Livro de Resumos - 2a parte


ALTERIDADE NA MÍDIA IMPRESSA: O DISCURSO IRÔNICO DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Roberto Carlos da Silva Borges (UERJ)

Este trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla que pretende analisar as marcas lingüísticas presentes em textos da autoria de Luís Fernando Veríssimo para compor o humor e a ironia.

Aqui, trabalhamos, especificamente, com a ironia e, para isso, partimos dos estudos de Brait (1996) e Maingueneau ( 1997), segundo os quais a ironia configura-se como uma voz que expressa um ponto de vista insustentável, diferente da ótica do locutor. Ele assume as palavras, mas não o ponto de vista que elas representam. Isto se faz ver, nos textos analisados, através da heterogeneidade mostrada, especificamente com o discurso relatado e a polifonia.

Mostramos que a ironia pressupõe a existência de um destinatário hábil em desvendá-la. Caso o receptor da mensagem irônica não seja capaz de decodificá-la como tal, a mesma perde o sentido.

O corpus do trabalho é composto por três cartas/crônicas, intituladas “Outra carta de Dorinha”, onde aparece a personagem “Dora Avante”, uma “socialite socialista”, que é uma espécie de caricatura das “socialites” brasileiras e clichê de nossa elite.

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ALUNOS DE CIÊNCIAS EXATAS NÃO SABEM LER
DESMITIFICANDO UMA IDÉIA

Adriana Franco Petroni (Unesp/Fapesp)
Marcos Lúcio de Sousa Góis
(USP/Unimauá/Unesp)

O objetivo principal desta comunicação é mostrar resultados preliminares de como alunos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC – USP) encaram a importância do ato de ler, aplicando, para isso, um questionário moldado na Pesquisa Piloto, desenvolvida pela ALB (Associação de Leitura do Brasil). Esses resultados fazem parte de uma pesquisa maior, que, com base principalmente nas posições de Roland Barthes (1987) e José Morais (1996), pretenderá averiguar como se processa a leitura em cursos de ciências exatas. Para isso, pretendemos investigar de que maneira estudantes de um centro de tecnologia (O campus da USP, na cidade de São Carlos), das áreas de Computação, Engenharia, Física, Química e Matemática, encaram o ato de ler também para a ampliação lexical, para o conhecimento da Língua Portuguesa, para a concatenação do pensamento, para a cidadania, etc. Essa pesquisa justifica-se por dois grandes motivos: primeiro, porque durante muito tempo cristalizou-se, e ainda se cristaliza, a idéia de que estudantes das áreas de exatas não gostam de ler e/ou escrever, e por isso são menos críticos do que alunos da área de humanas. Segundo, com a quantificação dosdados obtidos com a pesquisa, pretende-se, em um segundo momento, pensar em soluções para que, em cursos de tecnologia, a leitura seja trabalhada de maneira a proporcionar ao leitor desses cursos "múltiplos prazeres.

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AMPLIAÇÃO DO USO DO GERÚNDIO
NA LÍNGUA PORTUGUESA

Jaciara Ornélia Nogueira de Oliveira (UNEB/UCSAL)

Em oposição à variedade relativamente rica de formas verbo-nominais do latim clássico, o latim vulgar e, conseqüentemente, as línguas românicas, utilizava um número bastante reduzido. Dentre essas formas sobreviventes, destaca-se o gerúndio, conservado em sua forma ablativa.

A partir de uma breve exposição sobre o emprego do gerúndio no latim e de sua evolução para a língua portuguesa, pretende-se observar, num plano histórico-comparativo, a amplitude do uso dessa forma verbo-nominal na língua portuguesa, enfatizando a ampliação do seu emprego no contexto contemporâneo do português brasileiro.

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ANA MARIA MACHADO

OS EFEITOS EVOCATIVOS
COMO DEFLAGRADORES DE SENTIDOS PECULIARES

Maria Teresa Gonçalves Pereira (UERJ)

A oportunidade de unir o prazer (estético) ao saber (ortodoxo) nos leva — sempre que desejamos ressaltar as qualidades de um autor-artesão — a escolher a abordagem estilística para tal. Ana Maria Machado, detentora do Hans Christian Andersen, uma espécie de Nobel da Literatura Infanto-Juvenil pelo conjunto da obra, preenche essa classificação pela excelência de seu texto. Escolhemos dentre seus muitos e instigantes recursos expressivos para desenvolvermos nosso trabalho os efeitos evocativos representados pelos estrangeirismos, arcaísmos, eruditismos, indianismos, africanismos e brasileirismos. Muitas palavras devem a sua expressividade e o seu efeito emotivo às associações que despertam, levando-as a transportar o leitor ao clima estilístico a que normalmente pertencem. A autora em questão revela-se exemplo incontestável de como um texto simples, claro e objetivo pode ser consistente e profundo em sua manifestação lingüístico-artística plena.

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ANÁLISE DE DISCURSO

UMA SEMÂNTICA DA INCLUSÃO

Manoel Ferreira da Costa (UERJ)

Até Bakhtin, havia duas tendências básicas do pensamento lingüístico: o objetivismo abstrato e o psicologismo idealista.

O primeiro entende a língua como um sistema fechado, como uma expressão algébrica em que a mudança de um elemento altera todo o sistema. O estudo desse objeto está a cargo da Lingüística da Langue. O segundo concebe a língua como uma manifestação da parole de um indivíduo isolado. O estudo desse objeto está a cargo da Estilística.

Ao propor a língua como manifestação de uma enunciação, Bakhtin introduziu três elementos nos estudos lingüísticos, excluídos dos estudos semânticos anteriores: o sujeito (indivíduo socialmente organizado), o objeto (em um contexto imediato) e a história.

A Análise de Discurso (AD) é justamente uma semântica da inclusão. Se o texto é uma unidade sígnica, seu sentido não se define apenas internamente, mas é determinado também pelas condições externas de sua produção. Condições que regem as formações discursivas e ideológicas que ditam quem pode dizer, para quem, o que se pode ou não dizer, quando e como. Na esteira de Bakhtin de que o "centro organizador de todo ato de fala não é interior, mas exterior", a AD constitui um poderoso instrumento de análise da leitura do mundo e dos efeitos de sentido de um determinado ato de fala no qual se podem detectar as marcas lingüísticas das ilusões dos sujeitos e dos silenciamentos de determinados sentidos.

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ANÁLISE DE REGISTROS DE PONTUAÇÃO EM ARTIGOS PUBLICADOS EM REVISTAS ESPECIALIZADAS

Bruhmer Cesar Forone Canonice (UEM)
Ricardo Cavaliere
(UFF)

O texto As Idéias Lingüísticas no Brasil busca levantar as fontes estrangeiras em que se inspiraram os estudos filológicos e lingüísticos brasileiros desde os decênios finais do XIX, quando se instala em nosso cenário acadêmico a pesquisa científica do fato gramatical, até os últimos decênios do século XX, período em que vários modelos de investigação são importados dos grandes centros de pesquisa estrangeiros.  A leitura dos textos sobre língua vernácula produzidos no Brasil ao longo desse grande lapso cronológico revela sensível predominância das escolas européias como fonte de inspiração teorética, com ênfase nas vertentes alemã, inglesa e francesa, com posterior contributo dos paradigmas da Lingüística norte-americana, sobretudo na segunda metade do século XX. Hão de distinguir-se, por sinal, para a correta avaliação do fato, dois aspectos relevantes do tema: a tese doutrinária e a fonte bibliográfica que a divulga. Não obstante ambos os aspectos se integrem como faces de uma mesma moeda, não se pode confundi-los, dado o distinto papel historiográfico que compete a cada um. Com efeito, a influência doutrinária se define como o aparato teórico de que se serve o pesquisador para descrever os fatos gramaticais de dada língua, não sendo raro que teses oriundas de doutrinas diferentes se irmanem neste afã descritivo. Já a fonte bibliográfica é a obra aonde vai o pesquisador colher esta informação científica, o que implica, em última análise, ser o ponto de contato direto ou imediato que o pesquisador de língua vernácula mantém com as teses doutrinárias. Deve-se salientar que a importação de modelos estrangeiros em nossos estudos lingüísticos, nem sempre criteriosa, é combatida por muitos historiógrafos por resumir-se a vício servil, que inibe o surgimento de teóricos da linguagem em nosso cenário científico. O texto As Idéias Lingüísticas no Brasil, nos limites de sua pretensão, busca avaliar esse fato e projetar as perspectivas da Lingüística como ciência no Brasil do século XXI.

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ANÁLISE DO DISCURSO E ALTERIDADE

Décio Rocha (UERJ)

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a produtividade de um enfoque discursivo no tratamento de diferentes práticas de linguagem, sendo conferida ênfase especial à noção de heterogeneidade discursiva. Tomando como ponto de partida o princípio da alteridade discursiva, serão apresentadas algumas das marcas lingüístico-discursivas que vêm servindo de base para a apreensão do outro em diferentes discursos, sendo explicitada, desse modo, a relevância do quadro teórico formulado pela Análise do Discurso de linha francesa. A referida abordagem teórica serviu de base para a disciplina de Análise do Discurso ministrada por este pesquisador, em parceria com a professora Maria Cristina Lírio Gurgel, no segundo semestre de 2000, no Programa de Pós-graduação em Letras (área de concentração Lingüística) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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ANÁLISE DO TEMPO FUTURO
A VARIAÇÃO EM TEXTOS ACADÊMICOS

Adriana Gibbon (UFSC)

Neste trabalho faço um controle estatístico de três formas verbais de representação do tempo futuro: presente do indicativo (Viajo amanhã para o Rio), futuro do presente (Viajarei amanhã para o Rio) e forma perifrástica (Vou viajar amanhã para o Rio). O corpus analisado é de textos acadêmicos escritos, do gênero teses e dissertações, de áreas diferentes. Nesse tipo de texto é comum a presença de contextos que propiciam a expressão do futuro na introdução do trabalho e nos parágrafos iniciais de cada seção, nos quais o usuário da língua flutua entre as três variantes citadas acima. Minha hipótese é de que sua escolha pode estar condicionada por fatores de natureza formal, sendo imposta pelo próprio tipo de texto produzido; ou de natureza pragmática, envolvendo a modalidade da qual o autor lança mão, exteriorizando sua atitude/avaliação relativamente ao que escreve. Proponho grupos de fatores para controlar tais contextos, que podem estar favorecendo uma e/ou outra forma nesse tipo de texto. Os dados coletados recebem um tratamento estatístico através do programa VARBRUL.

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ARTICULADORES TEXTUAIS NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL (E, MAS, AÍ, ENTÃO)

Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)

Este trabalho analisa o comportamento textual-discursivo dos articuladores textuais e, mas, aí, então e suas combinações, além da expressão edaí, em narrativas infanto-juvenis de autores brasileiros, como Ziraldo, Lygia Bojunga Nunes, Ana Maria Machado. Pretende-se questionar como a coordenação interfrástica é tratada na descrição tradicional, que freqüentemente generaliza a classificação desses elementos como conectivos coordenativos, advérbios ou mesmo “palavras denotativas”, desconsiderando seu papel de articulação dos textos.

Trabalha-se com a hipótese de que esses articuladores, no corpus, exercem prioritariamente um papel textual-discursivo, diferente do que apontam manuais didáticos e gramáticas da língua portuguesa. Busca-se estabelecer um critério para analisar e classificar tais articuladores, compreender sua função textual e identificar de que maneira a ocorrência dessas estruturas colabora para a progressão das narrativas infanto-juvenis. Observam-se também alguns aspectos referentes à pontuação utilizada nos livros infanto-juvenis e o encadeamento lógico-narrativo dos segmentos discursivos.

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AS APÓSTROFES AO LEITOR EM ESAÚ E JACÓ

Henriqueta do Couto Prado Valladares (UERJ)

Machado de Assis, em muitos de sues textos literários (crônicas, contos ou romances), dirige-se aos leitores de diversas maneiras: à leitora amiga, ao amigo leitor, ao leitor atento, ao leitor curioso.

Estas apóstrofes aos leitores são indispensáveis para entendermos não só as diferentes recepções do texto literário, como também outras notações importantes para traçarmos o ideário estético de Machado de Assis.

Em Esaú e Jacó, notamos que as apóstrofes às leitoras consistem em críticas às atitudes recorrentes da recepção literária. As expectativas pré-estabelecidas ao texto amarram-no a sentidos previamente traçados por este tipo de leitor. É o que nos revela este trecho do capítulo XXVII de Esaú e Jacó: “O que a senhora deseja, minha amiga, é chegar já ao capítulo do amor, ou dos amores, que é o seu interesse particular nos livros”.

Há, por outro lado, outros leitores que, para Machado de Assis, são aqueles que não pré-existem às obras, mas vão sendo construídos nela e por ela; uma espécie de “leitor modelo”, convidado a ajudar o autor na própria elaboração da obra ficcional.

Os diversos exemplos de apóstrofes, destacados no romance em tela, servirão ainda para o estudo de aspectos histórico-sociais da época de transição entre a Monarquia e a República no Brasil, tempo da história em Esaú e Jacó.

O levantamento e análise de apóstrofes aos leitores na obra contribuirão ainda pra a apresentação de questões crítico-teóricas, potencializadas e problematizadas, no romance de Machado de Assis.

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AS FASES HISTÓRICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL

Aurora de Jesus Rodrigues (PUC-SP-FATI)

Com a descoberta do Brasil, a língua portuguesa, ainda com aspecto arcaico, passou a conviver com o tupi, a língua geral.Os padres jesuítas intermediaram europeus e índios para a imposição lingüístico-cultural. Com o fluxo de negros trazidos da África, a língua falada na colônia recebe novas influências, enriquecendo seu vocabulário. A segunda fase do português ocorre em 1757, quando uma Provisão Real proibiu a utilização do tupi que já estava sendo suplantado divido à vinda de muitos imigrantes da metrópole. A terceira fase do Português do Brasil corresponde à pós-Independência, quando o português falado sofre influências de imigrantes europeus residentes no, país, provocando mudanças superficiais de léxico.A fase atual corresponde às incorporações de termos estrangeiros, sobretudo, técnicos.

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AS FIGURAS DE RETÓRICA NO ENGENHO VIEIRESCO

Sermões do Padre António Vieira

Luís Flávio Sieczkowski (UniverCidade)

Padre António Vieira, português do século XVII, levou uma vida religiosa e política bastante intensa. Na função de pregador, descobriu sua habilidade no trabalho com as palavras. Tendo encontrado na figura de D. João IV o apoio necessário a seus projetos mercantilistas e de consolidação do Estado Nacional Português, escreveu os Sermões com toda a intensidade que lhe foi peculiar: persuadiu auditórios e trouxe ao público, sob diversas formas, suas crenças políticas, fundamentadas, evidentemente, nas Sagradas Escrituras. Vieira deslumbrou com a sua oralidade arrebatadora, sendo bastante astuto em se apropriar da retórica e fazer dela seu instrumento de guerra verbal. Conheceu com profundidade a força do discurso e buscava nas figuras apoio e sustentação necessários à arte de persuadir. Assim, utilizando recursos como a metáfora, o oxímoro, o hipérbato, o quiasmo conseguiu o efeito esperado: estupefação diante dos Sermões, engenhosamente construídos. O impulso criador escondia, por trás das figuras, a intenção de uma política voltada para os ideais sebastianistas, o fortalecimento do Estado e da Monarquia, a volta dos cristãos-novos, a busca de recursos no exterior e tantas outras questões políticas que o sacerdote julgava importantes para o destino de Portugal.

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AS HIGHLANDS ESCOCESAS

SEGUNDO A VISÃO DE WALTER SCOTT

Fabiana Júlio Ferreira (UERJ)

Ana Lucia de Souza Henriques (UERJ/UVA). Este artigo enfoca a questão da identidade nacional escocesa em Waverly, de Walter Scott. Nesse romance, os habitantes das terras altas da Escócia desempenham um papel relevante, pois são tomados como os verdadeiros representantes da cultura e das tradições escocesas. Scott também enfatiza a importância de "antigos" símbolos nacionais: gaitas-de-fole, saiotes escoceses e madras. É nosso objetivo ressaltar o destaque atribuído pelo escritor aos habitantes das Highlands escocesas e às suas tradições na construção da identidade nacional.

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AS APÓSTROFES AO LEITOR EM ESAÚ E JACÓ

Henriqueta do Couto Prado Valladares (UERJ)

Machado de Assis, em muitos de sues textos literários (crônicas, contos ou romances), dirige-se aos leitores de diversas maneiras: à leitora amiga, ao amigo leitor, ao leitor atento, ao leitor curioso.

Estas apóstrofes aos leitores são indispensáveis para entendermos não só as diferentes recepções do texto literário, como também outras notações importantes para traçarmos o ideário estético de Machado de Assis.

Em Esaú e Jacó, notamos que as apóstrofes às leitoras consistem em críticas às atitudes recorrentes da recepção literária. As expectativas pré-estabelecidas ao texto amarram-no a sentidos previamente traçados por este tipo de leitor. É o que nos revela este trecho do capítulo XXVII de Esaú e Jacó: “O que a senhora deseja, minha amiga, é chegar já ao capítulo do amor, ou dos amores, que é o seu interesse particular nos livros”.

Há, por outro lado, outros leitores que, para Machado de Assis, são aqueles que não pré-existem às obras, mas vão sendo construídos nela e por ela; uma espécie de “leitor modelo”, convidado a ajudar o autor na própria elaboração da obra ficcional.

Os diversos exemplos de apóstrofes, destacados no romance em tela, servirão ainda para o estudo de aspectos histórico-sociais da época de transição entre a Monarquia e a República no Brasil, tempo da história em Esaú e Jacó.

O levantamento e análise de apóstrofes aos leitores na obra contribuirão ainda pra a apresentação de questões crítico-teóricas, potencializadas e problematizadas, no romance de Machado de Assis.

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AS FASES HISTÓRICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL

Aurora de Jesus Rodrigues (PUC-SP-FATI)

Com a descoberta do Brasil, a língua portuguesa, ainda com aspecto arcaico, passou a conviver com o tupi, a língua geral.Os padres jesuítas intermediaram europeus e índios para a imposição lingüístico-cultural. Com o fluxo de negros trazidos da África, a língua falada na colônia recebe novas influências, enriquecendo seu vocabulário. A segunda fase do português ocorre em 1757, quando uma Provisão Real proibiu a utilização do tupi que já estava sendo suplantado divido à vinda de muitos imigrantes da metrópole. A terceira fase do Português do Brasil corresponde à pós-Independência, quando o português falado sofre influências de imigrantes europeus residentes no, país, provocando mudanças superficiais de léxico.A fase atual corresponde às incorporações de termos estrangeiros, sobretudo, técnicos.

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AS FIGURAS DE RETÓRICA NO ENGENHO VIEIRESCO

Sermões do Padre António Vieira

Luís Flávio Sieczkowski (UniverCidade)

Padre António Vieira, português do século XVII, levou uma vida religiosa e política bastante intensa. Na função de pregador, descobriu sua habilidade no trabalho com as palavras. Tendo encontrado na figura de D. João IV o apoio necessário a seus projetos mercantilistas e de consolidação do Estado Nacional Português, escreveu os Sermões com toda a intensidade que lhe foi peculiar: persuadiu auditórios e trouxe ao público, sob diversas formas, suas crenças políticas, fundamentadas, evidentemente, nas Sagradas Escrituras. Vieira deslumbrou com a sua oralidade arrebatadora, sendo bastante astuto em se apropriar da retórica e fazer dela seu instrumento de guerra verbal. Conheceu com profundidade a força do discurso e buscava nas figuras apoio e sustentação necessários à arte de persuadir. Assim, utilizando recursos como a metáfora, o oxímoro, o hipérbato, o quiasmo conseguiu o efeito esperado: estupefação diante dos Sermões, engenhosamente construídos. O impulso criador escondia, por trás das figuras, a intenção de uma política voltada para os ideais sebastianistas, o fortalecimento do Estado e da Monarquia, a volta dos cristãos-novos, a busca de recursos no exterior e tantas outras questões políticas que o sacerdote julgava importantes para o destino de Portugal.

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AS HIGHLANDS ESCOCESAS
SEGUNDO A VISÃO DE WALTER SCOTT

Fabiana Júlio Ferreira (UERJ)
Ana Lucia de Souza Henriques
(UERJ/UVA)

Este artigo enfoca a questão da identidade nacional escocesa em Waverly, de Walter Scott. Nesse romance, os habitantes das terras altas da Escócia desempenham um papel relevante, pois são tomados como os verdadeiros representantes da cultura e das tradições escocesas. Scott também enfatiza a importância de "antigos" símbolos nacionais: gaitas-de-fole, saiotes escoceses e madras. É nosso objetivo ressaltar o destaque atribuído pelo escritor aos habitantes das Highlands escocesas e às suas tradições na construção da identidade nacional.

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AS IDÉIAS LINGÜÍSTICAS NO BRASIL

Ricardo Cavaliere (UFF)

O texto As Idéias Lingüísticas no Brasil busca levantar as fontes estrangeiras em que se inspiraram os estudos filológicos e lingüísticos brasileiros desde os decênios finais do XIX, quando se instala em nosso cenário acadêmico a pesquisa científica do fato gramatical, até os últimos decênios do século XX, período em que vários modelos de investigação são importados dos grandes centros de pesquisa estrangeiros. A leitura dos textos sobre língua vernácula produzidos no Brasil ao longo desse grande lapso cronológico revela sensível predominância das escolas européias como fonte de inspiração teorética, com ênfase nas vertentes alemã, inglesa e francesa, com posterior contributo dos paradigmas da Lingüística norte-americana, sobretudo na segunda metade do século XX. Hão de distinguir-se, por sinal, para a correta avaliação do fato, dois aspectos relevantes do tema: a tese doutrinária e a fonte bibliográfica que a divulga. Não obstante ambos os aspectos se integrem como faces de uma mesma moeda, não se pode confundi-los, dado o distinto papel historiográfico que compete a cada um. Com efeito, a influência doutrinária se define como o aparato teórico de que se serve o pesquisador para descrever os fatos gramaticais de dada língua, não sendo raro que teses oriundas de doutrinas diferentes se irmanem neste afã descritivo. Já a fonte bibliográfica é a obra aonde vai o pesquisador colher esta informação científica, o que implica, em última análise, ser o ponto de contato direto ou imediato que o pesquisador de língua vernácula mantém com as teses doutrinárias. Deve-se salientar que a importação de modelos estrangeiros em nossos estudos lingüísticos, nem sempre criteriosa, é combatida por muitos historiógrafos por resumir-se a vício servil, que inibe o surgimento de teóricos da linguagem em nosso cenário científico. O texto As Idéias Lingüísticas no Brasil, nos limites de sua pretensão, busca avaliar esse fato e projetar as perspectivas da Lingüística como ciência no Brasil do século XXI.

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AS NÃO-COINCIDÊNCIAS ENUNCIATIVAS
NO DISCURSO PEDAGÓGICO

Maria Cristina Lírio Gurgel (UERJ)

Este estudo é parte de uma pesquisa mais ampla desenvolvida em sala de aula de leitura do 3º e 4º ciclos (5ª a 8ª séries) do ensino fundamental, de escolas públicas do estado do Rio de Janeiro, na qual se objetiva descrever os traços constitutivos dos discursos construídos em co-autoria pelo professor e pelos alunos.

Com base em Bakhtin (Volochinov, 1929) e Authier Revuz (1998), analisa-se, no discurso pedagógico, as não-coincidências do discurso consigo mesmo, tendo como referência o dialogismo bakhtiniano no qual toda palavra, por se produzir em meio ao já dito de outros discursos, é habitada pelo discurso do outro.

Os dados foram coletados em entrevista semidirigida com o professor de uma turma de 4° ciclo (7ª série), segundo o tema aula de leitura e suas atividades. Tendo como metodologia a Análise do Discurso de linha francesa, verificou-se que a presença do outro – as não-coincidências enunciativas – se atualiza através de recursos variados, contribuindo para a singularidade do discurso pedagógico.

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AS REFORMAS POMBALINAS
E SEUS EFEITOS NO BILINGÜISMO

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

Em face do grande caldeamento de línguas, em processo desde o século XVI, verificado com maior intensidade e tendo por base contribuições tupis e afro-negras, o rei de Portugal D. José I, aconselhado por seu primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, resolveu adotar medidas drásticas contra o bilingüismo existente, tornando obrigatório o uso da Língua Portuguesa e, igualmente, expulsando os jesuítas, responsáveis pela educação da Colônia.

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ASPECTOS INTERESSANTES
DA ORTOGRAFIAPORTUGUESA EM DOCUMENTOS
REFERENTES À COLONIZAÇÃO (1628 a 1677)

Maria Bernadete Carvalho da Rocha (UFF/FURG)

Os documentos referentes à colonização portuguesa no Brasil (especialmente cartas) revelam-se um rico material para aqueles que gostam e se ocupam da história da língua. Pelo estudo do "corpus" selecionado (cartas de autoridades enviadas entre 1628 e 1677), pode-se observar o uso ainda sistemático das consoantes duplas; a oscilação na representação das vogais nasais; o emprego do grafema "y"; a grafia dos pronomes oblíquos enclíticos, dos numerais e dos pronomes relativos. O levantamento dessas ocorrências permite estabelecer comparações com o que os ortógrafos e os gramáticos da época afirmaram sobre a ortografia portuguesa do século XVII.

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ASPECTOS TEATRAIS
NA OBRA POÉTICA DE GREGÓRIO DE MATOS

José Pereira da Silva (UERJ).

Gregório de Matos, desconhecido pela crítica textual, filológica, literária e histórica, precisa, urgentemente, ser desvendado e interpretado em seus mil disfarces.

Como “era gosto da época realizar no palco as artes do engano e os enganos da arte”, não seria de se espantar que Gregório de Matos imitasse seus mestres nessa arte, transformando-se ora num autor-ator, ora num ator-autor.

É assim que consegue, personalizando-se nas diversas máscaras (personae) antagônicas que encarna: trágicas ou cômicas, eruditas ou populares, como poeta religioso ou erótico, lírico ou jocoso, satírico ou encomiástico, criar uma obra poética inigualável.

Ora fala como a própria Bahia, ora como seu filho; ora louvando-a, ora desprezando-a, ora como herói, ora como bandido. Entre os seus poemas, encontramos alguns atribuídos a personagens femininas, reais ou fictícias, assim como encontramos verdadeiros heterônimos que completam ficticiamente a sua história como personagem adjuvante (Licenciado Rabelo) ou como opositor (Frei Lourenço Ribeiro).

O primeiro faz a louvação biográfica do Poeta e recolhe a sua obra, redigindo didascálias minuciosas sobre os contextos em que foi escrito cada poesia, transcrevendo, inclusive, as sátiras violentas que lhe dirige seu opositor (que, de fato, era ele mesmo) e respectivas réplicas e tréplicas.

Com o segundo cria o ambiente para as “pelejas” de Gregório de Matos, antecipando a arte que se difundiu pelo Nordeste do Brasil, em que os cantadores fazem uma verdadeira guerra de ataques e defesas poéticas um ao outro. Enfim, os novos críticos poderão enveredar-se por este novo caminho no estudo da obra do Boca do Inferno, guiados pelo livro “As Artes de Enganar: um estudo das máscaras poéticas e biográficas de Gregorio de Mattos”, do Prof. Adriano Espínola, lançado a menos de um ano pela editora Topbooks.

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ATAFONA
UM TOPÔNIMO DE TRIPLA POSSIBILIDADE HISTÓRICO-ETIMOLÓGICA

Antonio Hauila (UFRJ)

Diferentemente do topônimo Conservatória, que denomina conhecido distrito de Valença, no estado do Rio de Janeiro, de direta importação lusitana, com significado e história conhecidos, o topônimo Atafona, no litoral do município de Campos dos Goitacases, ainda no estado do Rio de Janeiro, tem história e significados obscuros. A intenção aqui é uma tentativa de examinar – ainda que sucintamente – as três possibilidades mais plausíveis para deslindar o porquê da denominação.

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ATITUDES E POSTURAS EPISTEMOLÓGICAS NO PROCESSO HISTÓRICO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM

Cidmar Teodoro Pais ( USP/UBC)

Esta pesquisa, que desenvolvemos há muitos anos, numa abordagem epistemológica e multidisciplinar, propôs-se a estudar teorias, modelos e métodos, elaborados em grandes etapas que caracterizam as reflexões sobre a linguagem, a língua, o discurso, o texto, da Antigüidade clássica aos nossos dias. Foram examinadas proposições da retórica, da eloqüência, das lógicas, da poética, da gramática, da filologia, da filosofia da linguagem, da gramática de Port-Royal, da lingüística histórico-comparativa, da lingüística moderna e pós-moderna, da semiótica, de maneira a estabelecer articulações, relações e rupturas que configuram o que chamamos, legitimamente, de processo histórico dos estudos da linguagem. Foram considerados, de um lado, natureza e definição de ciências e disciplinas, objetos formais, métodos, abordagens diacrônica, sincrônica e pancrônica,concepções de estrutura e função e, sobretudo, as metateorias, sistemas de valores e sistemas de crenças subjacentes às diferentes etapas ou ‘correntes’; de outro lado, concepções de signo, como as epistemes medieval e renascentista, modelos modernos de signo e significação, concepções de língua e discurso, relacionando-os com diferentes conjunturas políticas, sociais e históricas, como também, freqüentemente, com razões de Estado que as determinaram ou fortemente influenciaram; as oposições de língua, normas, fala, ‘competência’ e ‘desempenho’; oposições enunciação/enunciado, discurso/texto, mecanismos de argumentação, verossimilhança, veridicção, eficácia – critérios de valoração dos discursos - em distintas formulações. Observa-se, ao longo desse processo histórico, uma constante, a alternância de períodos em que prepondera uma preocupação historicista ou histórica e de períodos de postura  eminentemente descritiva. Desse trabalho de gerações, conquistas e impasses, infere-se, dentre outras, uma grande e nova-velha lição: gramática, filologia, lingüística só podem ser produtivas, quando, sem dogmatismo, articulam-se em fecunda cooperação transdisciplinar, já praticada por pioneiros no Brasil, como Serafim da Silva Neto, que nesta semana homenageamos.

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BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE O LEGADO DAS LÍNGUAS CÉLTICAS

JoãoBittecourt de Oliveira (UERJ)

O presente trabalho tem por objetivo trazer algumas considerações a respeito das línguas célticas.

Embora pouco documentadas, sabe-se que as línguas célticas formam um ramo da família indo-européia, possuindo certos traços em comum, principalmente no âmbito da fonologia e do léxico. Comportam divisões, geralmente conhecidas como o celta continental e o celta insular.

O celta continental é o nome genérico pelas línguas faladas pelo povo conhecido dos escritores clássicos como Keltoi e Galatae. Em várias épocas durante um período de 1.000 anos (aproximadamente de 500 a. C. a 500 d. C.), os celtas ocuparam uma área que se estendia da Gália à Ibéria, ao sul, e à Galácia ao leste; mas nos primeiros séculos da era Cristã de toda a parte foi varrido, deixando por legado apenas algumas raras e obscuras impressões e alguns topônimos.

O celta insular refere-se às línguas das Ilhas Britânicas, juntamente com o bretão (falado na Bretanha, França). Embora exista alguma evidência escassa das fontes clássicas – principalmente topônimos – e algumas inscrições nos alfabetos latino e ogham do final do século IV ao VIII d. C, a principal fonte de informação sobre os primeiros estágios dessas línguas são os manuscritos realizados as partir do século VII em irlandês e, pouco mais tarde, em outras línguas britânicas.

As línguas insulares dividem-se em dois grupos – o irlandês e o britônico. O irlandês foi a única língua falada na Irlanda no século V, época em que se iniciou o conhecimento histórico daquela ilha. Os dois outros membros desse grupo, o escoto-gaélico  e o manx, surgiram das colonizações irlandesas que começaram naquela época. Houve também colônias de falantes do irlandês no País de Gales, porém nenhum vestígio desse idioma restou a não ser algumas inscrições.

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CAMINHO DAS ÁGUAS, POVOS DOS RIOS

UMA VISÃO ETNOLINGÜÍSTICA
DA TOPONÍMIA BRASILEIRA

Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick (USP)
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra
(UFMG)

No Planalto Central Brasileiro, nascem as três grandes bacias hidrográficas formadoras dos cursos d’água responsáveis pela distribuição das primeiras correntes povoadoras do país. Os caminhos terrestres e as vias fluviais, rotas das conquistas e posses simbólicas dos antigos núcleos e futuras vilas e cidades, tiveram, eles próprios, que ser conquistados para permitir a ocupação posterior de suas margens. Amazonas, São Francisco, Prata, Paraná e a rede de seus afluentes não são apenas topônimos comemorativos de ideologias européias ou da cosmovisão ameríndia, mas evocam narrativas míticas e enfabulações atemporais, que povoam o imaginário comum.

No território paulista, esse papel é preenchido pelo lendário Tietê-Anhembi que, nos relatos sertanistas e monçoeiros e na cartografia do século XVII, já aparece como fator determinante das fronteiras geográficas e etnolingüísticas de São Paulo. No território mineiro, enfoca-se o Rio Carmo – cuja nascente se localiza na Serra do Espinhaço em Ouro Preto. Em busca de ouro e de víveres, os desbravadores vão, acompanhando o curso desse rio, fixando-se em suas margens e, deixando, por onde passam, marcas de uma civilização cristã em toda uma região, até então, dominadas pelos índios.

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CANTIGA EM DIACRONIA

João Bortolanza (UFMS)

Apresenta-se a transcrição diplomático-interpretativa da Cantiga 454 do Canzoniere Portoghese della Biblioteca Vaticana (BV), edição de Ernesto Monaci, Halle, 1875. Notas filológicas destacarão aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos e léxico-semânticos desta cantiga de Joan Airas Nunes. “Cantiga em Diacronia”, porque o enfoque é a variação diacrônica. Interpretar uma cantiga do Português Arcaico supõe contínuas idas e vindas ao passado (Latim) e ao futuro (Português Atual), uma diacronia, isto é, uma visão “através do tempo”.

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CARACTERIZAÇÃO E DEFINIÇÃO EM NARRATIVAS ESCOLARES

Thereza Maria Zavarese Soares (UERJ)
Orientadora: Marísia Teixeira Carneiro (UERJ)

Neste trabalho, objetiva-se apresentar os resultados finais da pesquisa intitulada “Qualificação e Identidade” que propõe respostas para a seguinte questão: É possível conhecer parte da identidade do sujeito enunciador através do uso que este faz das expressões da língua? Tomando por base teórica a Semiolingüística de Patrick Charaudeau (1992), tratou-se o processo de qualificação e seus aspectos semânticos e discursivos como pistas da identidade lingüística do sujeito enunciador; identidade esta que faz parte da identidade psicossocial do sujeito comunicante. O corpus desta pesquisa é constituído de 126 redações escolares produzidas por alunos da 6a série do ensino fundamental. Para mostrar os traços da identidade lingüística do enunciador, pretende-se dar ênfase a análise dos tipos de qualificação dos seres, que são a caracterização e a definição, e dos tipos de conexão.

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CARLOS DE OLIVEIRA

PALAVRA E FIXAÇÃO DE SENTIDO

Vera Lúcia Caetano da Silva (UERJ)

As palavras assumem no texto literário valores subjetivos que dão um estatuto de objeto particular do autor ao significado das mesmas. Se a princípio tal atribuição pode parecer trivial, elemento inerente à formação do texto, por outro lado, desperta enorme fascínio quanto a desvendar, no curso da leitura, o que a densa trama das escolhas e combinações escrevem, mas, principalmente, inscrevem com propósito pré-definido. Nesse campo, a poesia de Carlos de Oliveira, escritor neo-realista, demonstra a intensa busca quanto à fixação de sentido explorando a capacidade significativa das palavras e a efetiva coincidência com a realidade circundante. Através da escrita, imprime a análise crítica do momento vivido, onde o explícito desejo de mudar a têmpera das palavras é o de transformar aquilo que oprime. Esse é o caminho percorrido por Carlos de Oliveira.

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CARTAS DE RECLAMAÇÃO
UM GÊNERO DE DISCURSO EXPRESSIVO

Victoria Wilson (UERJ)

Com base nas estruturas discursivas analisadas por Paredes Silva (1996 a), no tocante às variações tipológicas no gênero carta, são relacionados os aspectos expressivos do ato de fala da reclamação, considerando para efeito de análise unidades como ato e evento de fala, competência lingüística, competência comunicativa e competência pragmática, assim como conhecimento pragmático, isto é, o conhecimento de mundo envolvido como forma de apreensão e elaboração da realidade pelo locutor.

A partir da identificação das propriedades formais dos textos (cartas de reclamação de clientes à empresa do ramo da construção civil), que os configuram como pertencentes ao gênero textual carta, a análise passa para o plano do evento real de fala, o evento comunicativo em questão, para compreender como a reclamação, um ato de fala expressivo, organiza-se estrutural e pragmaticamente tendo em vista os seguintes aspectos: o contexto organizacional em que se insere, o tipo de locutor, as categorias afetivas utilizadas, o tipo de interação que se estabelece entre esse locutor (cliente) e seu interlocutor (a empresa).

As propriedades formais, as unidades comunicativas associadas ao propósito comunicativo podem fornecer, com base numa perspectiva interacional, dentro do enquadre social e do gênero textual carta, uma variação tipológica específica: carta de reclamação. Além disso, a análise pretende atribuir e estender a dimensão afetiva a cartas que não se restringem àquelas de natureza pessoal e, sim, as de natureza institucional como as de reclamação.

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CESARE RUFFATO TRADUTOR DE SÁ DE MIRANDA

Mariarosaria Fabris (USP)

Há alguns anos, Cesare Ruffato está se dedicando à tradução de obras líricas de Francisco Sá de Miranda. Tendo sido convidada pelo tradutor a compartilhar desse desafio, tenho me interrogado sobre os motivos que teria levado um poeta italiano contemporâneo a debruçar-se sobre a obra de um escritor português da Renascença.

É em algumas características em comum entre os dois autores que, a meu ver, reside o interesse de Ruffato por Sá de Miranda: (a) tanto neste como naquele, podemos falar de um estilo conciso, elíptico, em que parecem faltar palavras para expressar plenamente o pensamento poético; (b) nas composições de ambos, há um tom nostálgico que se consubstancia em construções e vocábulos arcaicos aliados, porém, à abertura para inovações; (c) ao elogio da simplicidade da vida do campo, transformado em crítica social, no poeta português corresponde o desassossego do poeta italiano em relação à sociedade contemporânea, o que o leva muitas vezes a refugiar-se na língua regional (vêneto).

A apresentação de algumas dessas traduções das poesias de Sá de Miranda e o eventual confronto com algumas das composições poéticas de Cesare Ruffato permitir-me-ão apontar para essas e outras questões na obra dos dois autores.

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COMPREENDENDO O COMPREENDER DAS CRIANÇAS
A RESPEITO DA LÍNGUA ESCRITA

UM MERGULHO NO COTIDIANO DAS SÉRIES INICIAIS

Ângela Vieira de Alcântara (UERJ)
Jacqueline de Fátima dos Santos Morais
(UERJ)
Cócis Alexandre dos Santos Balbino (UFF)

Analisando diferentes materiais escolares podemos constatar que os livros didáticos e manuais pedagógicos em geral afirmam, direta ou indiretamente, que crianças pequenas são incapazes de pensar e produzir justificativas coerentes e coesas a respeito do funcionamento da língua escrita.

A partir desta concepção de sujeito passivo, a escola básica vai privilegiar a seleção de conteúdos escolares nas Classes de Alfabetização e Primeira Série ligados prioritariamente a sistematização de regras formais da língua. Essa escolha deixa claro que a escola desconsidera que a criança produza hipóteses sobre o objeto de conhecimento que é a escrita. Aprender para/na escola, será, portanto, reproduzir informações descontextualizadas e na maioria das vezes sem sentido para o educando.

Ao desconsiderar as respostas produzidas pelos meninos e meninas em sala de aula a respeito da escrita e da leitura a escola não leva em consideração que é no cotidiano que a compreensão sobre a lecto-escritura vai sendo construída, confrontada sempre com outras formas de compreender: com a dos outros alunos e alunas, com a dos professores e professoras, com a dos familiares. É no cotidiano que as formas de compreender podem, assim, ser ampliadas, mudadas, transformadas. Nosso trabalho objetiva dar visibilidade às falas, e portanto aos saberes, de alunos e alunas da Classe de Alfabetização e da 1ª série a respeito da língua escrita, buscando desta forma dar voz as múltiplas e variadas concepções que estes educandos possuem a respeito do sistema de representação da oralidade que é a escrita.

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CONCEPTUALIZAÇÃO , INTERDISCURSIVIDADE, ARQUITEXTO, ARQUIDISCURSO

Cidmar Teodoro Pais (USP/UBC)

Examinamos aspectos dos processos de cognição e de significação, enquanto fenômenos conceptuais e metalingüísticos, procedimentos determinantes de intertextualidade, interdiscusividade, transcodificação, face às articulações entre semântica cognitiva, semântica de língua, de discurso, sociossemiótica, semiótica das culturas. Utilizaram-se modelos teóricos relativos ao percurso gerativo de codificação/decodificação e às unidades de seus distintos patamares: percepção; conceptualização - construção do conceptus lato sensu, ‘modelo mental’, de seus componentes - conceptus stricto sensu, metaconceptus, metametaconceptus, arquiconceptus -, decorrentes das pregnâncias, e articulação conceptus/designatum -; denominação, designações, designatum e referência. Relações entre processos discursivos e textos-enunciados conduziram a ‘modelos mentais’ transfrásticos, arquidiscurso,  arquitexto, e a ‘isotopias’ conceptuais. O arquidiscurso, ‘modelo mental’ transfrástico, resulta da neutralização das especificidades de discursos manifestados, mantidos o processo de produção discursiva, de enunciação, as ‘isotopias’ conceptuais, sua intersecção não-vazia; o arquitexto, ‘modelo mental’ transfrástico, neutralização das especificidades de vários textos-enunciados, mantém conceptus e recortes culturais subjacentes, sistemas de valores sustentados em semântica profunda, isotopias semânticas determinadas por ‘isotopias’ conceptuais, sua intersecção não-vazia. A competência lingüística, semiótica, sociocultural, o ‘saber sobre o mundo’ do enunciador/enunciatário do discurso, resultantes dos discursos anteriores, do processo histórico individual e/ou coletivo, permitem-lhe reconhecer num processo discursivo e seus textos, universo(s) de discurso, arquidiscurso, arquitexto, estabelecer relações interdiscursivas e intertextuais, ‘isotopias’ conceptuais que conferem significado ao discurso e ao texto. Arquidiscurso e arquitexto constituem modelos, parâmetros que asseguram, respectivamente, a produtividade discursiva e a intelecção/interpretação de textos. Explicam-se processos de significação, metalinguagem, rediscurso, reelaboração do mundo semioticamente construído, do imaginário coletivo, do saber compartilhado sobre o mundo.

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CONFRONTO ENTRE TEXTOS DOS SÉCULOS XVIII E XIX MOTIVADO PELAS MUDANÇAS LINGÜÍSTICAS APRESENTADAS POR F. TARALLO

Antonia da Silva Santos (UFPA)

A leitura do texto “Diagnosticando uma gramática brasileira: o português d’aquém e d’além-mar no final do séc. XIX, de autoria de Fernando Tarallo, permitiu-nos traçar um rumo para “escavar o túnel do tempo” e assim, nesta busca, foram encontrados manuscritos dos séc. XVIII e XIX, pertencentes às Religiosas do Convento de N. Srª da Conceição da Lapa-Ba e, especialmente, documentos escritos e/ou assinados pela Madre Joana Angélica de Jesus. Neste trabalho, apresenta-se uma descrição de alguns desses manuscritos que estão inseridos no corpus do Projeto de Pesquisa intitulado “Mudanças Lingüísticas nos séc. XVIII e XIX em confronto com as normas vigentes do séc. XX”.

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