edição de textos literários modernos.
A ESTILÍSTICA DA FRASE
A EXTENSÃO DOS PERÍODOS E A FRASE INCOMPLETA EM INFÂNCIA, DE GRACIALIANO RAMOS
Marcelo da Silva Amorim (UERJ)
Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si, a sintaxe constitui o espaço, por excelência, mais apropriado à intervenção criadora, uma vez que pertence, a um só tempo, ao domínio gramatical e ao do estilo. Articulando o padrão sintático e a escolha lexical, o falante obtém a possibilidade de produzir um número infinito de frases compreensíveis. A sensibilidade artística, por outro lado, transgredindo os padrões sintáticos vigentes na tradição, amplia as potencialidades da criação, veiculando, no nível da organização frasal, a novidade dos valores expressivos por vezes surpreendente. Tomando a frase como unidade de comunicação, que exprime um sentido ou conteúdo, verificaremos como Graciliano Ramos utiliza esses desvios da norma preceituada pela Gramática para empreender criações com fins estilísticos. Aqui nos centraremos especialmente nos efeitos obtidos pelo jogo com a extensão dos períodos e das frases incompletas. Observaremos, assim, a preferência de Graciliano Ramos por períodos mais curtos, responsáveis pelo ritmo fluido e vivaz de sua prosa, bem como seu estilo econômico, simples e espontâneo. Ademais, examinaremos como suas frases incompletas furtam-se à análise convencional e exigem a compreensão de determinados dados contextuais, visto que a redução da estrutura lógica força a uma concentração do conteúdo nos termos expressos, simultaneamente realçando-os.
A ESTILÍSTICA DA FRASE E DA ENUNCIAÇÃO
Priscila Campos de Oliveira (UERJ)
Orientadora: Maria Antônia da Costa Lobo (UERJ/UCB)
Resultado de pesquisa destinada a avaliação acadêmica, esse trabalho aplicará a textos de João Ubaldo Ribeiro, Millôr Fernandes e Carlos Drummond de Andrade, os conceitos teóricos relativos à expressividade ligada à estrutura da frase, considerando-se principalmente o pleonasmo e a concordância ideológica.
Quanto à Estilística da Enunciação, serão observadas principalmente figuras retóricas como a ironia, o paradoxo e a hipérbole.
A ESTILÍSTICA DA PALAVRA
Carina Rejane Aprígio (UERJ)
Orientadora: Maria Antônia da Costa Lobo (UERJ/UCB)
Neste trabalho, em que o estudo estilístico será aplicado a textos de João Ubaldo Ribeiro, Millôr Fernandes e Carlos Drummond de Andrade, será estudada com especial cuidado a conceituação de léxico, assim como as palavras gramaticais, as tonalidades emotivas das palavras e as palavras evocativas.
No caso das tonalidades emotivas das palavras, serão destacados os sentimentos avaliativos relacionados a alguns afixos e as palavras de significado afetivo. E, em se tratando das palavras evocativas, serão considerados: os estrangeirismos, as gírias e, na linguagem figurada, o símile e a metonímia.
A ESTILÍSTICA E A SUA INTENÇÃO
Luci Mary Melo Leon (UERJ/UCM/UVA)
Aspectos estilísticos da Língua Portuguesa se nos apresente como um assunto complexo e controvertido, devido a sua imensa riqueza e pelo objeto de que se valem os aspectos expressivos de nossa língua que tanto aparecem nos lapidares textos de nossos grandes escritores quanto na expressão livre de nosso povo. Este tema toca no plano estético de nosso idioma e por meio dele podemos sentir as potencialidades demonstradas pelos grandes mestres da língua que tão magistralmente souberam criar e provocar emoção.A estilística não pode ser confundida como erro gramatical. O traço estilístico nasce na emoção de um escritor. É preciso sentir o espírito humano para entender a estilística. Para a estilística interessa o momento, o sentimento mais puro e a verdade do que se sente. O estilo é a transparência de um grande escritor.
A
EXPRESSÃO DA POLIDEZ NAS ENTREVISTAS
OS AGRADECIMENTOS
Leonor Lopes Fávero (USP)
O objetivo deste trabalho é estudar a linguagem da mídia, a partir da observação das relações interpessoais que se estabelecem durante entrevistas apresentadas pela televisão na cidade de São Paulo. Para tanto, são discutidas as propriedades identificadoras dos atos de agradecimento na atividade interacional, examinando-os não só como atos de polidez, mas também como estratégias empregadas durante a interação nos momentos em que o interlocutor sente sua face ameaçada. A orientação teórica corresponde às propostas de Brown e Levinson (1987), Kasper (1990), Kerbrat-Orecchioni (1997) e Leech (1983).
A
FALA NOSSA DE CADA DIA
Maria Emília Barcellos da
Silva(UFRJ)
O saber vocabular de um grupo sócio-língüístico e culturalmente
definido manifesta-se no léxico da uma língua com a finalidade de articular o
pensamento e as idéias dos falantes. O conhecimento partilhado que povoa a
consciência do usuário dá testemunho dos valores, das crenças, dos costumes,
dos modismos que viabilizam as convivências, configurando, assim uma verdadeira
janela através da qual o indivíduo divisa e revela o seu em-torno e a forma
como recorta o seu universo vivencial. É pela via lexical, ainda, que se
expressam as designações que rotulam, não raro de forma surpreendente, as
mudanças decretadas pelos caminhos e descaminhos da humanidade, ao mesmo tempo
em que se compõe o cenário em que se desenrola tanto a realidade circundante
quanto os fatos culturais que teceram a sua história: o homem e o mundo se
encontram no signo. A mobilidade lexical, característica das línguas vivas, concorre para
que as palavras e as expressões decorrentes dessa movência constante surjam,
desapareçam, percam, ganhem ou ampliem significações, de sorte a promoverem o
encontro marcado do falante com a realidade mundo bio-social que o acolhe. As mudanças lingüísticas em diferentes níveis, em especial as
concernentes ao léxico, configuram-se como ocorrências esperáveis, em tudo,
análogas às transformações históricas que traçam seus cursos também
dentro de certa previsibilidade. Abordam-se, nesta oportunidade, as mutações léxicas da fala cotidiana
do português brasileiro, cogitando-se da natureza das mudanças lingüísticas,
em sintonia com a inserção política, econômica do País.
A
FILOLOGIA NA LITERATURA
Rejane
Machado (UFRJ)
Objetivos
da ciência filológica são, principalmente, o estabelecimento e a explicação
dos textos literários, inserindo ou reinserindo o(s) autor(es) no seu ambiente
histórico, sendo a Filologia a possibilidade única de execução desse
projeto, para quem está esquecido pelo público.
Somente ela tem condições de estabelecer um texto fiel, colocando em
evidência o seu genuíno sentido, interpretando seu significado e, portanto,
revivendo para a modernidade um momento significativo e precioso do passado.
Chamamos à cena os respeitados juízos de filólogos como Leite de
Vasconcelos e Mattoso Câmara entre outros, para justificar nossa escolha.
Na reconstituição da obra e da vida do escritor Dias da Costa, tornado
ausente dos modernos compêndios de literatura, a Filologia se nos constituiu método
ideal e necessário.
A
FORMAÇÃO DO LÉXICO PORTUGUÊS
Castelar de Carvalho (UFRJ/ABF)
O léxico da língua portuguesa é constituído de vocábulos
pré-latinos, latinos e pós-latinos. Dentre os primeiros, destaca-se o substrato
celtibérico e grego. Do fundo comum
latino, há formações vocabulares semi-eruditas, erudidas e populares,
estas a maioria. Quanto às palavras pós-latinas, merece relevo a contribuição
brasileira de origem tupi e africana. Acrescentem-se algumas fontes modernas de
renovação lexical, sobretudo no Português do Brasil, tais como: o discurso
publicitário, os empréstimos, as gírias, siglas, abreviações, dentre outras.
A
GEOMETRIA DE TRAÇOS Jociney
Rodrigues dos Santos
(UNICAMP/UFRJ)
A
presente comunicação tem por objetivo apresentar a Geometria de Traços
desenvolvida por Clements (1985) a partir da Fonologia Autossegmental de
Goldsmith (1976), e sua aplicabilidade nas línguas naturais do mundo, aqui - as
LIBs (Línguas Indígenas Brasileiras).
A
pesquisa, aqui desenvolvida, caracteriza a tentativa de aliar a teoria à
representação prática desta, pois evidencia, a partir da Geometria de Traços,
alguns processos fonológicos que ocorrem nas línguas naturais do mundo.
A
IMAGEM DO FEMININO NOS DISCURSOS DA IGREJA MÓRMON Thaís Helena Silva
(UERJ) O trabalho tem por finalidade
analisar, dentro da perspectiva da Análise do Discurso de orientação
francesa, a configuração do ethos enunciativo nos discursos de A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, mais conhecida como igreja mórmon,
destinados às mulheres. O corpus desta pesquisa
é constituído por discursos proferidos por líderes da igreja mórmon nas
conferências gerais da igreja e publicados na revista A Liahona. A seleção do corpus
iniciou-se com o levantamento das edições da revista que continham os
discursos das conferências anuais da referida igreja. Dentre o material
recolhido, retiramos apenas aquelas edições que publicaram os discursos das
conferências anuais proferidos na reunião geral para as mulheres mórmons.
Assim, temos como material final de análise os discursos mórmons proferidos na
reunião geral das mulheres por ocasião das conferências gerais da igreja. As
edições selecionadas são aquelas publicadas no mês de janeiro, no período
de 1988 a 1998. A base de análise deste
trabalho será o conceito de ethos apresentado por Maingueneau (1997).
Para tal fim, as marcas lingüístico-discursivas que se revelam mais produtivas
são os conectivos argumentativos e os enunciados negativos. A
IRONIA A FAVOR DA CRÔNICA
UM
ESTUDO SOBRE A IRONIA Silvia
Oliveira da Rosa
(UERJ)
O
presente trabalho é parte de um estudo mais amplo, que trata do uso da ironia
em textos jornalísticos. Com base na teoria polifônica de Ducrot (1987), no
estudo sobre a heterogeneidade de Maingueneau (1997) e no trabalho de Brait
(1996) sobre a ironia, pretende-se explorar algumas marcas lingüísticas que
contribuem para a construção de efeitos de sentido de ironia.
Como
texto jornalístico é uma denominação que abarca diferentes qualidades
de texto, selecionamos um tipo específico: a crônica. Essa opção deve-se
principalmente à liberdade estilística desses textos, que não seguem normas tão
rígidas de confecção como a notícia, por exemplo. Dada a maior flexibilidade
de produção, o uso da ironia pode se fazer mais presente e, por vezes,
tornar-se marca própria do enunciador, como é o caso das crônicas Agamenon,
publicadas semanalmente em coluna do jornal O Globo.
Observando algumas crônicas desse personagem criado
pelos integrantes do grupo Casseta e Planeta, é possível notar que o
distanciamento do enunciador proporcionado pela ironia desconstrói o outro
e, sob a máscara do riso, traz a um texto de humor um forte cunho crítico,
muitas vezes não observado em textos pretendidos mais sérios. É trabalhando
essa dualidade do texto irônico - a brincadeira e a seriedade - que
objetivamos, ainda, observar de que maneira a ironia atua em relação ao outro
inserido nesse discurso.
A
LEITURA SÓCIO-INTERACIONAL NA SALA DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL E DO ENSINO
MÉDIO: ABORDAGENS TEÓRICO-PRÁTICAS
Sílvio Ribeiro da Silva (UFU/UFG)
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
A temática principal deste minicurso girará
em torno da questão da leitura no Ensino Fundamental e no Ensino Médio,
abordando-o e discutindo as formas de exploração do texto com objetivo de
chegar à sua compreensão através da construção do sentido.
Segundo as metodologias tradicionais de ensino de
leitura, a linguagem é um código, e o texto uma seqüência linear de palavras.
Baseados nessa concepção, os professores costumam centrar suas atividades de
interpretação textual em perguntas de compreensão literal cujas respostas
encontram-se explicitadas no próprio texto. Essa prática ocorre desde a
alfabetização até o ensino superior. Assim, o ato de ler se resume a uma decodificação
do sentido previamente estabelecido.
Com base na terceira concepção de linguagem, o texto
deve ser visto como uma totalidade semântica de natureza pragmática. Então, ele
passa a pressupor a existência de interlocutores, objetivos e circunstâncias
enunciativas dentre as quais estão dados de natureza não-lingüística, que são
imprescindíveis para a determinação do seu sentido.
Fundamentado na concepção mais abrangente de
linguagem, texto e leitura, o minicurso deverá proporcionar aos participantes
alternativas de tratamento metodológico que permitam superar a prática da
leitura apenas como decodificação e pretexto para o desenvolvimento de
atividades gramaticais, dando ao ato de ler a configuração de oportunidades de
desenvolvimento cognitivo e cultural.
Índice
A
LÍNGUA PORTUGUESA DO
BRASIL
Flora
Simonetti Coelho
(UERJ)
Tentar-se-á expor numa forma bem
clara a diferenciação básica entre a língua portuguesa do Brasil e a européia,
considerando-se: as vogais tônicas e pretônicas, os ditongos e grupos
consonantais e o ritmo natural da frase, que representam a ênfase fonética da
língua portuguesa da América.
No entanto, na morfologia e na
sintaxe são mínimas as diferenças entre essas duas variantes da língua. Na
morfologia, predomina na linguagem do uso familiar usada por pessoas menos
cultas, por exemplo, a eliminação dos -ss nos substantivos e adjetivos no
plural e nos verbos é a substituição pela terceira pessoa do singular em
todas as formas plural.
Na sintaxe, a ênfase acentuada
é a colocação do pronome átono, o uso do verbo ter em lugar de haver e o uso
do gerúndio depois do verbo estar. Enfim, podemos sintetizar estas típicas
diferenças com as mesmas palavras de Sá Pereira, no seu livro Brazilian
portuguese grammar, p. 114: “Aquilo que para o português não é natural
para o brasileiro é natural”.
A LÍNGUA PORTUGUESA FALADA
NO
BRASIL APRESENTA UMA UNIDADE SURPREENDENTE
Flavio
Ramos Vital
(UNAM)
O
preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi
criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Uma receita
de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido... também a
gramática não é a língua. Esse preconceito é um conjunto de afirmações
falaciosas que não passam de mitos e fantasias que qualquer análise mais
rigorosa não demora a derrubar.
Quando falamos da unidade da Língua Portuguesa, percebemos aspectos de
um dos maiores preconceitos lingüísticos. Ele está tão presente em nossa
cultura que até mesmo intelectuais de renome, pessoas de visão crítica e
geralmente boas observadoras dos fenômenos sociais brasileiros, se deixam
enganar por ele.
A
MÃE DE UM RIO: UM LOGOS
FEMININO
Tatiana Alves Soares
(UNESA
/ UniverCidade)
Agustina Bessa-Luís, considerada um dos
expoentes da literatura portuguesa contemporânea, apresenta em sua produção
literária um redimensionamento dos cânones instituídos, numa revisão de
valores que inclui uma renovação lingüística.
O presente trabalho estabelece uma análise
do conto A mãe de um rio a partir de seus aspectos lingüísticos, ao
pensar a polissemia de palavras-chave, como água, mãe e alma,
recorrentes na obra. Com base no
levantamento de elementos morfológicos, sintáticos e lexicais, nosso estudo
enfoca a relação significante/significado realizada por Bessa-Luís como eixo
estruturador da narrativa em questão.
A MODERNIDADE
DA GRAMÁTICA HISTÓRICA
Manoel
Pinto Ribeiro
(UERJ)
O
estudo diacrônico infelizmente vem sendo desprezado em nossas universidades. As
cargas horárias estão reduzidas, num flagrante desinteresse pela matéria.
Trata-se de uma atitude radical que acarreta um despreparo de nossos graduandos
em Letras. Os modismos nocivos trazem como conseqüência uma visão deformada
do fenômeno lingüístico em toda a sua extensão. Pretendemos, nesta
mesa-redonda, demonstrar que, longe de ser um assunto que traria enfado ao
estudante, a história da língua se torna extremamente agradável. Todos os que
se interessam pelo aspecto lexicográfico, verbi grafia, terão
oportunidade de perceber, com o estudo diacrônico, o porquê de termos um só
vocábulo latino originando vários na língua portuguesa. Ou, então, vários
termos, principalmente latinos, gerando um só vocábulo em português com
diversas acepções. Isto nos é proporcionado pelo estudo das formas
divergentes e convergentes.
Os
aspectos fonéticos e fonológicos que motivaram as transformações do latim
vulgar para o português também serão dignos de registro nesta palestra.
A NATUREZA DA LÍNGUA DO BRASIL E SUA LIGAÇÃO COM A
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NO SÉCULO XIX
Confrontar concepções de linguagem, leitura e texto.
Conhecer os pressupostos básicos da concepção
sócio-interacional de leitura.
Caracterizar o leitor proficiente.
Analisar, discutir e produzir modelos e instrumentos
de avaliação da competência leitora.
Lygia Maria Gonçalves Trouche
(UFF)
Discussão do pensamento de literatos e eruditos
oitocentistas sobre questões da língua portuguesa no Brasil recém-independente,
focalizando especialmente as idéias
lingüísticas de alguns de nossos escritores sobre a implantação da
língua portuguesa como língua de cultura no Brasil e sua vinculação ao ideal de
constituição da identidade nacional, no século XIX
– momento especialmente
fértil para o desenvolvimento desta questão, tanto pela independência política
do Brasil como pelo predomínio, durante certo tempo, do pensamento romântico.
Análise das diferenciações do português do Brasil em
relação a Portugal, em busca de filiações de sentidos sobre a relação língua,
nação e poder, cujos reflexos se insinuam ainda hoje, no Brasil.
A
NATUREZA PSICOLINGÜÍSTICA Lêda
Pires Corrêa
(PUC-SP)
Este
trabalho situa-se no campo da produção textual-discursiva e trata dos
processos coesivos examinados à luz da Lingüística Textual numa interface com
os estudos da Lexicologia. Tem-se por objetivo contribuir para o desenvolvimento
dos estudos existentes sobre a coesão textual, concebendo-a a partir da designação;
privilegia, assim, o agenciamento de sentidos construídos nas dimensões intra
e interlexical, visto que a primeira, implica a seletividade
de itens lexicais que possibilitam a reconstrução da representação
conceitual do referente, por processos
de designação e, a segunda, resulta de relações interlexicais que, por
movimentos de expansão e condensação, garantem o princípio da elasticidade
do discurso, propiciando a estabilização de uma porção do saber enciclopédico.
Tem-se
por pressuposto que a coesão imbricada à coerência, à situacionalidade, à
intencionalidade, à aceitabilidade, à argumentatividade e à intertextualidade
responde pela produção da textualidade: conjunto de características que faz
com que um texto seja assim concebido e não como um conjunto de palavras, de
frases ou seqüências de frases (cf. Beaugrande & Dressler, 1984).
Entende-se, pois, a textualidade como um traço e/ou marca inerente à linguagem
humana que possibilita a construção de textura para os enunciados e para as
seqüências de enunciados.
Examinada pelo enfoque lexicológico,
a coesão nos quadros da Lingüística Textual de vertente cognitiva e sócio-interativa
pode ser concebida como um fenômeno de natureza psicolingüística e não de
natureza estritamente lingüística, como é tratada por muitos estudiosos da área.
Sabe-se que a coesão, segundo
seus estudiosos, dá-se parcialmente através da gramática e parcialmente através
do léxico. Todavia, observa-se que o tratamento dispensado ao léxico reduz-se
tão somente ao nível formal. Neste sentido, faz-se necessário adequar a
concepção de universo lexical aos pressupostos teóricos da Lingüística de
Texto no momento atual.
A ORGANIZAÇÃO DAS
ENTREVISTAS: Zilda
Gaspar Oliveira de Aquino(Univ.
de Taubaté / Fac. Oswaldo Cruz)
O trabalho investiga a organização das entrevistas, destacando o papel
dos agradecimentos nessas interações discursivas. Será examinada a reação
dos interlocutores aos atos de agradecimento, observando sua utilização estratégica
que deriva da necessidade de salvaguardar a face.
As propostas apresentadas correspondem às teorias de Brown e Levinson
(1987), Kasper (1990), Kerbrat-Orecchioni (1997) e Leech (1983) e o corpus
compreende entrevistas transmitidas pela televisão.
A
PALAVRA DA CULTURA (RELIGIOSA) Mara Conceição Vieira de
Oliveira (UFJF)
Em nossa cultura, o discurso religioso exerce seu
poder, quase sempre, através de uma ação assumidamente pedagógica, ou seja,
através da utilização da palavra, que servirá de instrumento controlador.
Consubstanciada na fé, a palavra deste discurso se apresenta cada vez mais soberana
e inquestionável, delineando o dogmatismo das religiões. A partir deste
discurso religioso muitos homens constroem sua vida espiritual e outros sua
própria inspiração poética.
Consistirá, portanto, como problema teórico abordado
por este estudo avaliar a intencionalidade presente no discurso religioso e
como o conceito de um ente supremo é uma idéia útil sob muitos pontos de vista.
Tais discussões dar-se-ão, principalmente, a partir das leituras de Emmanuel
Kant e Michael Foucault.
A
PAUSA E A ORGANIZAÇÃO TEMPORAL Lilian
Coutinho Yacovenco
(UFES)
O
presente trabalho, partindo de uma análise experimental, com base no Programa
Computacional CECIL, que fornece os parâmetros acústicos de duração, freqüência
fundamental e intensidade para as estruturas lingüísticas produzidas, pretende
demonstrar algumas diferenças prosódicas entre as falas feminina e masculina,
enfatizando o estudo da pausa (seus tipos, sua duração e localização sintática)
e a organização temporal do discurso.
Parte-se
da premissa que o discurso feminino seja mais
fluente que o masculino, posto que possuiria um número menor de pausas e seqüências
fônicas mais longas. Segundo John Laver (1994), a fluência discursiva está
relacionada não apenas à presença de pausas no discurso, mas também à sua
distribuição sintática: pausas situadas nas fronteiras de constituintes não
prejudicam a fluência discursiva, ao passo que as localizadas em seu interior
comprometem tal fluência.
Para
a realização do presente estudo, analise-se a linguagem natural,
utilizando-se, para tanto, seis inquéritos do Projeto NurC.
É
intenção desse trabalho enfatizar os estudos prosódicos, em geral, e a pausa,
em particular, como essenciais nos estudos lingüísticos, servindo, inclusive,
de base para análises sintático-discursivas. O presente estudo objetiva
apresentar a pausa como elemento discursivo-rítmico na estruturação de
enunciados e na análise discursivo-pragmática da linguagem, podendo ser
utilizada como elemento diferenciador dos gêneros masculino e feminino.
A
PONTUAÇÃO EXPRESSIVA Anete
Mariza Torres Di Gregorio
(UERJ)
O
nosso estudo visa a refletir sobre o estatuto lingüístico da pontuação,
enquanto sistema de signos complementares à informação alfabética de nossa
escrita. No sistema gráfico do português, como sistema plantado na confluência
dos domínios oral e escrito, a pontuação é examinada em sua complexidade e
contradições. Procuramos cotejar os conceitos sobre a pontuação e os critérios
adotados para seu emprego por alguns gramáticos, dividindo-os em dois grupos:
um que associa pontuação à oralidade e outro que relaciona a pontuação à
Sintaxe e à Semântica. Inserimos, enfaticamente, a visão de alguns estudiosos
do Campo da Estilística. Buscamos analisar não só as propriedades e funções
da pontuação – à luz de fundamentos lingüísticos – mas também abordar,
brevemente, seus aspectos gráfico-espaciais, focalizando o problema da paginação.
Pretendemos mostrar que como os demais signos lingüísticos, os “sinais” de
pontuação são formados por um significante (o pontuante) e um significado (o
pontuado), podendo o mesmo significante ter diversos significados.
O ato de pontuar é cercado do mesmo mistério que envolve a linguagem em
situação e, consiste, basicamente, em sua função de “pôr em cena”,
permitindo-nos apresentar na escrita uma autêntica expressão corporal, capaz
de revelar ou ocultar nossas intenções. A leitura do livro Fazendo Ana Paz,
de Lygia Bojunga, instiga o leitor a descobrir a pontuação como um dos
recursos lingüístico – expressivos que caracterizam o seu estilo. A autora
rompe com a clausura gramatical, usando os signos de pontuação como
elementos de sua arte, dispondo-os de forma pitoresca a fim de colorir o
universo de sua obra e reger a sinfonia de nossas sensações.
A
REPRESENTATIVIDADE
DO LOCUTOR-JORNAL NA ENTREVISTA: ESTRATÉGIAS PRAGMÁTICAS NA
ENUNCIAÇÃO DE O GLOBO E DO JORNAL DO BRASIL
Maria
do Rosario Roxo
(USP)
Pretende-se estudar a representatividade do locutor-jornal no contexto
discursivo em que se encena o gênero entrevista nas páginas dos jornais O
Globo e do Jornal do Brasil, jornais de publicação diária no
Estado do Rio de Janeiro. Na
perspectiva da pragmática, os atos da linguagem engendrados pelo locutor são
construídos não para transmitir conteúdos representativos do cotidiano, mas
para valorizar a imagem da instituição jornalística, abafando, portanto, as
ameaças que possam desvalorizar seu lugar de reconhecimento no mundo de
discursos. A ação do
locutor-jornal se configura como entrevistas.
Desta maneira, tomar-se-á o estudo de Maingeneau (1996) acerca dos
mecanismos da pressuposição e do discurso relatado como um trabalho que valida
o dizer e os sentidos em cada ato enunciado pelo locutor-jornal (LJ).
A
TRADUÇÃO DIANTE DAS VARIAÇÕES Amarilis Gallo Coelho
(UFRJ)
Constantes e variantes compõem uma língua: dialetos,
falares regionais e gírias. Enfim,
registros lingüísticos de diversos grupos sociais se definem, em contraposição
a uma “norma”, pelo uso coloquial e popular, dentro da tradição
sociolingüística de cada cultura.
Na tradução, portanto, levando-se em conta
determinados índices, não fazemos somente a trans-codificação de um sistema (L1)
a outro (L2). Para que não se
percam conotações fundamentais, representativas de elementos extra-textuais,
devem ser utilizados todos os mecanismos ao alcance, para que a intenção
original e criadora da LP (língua de partida) seja compreendida em toda a sua
carga de significação na LC (língua de chegada).
Muitas vezes, inclusive, tornam-se necessárias
traduções internas, ou seja, dentro da própria língua, para que sejam mantidas
e valorizadas, diferentes “visões de mundo”, que, apesar de estarem no mesmo
espaço geográfico, são retratadas por inúmeras variantes
sociolingüísticas. Estas variantes não
podem ser excluídas simplesmente durante o processo de tradução, mas, ao
contrário, esclarecidas da melhor forma possível, em seu conteúdo e finalidade.
A TRADUÇÃO DO DISCURSO DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA SOB A ÓTICA DA METÁFORA
Hulda
Chaves Lenz Cesar
(UECE)
O interesse sobre a metáfora vêm sendo intensificado e
discutido sob uma nova perspectiva ao longo dos últimos vinte anos, após os
estudos de Lakoff & Johnson (1980) com a publicação do livro Metaphors
We Live By. Até então considerada como mera figura de linguagem, a metáfora
ultrapassou os limites da análise do discurso literário, onde durante séculos
fora assim classificada, passando a ser considerada agora como uma figura de
pensamento. Lakoff & Johnson têm mostrado que a metáfora está de tal modo
inserida na cognição humana que se torna quase impossível deixar de usá-la
para expressar o que desejamos transmitir. Até mesmo o discurso científico
especializado, considerado como conciso, objetivo, formal e neutro, quando
analisado de perto, apresenta notável incidência de metáforas. A necessidade
de divulgar para um público amplo e diversificado matérias científicas e
tecnológicas, até então restritas a círculos especializados, levou à
necessidade de um discurso dirigido a um público leigo, não especializado e
diversificado, com características próprias, um misto do texto especializado
com a linguagem jornalística. A crença de que, em tais discursos, não são
encontradas metáforas, leva muitas vezes os tradutores a usarem estruturas
diferentes daquelas apresentadas nos textos originais, perdendo a riqueza de
seus significados e intencionalidades. No presente trabalho, objetivamos
analisar traduções do discurso jornalístico de divulgação científica, em
português e inglês, tendo como objeto de observação as construções metafóricas
subjacentes.
A VARIAÇÃO
ENTRE AS FORMAS DE FUTURO DO PRESENTE NO
PORTUGUÊS FORMAL E INFORMAL FALADO NO RIO DE JANEIRO
Josete Rocha dos Santos (UFRJ)
O
presente estudo analisa o uso das formas variáveis de futuro do presente no
português formal e informal falado no Rio de Janeiro. Baseando-nos na Teoria da Variação (Labov, 1972) e no
Funcionalismo Givoniano, apontamos as diferentes variáveis relevantes para o
uso de uma ou outra variante.
A
pesquisa incide na alternância entre as três formas de realização de futuro:
futuro sintético (-rei); futuro
perifrástico (IR + V); presente
(forma simples). Foram coletadas
1872 ocorrências ao utilizarmos a amostra formal contendo entrevistas do
programa "Encontro com a Imprensa", na extinta Rádio Jornal do
Brasil, e a amostra informal baseada em entrevistas com falantes cariocas de
diversas faixas etárias e escolaridades. Constatamos
que o futuro sintético (-rei) tende
a desaparecer em contextos orais informais.
ACEITAÇÃO
E/OU REJEIÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA NA LITERATURA INGLESA DO SÉCULO XX
Sueli
Rodrigues Andrade
(UERJ) ACERCA
DA DINAMICIDADE LEXICAL E DO DINAMISMO CULTURAL
Vito Cesar de Oliveira Manzolillo
(UFRJ/CiFEFiL)
Nos dias que correm, trabalhos concernentes ao léxico
indubitavelmente constituem vastos campos de pesquisa à disposição dos
estudiosos.
Características indiscutíveis dos tempos atuais, a
constante ebulição nas ciências e nas técnicas – com o aparecimento de novos
produtos e objetos e o aperfeiçoamento dos já existentes – e a variada gama de
modificações nos costumes e nos relacionamentos refletem-se diretamente nos
léxicos das línguas modernas.
Propriedade intrínseca do léxico é justamente sua
mobilidade, isto é, sua capacidade de transformação ao longo do tempo,
caracterizada tanto pelo surgimento quanto pelo desaparecimento de itens.
Por dizer respeito basicamente à realidade extralingüística,
o vocabulário encontra-se sujeito a todo tipo de variação apresentada pelo
mundo biossocial, deixando transparecer a visão de mundo – também ela mutante –
da comunidade que o partilha.
Mais do que uma reunião de elementos reais, efetivos,
o léxico constitui um conjunto de virtualidades, ou seja, sua capacidade de
ampliação constante já está prevista em sua própria estrutura interna.
Relativamente aos sistemas lingüísticos, as formas
mais corriqueiras de mutação são aquelas devidas a aquisições e a perdas
vocabulares. O estudo dessas mudanças, além do interesse estritamente
lingüístico desperta igualmente o sociológico, uma vez que permite analisar as
transformações histórico-sociais por que passam os grupos humanos bem como as
influências culturais por eles sofridas ao longo do tempo.
ADA
NEGRI E A SOBREDETERMINAÇÃO EM SUA OBRA
A
AGRESSÃO DAS PALAVRAS
Leda
Papaleo Ruffo (UFRJ)
A
obra da escritora italiana Ada Negri centraliza, no conto (em italiano, “novella”)
Il posto dei vecchi (O lugar dos velhos), sua posição de mulher
do final do século XIX início do XX.
Feliciana,
protagonista da “novella”, casou-se contra a vontade e encarna na trama a
lutadora que se apoiou sempre na sentença de que “o inútil deve morrer”.
Misto de figura heróica e lírica, Feliciana era a irmã de todas as mulheres
do mundo, de suas “sorelle”, enfrentando tudo com a sentença: “bon dì
miseria, non mi fai paura” “(bom dia miséria, você não me mete medo)”.
Sua luta era alimentada pela prece e pela primavera e suas palavras, de
tonalidade agressiva, visavam a refletir – em especial, denunciar –
a situação subalterna da mulher de seu tempo. Pretendo, neste artigo, apontar as teias da interpretação do texto Il
posto dei vecchi construído em ambígua linguagem reveladora da dupla
interpretação suavidade/agressividade.
ALGUNS
ASPECTOS DA LÍNGUA PORTUGUESA Fátima Helena
Azevedo de Oliveira (UFRJ)
O presente estudo
objetiva verificar em produções orais de informantes moçambicanos componentes
conhecidos na literatura de Análise Conversacional sob a denominação de
Marcadores Conversacionais, que conferem à Língua Portuguesa (doravante LP) uma
identidade africana. Como ilustração,
cita-se o caso da categoria "lá" que passa de definida para categoria
de marcador discursivo: "eh, lá dos tempos de, de Ngungunhana, eh, que
eram muito, a gente gostava muito de, de, de, de acompanhar essas
histórias." (Meninice na Machamba – Moçambique – Maputo, 1986, sexo-M, 21
anos)
O elemento
"lá" passou de indicador de espaço para marcador de tempo.
Por ter lecionado LP em Moçambique durante seis anos,
foi possível levantar casos variados de procura de identidade da Língua,
enquadrando-a no ambiente africano.
E
AS LÍNGUAS INDÍGENAS BRASILEIRAS
EM
TEXTOS JORNALÍSTICOS
Vinícius Henrique Araújo Carvalho (UFG)
Kelly Cristine (UFG)
Nataniel
dos Santos Gomes (UNAM)
DA
COESÃO TEXTUAL
A
REAÇÃO AOS AGRADECIMENTOS
E
O PODER DISCIPLINAR
DOS
DISCURSOS MASCULINO E FEMININO
NA
NARRATIVA DE LYGIA BOJUNGA
DO
CÓDIGO LINGÜÍSTICO ITALIANO
Maria
Cristina Gariglio Stark
(UERJ).
E sta comunicação pretende salientar as manifestações de aceitação
ou de rejeição da cultura brasileira, encontradas em obras de literatura
inglesa do século XX. Dos romances
e contos pesquisados, alguns são de cunho ficcional e outros narram experiências
dos próprios autores, quando estiveram de passagem pelo Brasil. Análise comparativa tem por base as visões – às vezes
semelhantes, às vezes divergentes – desses autores e examina criticamente a
ausência de conhecimento apropriado da nossa cultura e o preconceito decorrente
dessa falta de informação.
EM
MOÇAMBIQUE