RESUMOS
(DO INÍCIO À LETRA 'D')
5
0 ANOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
(1950-2000)
Nícia de Andrade Verdini Clare (UERJ)
No século XIX, o ensino de língua materna relacionava-se a uma tradição de teoria e análise com raízes na filosofia grega, em que a linguagem era usada como expressão de pensamento. Só no século XX, com as novas teorias lingüísticas, ouviram-se os primeiros ecos de uma ruptura com a tradição. Mas, apesar de algumas manifestações de lingüística sincrônica nas obras de Said Ali, João Ribeiro e Sousa da Silveira, ainda se manteve até os anos 50 a tradição gramatical, buscando-se a homogeneidade padronizada e desprezando-se a heterogeneidade dialetal num ensino dirigido à elite.
A situação começa a se transformar na década de 60, quando entra em cena o processo de democratização da escola, relacionado ao novo modelo econômico-social. Em conseqüência, muda a clientela da escola pública e a heterogeneidade dialetal passa a conviver na sala de aula.
No início dos anos 70, a LDB 5692/71 passa a encarar a língua como instrumento de comunicação . Na escola, as aulas tradicionais de gramática são substituídas pela Teoria da Comunicação. O ensino torna-se um caos e essas mudanças se refletem nos exames vestibulares. Várias medidas paliativas começam a ser tomadas, mas, só a partir da década de 80, vozes de novas teorias de ensino começam a ser ouvidas. Bechara posiciona-se contra o glotocentrismo e a opressão lingüística; Celso Cunha e Cintra conjugam, em sua gramática, o normativismo e o descritivismo; Luft defende uma prática sem medo.
Falta, todavia, uma posição metodológica, que chegará até nós com Franchi, Travaglia, Possenti e Geraldi, defensores da gramática reflexiva como a melhor opção de ensino.
Os anos 90 consolidaram essas idéias, propiciando mudanças no exame vestibular e discussões em Congressos universitários. Novos nomes despontaram, entre os quais Neves e Azeredo, apresentando teorias e caminhos para o ensino de Língua Portuguesa.
Entramos no 3º milênio com a certeza de que objetivos prévios devem ser traçados antes de decidirmos que gramática ensinar e como ensinar.
A CIRCULAÇÃO DE DISCURSOS RELATADOS SOBRE O TRABALHO NO MERCOSUL - UM ESTUDO EM NOTÍCIAS
Raphaela Dexheimer Mokodsi
(UERJ)
Vera Lúcia de Albuquerque Sant’Anna (UERJ)
Este trabalho faz parte de um projeto maior, intitulado Estudo discursivo do mundo do trabalho em notícias sobre o Mercosul desenvolvido pela professora orientadora. Tem como objetivo analisar manifestações do enunciador-jornalista em relação ao mundo do trabalho em notícias, publicadas (via Internet) no jornal argentino Clarín baseando-se na presença das palavras-chave Mercosul e trabalho. Levamos em consideração a questão opinar/esclarecer, desse modo, tentamos responder às seguintes questões: (1) de que maneira os jornais brasileiro e argentino abordam a questão do trabalho? (2) até que ponto o enunciador jornalista está informando ou persuadindo o co-enunciador? Nossa base teórica são os estudos de Bahktin e seu círculo (1992; 1997), no que se refere a gênero do discurso e polifonia, os estudos de Maingueneau (1989; 2001), quanto à relevância da categoria de análise do discurso relatado (DR) e as propostas de análise do DR em notícias, desenvolvidas por Sant’Anna (2000). As análises seguiram os seguintes passos: identificação das múltiplas ocorrências do D.R; estabelecimento de relação entre o D.R e a definição de espaços discursivos. As análises iniciais apontam para uma imagem de enunciador-jornalista que emite sua opinião, já que aparecem verbos dicendi opinativos e para o não desenvolvimento do tema trabalho, ainda que apareça a palavra emprego.
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NAS OBRAS MODERNAS A PARTIR DE ESTUDOS CRÍTICOS E FILOLÓGICOS NA POESIA BRASILEIRA
Camillo Baptista Oliveira Cavalcanti (UFF)
Nota-se o enriquecimento de nosso léxico com o Romantismo: o Brasil desponta para modernidade. Com tantos pontos comuns entre romantismo e parnasianismo, o trabalho expõe como o espaço foi construído, como foi assimilado pela subjetividade, no léxico dos principais poetas do século XIX.
Gonçalves Dias : embora reconhecido como indianista, a lírica traz um espaço de arquitetura singular, em que a tensão entre terra e mar cumpre papel fundamental na localização e identificação da problemática do EU.
Álvares de Azevedo : sufocado pela jocosidade que lhe imputam, revida com arquivos de modernidade, pois o espaço retrata pólis em construção: caótico, medonho, escuro. Na noite, ações sôfregas, frustradas, sublimadas em delírios e devaneios.
Castro Alves : carrega semelhante fardo gonçalvino, estudado majoritariamente como abolicionista. Mas sua lírica encontra, na noite, espaço para um EU-lírico mavioso, de incontáveis amores.
Alberto de Oliveira : confinam-no em vasos e muros, mas traz uma natureza de extrema riqueza, quase não comentada, revelando muito de nossa biodiversidade. Jogos sinestésicos misturam cores, aromas e sons naturais, comparados com qualidades de metais.
Olavo Bilac : talvez o poeta que apresente maior amplitude de espaço: pensa ao dia, descansa à tarde, vaga à noite; mistura poemas de alta fantasia amorosa com registros históricos ou individuais.
Vicente de Carvalho : recupera o diálogo entre terra e mar, numa atmosfera de insucesso, fracasso. O léxico aponta conhecimento da fauna e flora típicas do litoral, além de larga experiência de vida que lhe permite agradáveis admoestações.
A CONTRIBUIÇÃO DE CELSO CUNHA PARA A EDIÇÃO DE TEXTOS MEDIEVAIS
Hilma Ranauro (UFF/ABF)
Para a edição crítica reconstrutiva de compilações e de autores singulares da poesia trovadoresca recomenda Celso Cunha minuciosos estudos scriptológicos e codicológicos, precedido de um conhecimento aprofundado do caráter e do significado histórico das compilações, para depreensão das técnicas editoriais da época. Caberia atentar para os aspectos semânticos do léxico, para a polissemia e movência do texto medieval, para os problemas gerados pelos editores modernos (a “calafetar” o verso para torná-lo regular) e pela pontuação medieval, que obedecia ao ritmo e não à sintaxe, como em nossos dias, e para os que se relacionam à própria sintaxe, “a eterna filha abandonada da filologia medieval”.
Ao filólogo caberia o estabelecimento do sentido literal, sabendo-o rico em suas potencialidades, e, ao editor, conhecer a cultura da época do autor escolhido, para não considerar metáforas ou criações o que, na realidade, são topus, codificados. O trabalho ecdótico do filólogo clássico se basearia numa relativa raridade de erros conjuntivos em nível de arquétipo; o do filólogo românico, numa relativa abundância de erros separativos, efeito natural da movência.
Considera essencial o estudo da versificação, para a depreensão de fenômenos que possam ter contribuído para a modificação da estrutura do verso. Recomenda a análise do material grafemático, de modo a depreender o subsistema fonético-fonológico a que estaria obedecendo o autor, bem como o estabelecimento de um acordo quanto à ortografia a ser adotada na apresentação das cantigas trovadorescas.
A DISFUNÇÃO
BUROCRÁTICA EM IES
UMA AMOSTRAGEM
Carmem Lucia Pereira Praxedes (UERJ)
O discurso burocrático é sem dúvida um dos mais perversos, tendo como efeito de sentido a manipulação, ele se apresenta modalizado através do poder-fazer-fazer. As Instituições de Ensino Superior - IES - em que se destacam as Universidades - universitas - entendidas como corporações de ofício, mantiveram suas características por meio dos séculos e aderiram aos princípios burocráticos, articulando este discurso ao pedagógico. Assim, a importância da transmissão de conhecimentos, com vistas à aquisição de competência para o exercício profissional, nascido do querer-ser e querer-fazer sob a égide da ética profissional, vem atravessando os séculos subjugada aos interesses de alguns que nem sempre têm em vista o bem estar e desenvolvimento dos povos e nações. No Brasil, a forte herança latina da disfunção burocrática conduz algumas universidades a outras disfunções: aquelas do ensino e da pesquisa, ou seja, da transmissão e produção do saber. O presente estudo teve como objetivo diagnosticar as interferências da disfunção burocrática no desenvolvimento das atividades fins da universidade, usamos como amostragem uma instituição privada e outra pública. Lançando mão da teoria semiótica (GREIMAS & PAIS), dedicamos especial atenção ao trabalho dos técnicos-administrativos, pois, são eles os principais agentes executores das ordens dos chamados gestores universitários, que são, em geral, docentes. Ativemo-nos também à leitura de fichas e relatórios administrativos. Constatou-se que o discurso burocrático é aceito e executado pelos técnicos, que nos diversos escalões da universidade exercem a sua fatia de poder com satisfação por conseguir manipular um outro grupo. Eles falam da burocracia personificando-a, não buscando, quando possível, diminuir o seu campo de ação. Não diferenciam a burocracia, enquanto controle necessário ao bem do serviço, quer seja público ou privado, da já definida disfunção burocrática. A cultura do governo dos papéis é bem aceita, da mesma forma que é a dos privilégios. Àqueles que se manifestam resta o espaço da exclusão ou para poucos o da adaptação. O discurso da legalidade surge desarticulado ao da legitimidade. Criou-se o controlicismo - que se caracteriza por não objetivar o desenvolvimento institucional e sim servir de aparato as suas falhas e disfunções. Neste contexto, os profissionais mais capacitados ou se afastam ou são afastados destas instituições. A disfunção burocrática, ao contrário do que muitos afirmam, não é um problema característico da instituição pública, ela ocorre relacionada aos vícios culturais, sustentada pela política da esperteza ainda presente em alguns países como Brasil e Itália e ainda existe por gerar recursos financeiros com baixo investimento, sendo, portanto, ainda mais nociva em instituições educacionais.
A ESCOLHA LEXICAL E A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO FEMININO NO TEXTO PUBLICITÁRIO
Aline Cristina de Araújo (UFF)
Neste trabalho, procuraremos realizar a análise das peças publicitárias que promovem cosméticos, buscando, a partir seleção lexical, descrever a prática discursiva entre os atores da situação comunicativa, concebendo a própria marca como enunciador e as mulheres como enunciatárias. Nossa análise ampara-se tanto na linha de Análise do Discurso desenvolvida por Fairclough, quanto na concepção psicanalítica de subjetividade, na existência de um sujeito desejante, o que justifica o status de consumidor do enunciatário e o alcance da peça publicitária, que promove a venda cada vez maior de cosméticos.
A ESTRUTURAÇÃO DO ENUNCIADO NA LINGUAGEM FALADA CULTA DE PORTO ALEGRE E DO RECIFE (PROJETOS NURC/POA E NURC/RE)
Paulo de Tarso Galembeck
(UEL)
Adriana de Brito Gosuen (UNESP)
Um dos problemas mais difíceis no estudo da língua falada é definir uma unidade de análise. A frase, enquanto unidade característica da língua escrita, nem sempre se aplica à fala, dadas as particularidades dessa forma de realização lingüística (pausas, truncamentos, repetições, anacolutos, falsos começos, falta de limite entre os enunciados). Para superar este problema, Ataliba Teixeira de Castilho propõe uma outra unidade - a unidade discursiva (U.D.), assim entendida como “um segmento de texto caracterizado semanticamente por preservar a propriedade de coerência temática da unidade maior, atendo-se como arranjo temático secundário ao processamento informativo de um subtema, e formalmente por se compor de um núcleo e de duas margens, sendo facultativa a figuração destas.” É por meio desta unidade que se pode evidenciar especialmente os ‘andaimes’ da construção e as marcas de subjetividade e intersubjetividade na estrutura dos enunciados da língua falada. Este trabalho visa a analisar a constituição das unidades discursivas na fala culta de Porto Alegre e Recife. Cada uma das partes da UD é analisada quanto à constituição e função. As margens da UD são formadas por elementos de natureza diversa: sinais paralingüísticos ou cinésicos (gestos, expressões faciais); supra-segmentos (entoação, pausas); elementos segmentais (expressões não-lexicalizadas, elementos lexicais, proposições). A análise e a classificação das ocorrências em doze inquéritos dos projetos NURC/POA e NURC/RE (diálogo entre informante e documentador) evidenciou que a margem esquerda (ME) geralmente tem por função introduzir ou “preparar” os enunciados contidos no núcleo da UD. Já a margem direita (MD) apresenta baixa ocorrência e, quando aparece, é voltada para o ouvinte, apresentando função fática. O núcleo, por sua vez, em sua maioria, é constituído por duas ou mais orações que se ligam pelos processos de coordenação ou de coordenação e subordinação e em algumas ocorrências também pôde ser verificada a presença, em seu interior, de elementos das margens.
A ESTRUTURAÇÃO DO MACROCAMPO LEXICAL DOS INGREDIENTES ENCONTRADOS NO LIVRO DE COZINHA DA INFANTA D. MARIA
Celina Márcia de Souza Abbade UFBA/UCSAL/UNEB
A partir de O Livro de Cozinha da Infanta D. Maria (ms. I- E- 33 da Biblioteca Nacional de Nápoles), procura-se fazer um estudo lexicológico, em uma perspectiva diacrônica estrutural, enfocando-se o macrocampo dos ingredientes. Faz-se uma estruturação do léxico de cozinha existente no texto de base, organizando-se essas lexias em seus respectivos campos lexicais. Pretende-se apresentar um trabalho que é parte integrante da tese de doutorado em andamento, sob a orientação da Profª Drª Célia Marques Telles, baseado na teoria dos campos lexicais proposta por Eugenio Coseriu. Nele são tratadas as lexias que designam os ingredientes (frutas, carnes, hortaliças, alimentos preparados...). Far-se-á aqui um levantamento dessas lexias referentes a esses ingredientes, examinando os seus significados àquela época e quais deles ainda se mantêm na atualidade com o mesmo valor semântico. Em seguida mostrar-se-ão os excertos do texto de base onde se registra a documentação dessas lexias. Nessa perspectiva far-se-á uso da edição crítica preparada por Giacinto Manuppella.
A ESTRUTURAÇÃO LINGÜÍSTICA NA POÉTICA HETERONÍMIA DE FERNANDO PESSOA
Regina Silva Michelli (UERJ)
O processo heteronímico de Fernando Pessoa reflete seu espraiar-se por diferentes eus. Cada heterônimo não apenas expressa variadas multivivências humanas, como também se expressa de forma diferenciada, através de um campo semântico e de uma estrutura lingüística que fundamentam ideologicamente seu fictício produtor. Assim, a linguagem aparentemente simples espelha Alberto Caeiro, enquanto a visão clássica orienta a poética de Ricardo Reis; Álvaro de Campos, poeta moderno, traz, para a linha sintagmática, o exagero de “Sentir tudo de todas as maneiras”
A EVOLUÇÃO DO FUTURO EM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
Liliane dos Santos Spinelli
(UFRJ)
Juliana Cutri Albuquerque (UFRJ)
Esse trabalho se insere no projeto de descrição da variação e mudança no uso das formas de expressão do futuro do presente, no português não-formal escrito, em tempo real. Pesquisamos três variantes: (FS) futuro sintético (-rei), (FP) futuro perifrástico (ir + Infinitivo) e (P) presente do indicativo (Ø) (cf (1-3),
(1) Não lhe darei mais aquela ração e nem banho com sabão de coco!
(2) Oba! Meu carro! Vou dar o fora daqui!
(3) Aragão, eu lhe dou uma lata novinha em troca do troféu!
Selecionamos uma sub-amostra de 45 revistas em quadrinhos, correspondente a dois períodos: a) as primeiras décadas (10-30) e as últimas décadas (70-90) do século XX. A análise se baseia no modelo da Teoria da Variação (Labov,1972) e na teoria funcionalista (Heine et alii,1991; Givón,1995).
Identificamos e isolamos os usos ambíguos e cristalizados. Os casos de variação foram analisados estatisticamente por meio do programa computacional GOLDVARB 2001.
Foram testadas as seguintes variáveis lingüísticas: tipo de discurso, paralelismo, modalizadores, tipo de oração e predicação verbal; e extra-lingüísticas: origem do texto (brasileiro ou tradução), a idade e o gênero da personagem. Os resultados obtidos sugerem que os contextos de maior transitividade (Hopper,1990) propiciam a substituição da forma sintética pela perifrástica, confirmando resultados obtidos anteriormente para a língua falada.
A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DE TRADUÇÃO
UM ESTUDO INTRODUTÓRIO
Maria Alice Gonçalves Antunes
(UERJ)
Tânia Shepherd (UERJ))
Que tipo de conhecimento professores de tradução consideram relevante para que novos professores de tradução exerçam o papel de educadores? Quais são os aspectos essenciais em um programa de um curso de formação de professores de tradução? O professor de tradução deve ser também um tradutor? É necessário que os professores de tradução passem por estágios de formação específicos?
Esta pesquisa tem por objetivo investigar a natureza do tipo de conhecimento professores de tradução consideram relevante para sua prática pedagógica (cf. Kennedy, 1999). Pretendemos também investigar a real necessidade de um curso de formação para professores de tradução.
Os sujeitos desta pesquisa, professores de cursos de formação de tradutores em universidades brasileiras, responderam um questionário enviado através de “e-mail”.
Os dados coletados fornecerão pistas para a construção de curso de formação de professores de tradução que será ministrado à distância.
A FORMAÇÃO LEXICAL EM “PALAVREADO”, DE LUIS F. VERÍSSIMO
Alexandre José P. C. de Assis Jácome
(UNAM)
Nataniel dos Santos Gomes (UNAM)
Nosso trabalho tem por objetivo uma análise sucinta do léxico utilizado na crônica “Palavreado”, parte integrante da obra “Comédias para se Ler na Escola”, de Luis Fernando Veríssimo. Para tal análise, estamos utilizando como base o livro Teoria Lexical, de Margarida Basilio, onde serão enfatizadas a questões apresentadas pela autora com relação aos processos de formação de palavras na língua escrita e falada, bem como suas diferenciações. Nesta pesquisa, observaremos as particularidades do vocabulário adotado no texto pós-moderno de Veríssimo, bem como o porquê de sua utilização, considerando fatos extrínsecos à obra e sua significação no panorama atual das escolas. Como exemplo, temos a construção formulada pelo autor: “Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida.” (VERÍSSIMO,2001:73)
Percebe-se que a utilização informal dos vocábulos, bem como o verbo na 1° pessoa equipara-se a comunicação oral. Na linguagem escrita formal padronizada poderíamos ter: “O vocábulo “lascívia” remete-nos a imagem corporal feminina, não fornida mas magra e alta.” Sendo assim, a utilização escrita da linguagem oral atenta-nos a considerar outro fator dos recursos adotados por Veríssimo: o emocional, típico na expressão informal, também observável em: “Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é.” (VERÍSSIMO, 2001:73), onde bem, de “bem fornida”, é utilizado com sentido de intensidade, comum na linguagem oral, porém não usual na escrita.
A GREVE NO ABC RECONTADA NA POLIFONIA DE VOZES VEICULADAS PELA FOLHA DE S. PAULO E O ESTADO DE S. PAULO
Maria Cristina Giorgi
(UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)
Nosso estudo tem como foco um evento divulgado pela mídia relativo ao mundo do trabalho: uma greve de metalúrgicos brasileiros é solucionada no exterior, junto à sede principal da montadora, na Alemanha. Tal fato institui uma nova forma de relações/discussões entre os trabalhadores do ABC paulista e a Volkswagen. Esta pesquisa considera a pertinência de estudos voltados para as articulações entre linguagem e trabalho, que nos permitem uma melhor compreensão acerca de aspectos sócio-culturais contemporâneos e está vinculada ao projeto Produtividade da investigação dos discursos produzidos acerca do trabalho. A investigação tem como finalidade observar e refletir como esse momento privilegiado dentro da sucessão de lutas sindicais foi tratado pela mídia impressa brasileira. Nosso corpus de estudo está formado pelas notícias veiculadas pela Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, entre 31/10/2001 e 22/11/2001. A base teórica seguida é a da Análise de discurso de cunho enunciativo, com ênfase na noção de discurso relatado (Maingueneau, 2001 e Sant’Anna, 2000), de dialogia e de polifonia (Bakhtin, 1979). Para as considerações relativas ao “mundo do trabalho”, recorremos às propostas de Schwartz (1992) e de Di Ruzza e Le Roux (1998). Os resultados parciais apontam reflexões acerca da relevância da produtividade do quadro teórico escolhido para a investigação, que nos permitem identificar as diversas vozes trazidas pelo enunciador-jornalista para a constituição discursiva desse embate social.
A HETEROGENEIDADE PRESENTE EM “NO ANALISTA”
Ângela Maria Mendes Britto (UNINCOR)
Alguns critérios básicos da Análise do Discurso fundamentam o estudo da crônica “No Analista”, de Frei Betto. As condições de produção do discurso são examinadas com o intuito de demonstrar a heterogeneidade presente no texto. O objetivo do trabalho é apresentar uma análise discursiva voltada, principalmente, para o “exterior” lingüístico: as condições sócio-históricas da produção.
A IDÉIA DE CICLO OU DE “ETERNO RETORNO” EM VIDAS SECAS
Renata Furtado Simião
(UERJ)
José Marcos Barros Devillart (UERJ)
Quando dizemos que o escritor possui um vasto universo temático dentro do seu universo individual, não mentimos. Graciliano Ramos nos dá uma prova disso.
Cem dias após ter sido colocado em liberdade, Graciliano inicia um novo projeto literário: escrever um conto baseado no sacrifício de um cachorro, que presenciara, quando criança, no Sertão pernambucano. Assim nascia um dos seus mais famosos romances: Vidas Secas.
O problema da seca nordestina, bem como as cheias no sul, vem se repetindo por vários anos. É algo previsível, já detectado, hoje em dia, pela meteorologia, que acontece a cada 13, 15 anos e dura, aproximadamente, de 2 a 3 anos.
Dentro deste grande ciclo natural, tentaremos analisar outros ciclos inseridos, pequenos anéis existentes em Vidas Secas, tais como: o da seca, propriamente dito, e o ciclo sócio-econômico.
Vale lembrar que a ordenação dos capítulos deste romance é feita de acordo com o andamento da seca, contrapondo-se a noção “de romance desmontável” difundida por alguns teóricos literários. Não existindo esta ordenação, talvez não existisse a forte idéia do ciclo da seca.
Através de uma literatura de testemunho, Graciliano Ramos ultrapassa o estereótipo de regionalista e demonstra todo o seu conhecimento sócio-econômico nacional.
A IDEOLOGIA NOS VERBETES DE DICIONÁRIO
Nelly Carvalho (UFPE)
O dicionário monolíngüe acumula, juntamente com a função primeira de celeiro do idioma, a de depositário da cultura veiculada por aquela língua .
Nele, estão contidas as interpretações da comunidade falante sobre fatos, objetos, pessoas, sentimentos, instituições. Sendo considerado um oráculo, é respeitado como obra imparcial que reproduz a língua real social. Na microestrutura dos verbetes estão as acepções do termo-entrada, bem como abonações que apresentam o funcionamento deste termo no discurso dos verbetes. No discurso do dicionário, o sujeito da enunciação é apagado, transmitindo aos leitores/ consulentes a impressão de neutralidade . Porém, a marca do pensar da comunidade, interpretada pelo autor está presente nas definições, sobretudo os termos de campos lexicais mais suscetíveis a preconceitos e discriminações.
A IMPORTÂNCIA DA ESCOLARIZAÇÃO E DO CONTATO COM A MÍDIA NA VARIAÇÃO DE NÚMERO NO PORTUGUÊS FALADO NO RIO DE JANEIRO
Cátia Azevedo de Souza
(UFRJ)
Greice da Silva Castela (UFRJ)
Michel Baptista Vieira Pires (UFRJ)
Anthony Julius Naro (UFRJ)
Este trabalho visa analisar a influência dos fatores contato com a mídia e anos de escolarização na concordância de número no português, com base no levantamento, codificação e análise das marcas de concordância verbal encontradas nas amostras Censo, Recontato e Tendência, respectivamente com 16, 16 e 32 entrevistas. As amostras pertencem ao corpus do Projeto de Estudos do Uso da Língua (PEUL) da UFRJ, têm uma hora de duração cada e foram realizadas com falantes cariocas, de diferentes graus de escolarização, idade e sexo.
As amostras Censo e Recontato possibilitam um estudo do tipo painel no qual se captam as mudanças ocorridas no sistema lingüístico dos indivíduos, já que os mesmos falantes novamente entrevistados após 18 anos. Por outro lado, a amostra Tendências por ser de um outro grupo de informantes possibilitará verificar o rumo das variações na comunidade.
A IMPORTÂNCIA DO HÁBITO DE LEITURA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Mônica de Freitas (UFRJ)
A função principal do trabalho com a leitura é vê-la como um instrumento fundamental para a formação do indivíduo, assim como fornecer meios para que esse indivíduo possa se beneficial e, de forma criativa, interagir em um ambiente reflexivo. Para tanto será necessário que todos os componentes ativos nesse processo incentivem o hábito de leitura, pois dela se extraem elementos básicos para o desencadeamento de pensamentos críticos que estabelecem de maneira dinâmica dentro de uma sociedade, e através desta prática se expande a visão analítica das vivências obtidas entre a troca dessas experiências.
Ao observarmos a questão dos paradidáticos, concluímos que, embora o domínio gramatical contribua em muito para o aprimoramento da construção de texto, ele não poderá ser observado como fator principal para se construir no sujeito o aprendizado da escrita ou da leitura. Por isso se discute também, nesta análise, o enfoque que se dá ao trabalho com os paradidáticos, uma vez que o entendimento obtido de sua dinâmica deve primar-se de objetivos mais amplos, integrados a outros assuntos e disciplinas, e reavaliados em sua prática e métodos aplicativos.
Outra preocupação deste trabalho foi reconhecer o papel do professor diante da prática de leitura, pois, ao estudarmos esta problemática, vimos que ele precisa se comprometer com novas práticas educacionais integradas no processo reflexivo no intuito de melhor compreender o seu fazer educacional.
A INCORPORAÇÃO NOMINAL EM PORTUGUÊS SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DOS PROTÓTIPOS
Maria Elizabeth Fonseca Saraiva (UFMG)
Givón (1995; 2001) e Taylor (1995; 1998), dentre vários outros lingüistas funcionalistas, têm adotado a noção de protótipo em suas análises, reconhecendo que as categorias lingüísticas não são discretas e estanques, mas admitem sobreposições e outros efeitos prototípicos.
Nessa comunicação tenho por objetivo reexaminar a construção de objeto incorporado em português, por mim analisada em outros trabalhos (Saraiva, 1997 e 2001), sob a perspectiva da teoria dos protótipos. Nesse sentido, devo analisar aspectos sintáticos e semânticos dos nomes incorporados, os tipos de verbos que favorecem a incorporação nominal, a distribuição desses constituintes no discurso narrativo e suas funções pragmático-discursivas, dentre outros aspectos. Espero que as conclusões dessa análise possam fornecer evidência a favor de um tratamento prototípico dos fatos lingüísticos, a semelhança dos trabalhos de Givón e Taylor, acima mencionados.
A INFLUÊNCIA DE PERGUNTAS NO USO DO PRONOME DE 1ª PESSOA EM ENTREVISTAS SOCIOLINGÜÍSTICAS
Vera Lúcia Paredes Silva
(Projeto PEUL/ UFRJ
Amanda Beatriz Araujo de Oliveira (graduação-UFRJ)
Bianca da Silva Simões (graduação-UFRJ)
Lina Arao (graduação-UFRJ)
Pesquisa realizada associando o modelo sociolingüístico laboviano a hipóteses de orientação funcionalista, em amostras de fala carioca colhidas em duas épocas distintas (nos anos 80 e vinte anos depois) revelou um quadro de estabilidade no emprego do pronome nessa comunidade de fala, no que diz respeito não só às taxas gerais de uso do pronome sujeito como aos fatores influentes nesse uso. Entretanto, quando se tomam desse conjunto informantes que foram recontactados para um estudo do tipo painel, que compara o comportamento dos mesmos indivíduos em momentos diferentes, constata-se que alguns dentre eles apresentam resultados estatísticos conflitantes nas duas épocas, indicando direções distintas ou inesperadas.
Sabemos que há aspectos de uma entrevista que análises sociolingüísticas não contemplam, seja porque escapam da classificação social convencional, seja porque se referem a questões contextuais cujo tratamento através de categorias discretas é mais problemático.
Neste trabalho discutimos o papel das perguntas nas entrevistas sociolingüísticas. Embora todos os entrevistadores tivessem uma pauta comum e a entrevista sociolingüística em si vise à pouca interferência do entrevistador, a interação entre os participantes nem sempre fluiu da mesma maneira, variando não só o número de perguntas como o tipo de perguntas utilizadas. Uma vez controlados esses aspectos como grupos de fatores na análise quantitativa, os resultados estatísticos comprovaram sua influência na escolha entre presença e ausência do sujeito pronominal de 1ª pessoa.
A INTENSIFICAÇÃO NO PORTUGUÊS CULTO SOTEROPOLITANO
Carlos Alberto Gonçalves Lopes (UNEB)
Esta pesquisa teve como problema central o estudo dos processos de intensificação encontrados na norma urbana culta soteropolitana, sendo que, no desenvolvimento dela, a abordagem seguida foi de natureza pragmático-enunciativa, conhecida também pelo nome de Semântica Argumentativa, segundo a qual, conforme teoria desenvolvida por Ducrot e Anscombre, a linguagem não se limita apenas a exteriorizar um pensamento ou transmitir informações. Ao contrário disso, ela serve, principalmente, para realizar ações, atuar sobre o alocutário, persuadir, argumentar, veiculadora que é de ideologias. Na interação, o sujeito se identifica com aquilo que diz, revelando o caráter subjetivo e dialógico da linguagem. A sistematização dos processos de intensificação ofereceu uma descrição bem ampla do fenômeno da intensificação em nossa língua, que compreende os lexemas operadores da intensidade, os gramemas presos prefixais, os gramemas presos sufixais comparativos, os gramemas presos sufixais superlativos, os gramemas livres operadores da intensidade por natureza, os gramemas livres operadores da intensidade por transferência de sentido, os gramemas livres reforçadores da intensidade, as construções sintagmáticas enfáticas com conotação intensiva, as lexias complexas metafóricas com conotação intensiva, as estruturas comparativas com conotação intensiva e as frases intensivas.
A LEITURA NUM PROCESSO INFORMAL DE ENSINO APRENDIZAGEM
Cintia Castro Leite
(UNIVALE)
Teresinha de Fátima Nogueira (UNIVALE)
Minha experiência na sala de leitura do projeto Vale Criar, um projeto de caráter social que é uma parceria entre o Instituto GM, Univap, Lions Club,e Breda Turismo, que atende crianças e adolescentes entre 09 e 14 anos visando o desenvolvimento do aluno cidadão e da sua auto-estima, revelou que existem possibilidades de desenvolver gosto e o prazer pela leitura e de criar nos alunos o hábito de refletir sobre essas leituras. O referencial teórico adotado neste estudo baseia-se na concepção de leitura da lingüísta Orlandi (1988) que leva em consideração o sujeito leitor e sua historicidade de vida e de leituras. Este trabalho teve como objetivos verificar e analisar o processo de leitura dos alunos do Vale Criar. Os dados foram coletados através das atividades de leitura propostas pela monitora da oficina de leitura e produção de texto. Tais atividades incluíam, entre outras gibis, jornais, poesias, fábulas, livros diversos. Outra forma de coleta foi um questionário aplicado junto aos alunos com o intuito de verificar suas opiniões sobre o ato de ler na oficina de leitura do Vale Criar. Os resultados revelaram que um ambiente informal de ensino-aprendizagem com um número satisfatório de alunos na sala, o livre acesso aos materiais de leitura, o direito do aluno de escolher o que quer ler e a concepção de leitura da monitora são fatores que interferem numa prática de leitura bem sucedida, tornando-a mais prazerosa e efetiva para os alunos.
A LÍNGUA (RE)DES-COBERTA
O ENCONTRO GENEALÓGICO DO HEBRAICO COM O PORTUGUÊS
Andréa Melo Souza
(UERJ)
Isabel Melo Souza (UERJ)
A antiguidade da língua hebraica, bem como a grande influência do judeu na História e, mais especificamente, na História do Brasil, despertou o interesse pela busca das influências daquela língua na língua portuguesa.
O primeiro estranhamento se deu ao perceber que, no primeiro momento da pesquisa, que consistiu no levantamento de palavras indicadas como de origem hebraica, em dicionários etimológicos da língua portuguesa, o número não excedeu a cento e cinqüenta. Sendo que grande parte das palavras levantada é de utilização primeira litúrgica, tendo sua origem no hebraico bíblico. Algumas simplesmente transliteradas.
Por outro lado, a presença maior de palavras de origem árabe, promoveu um novo questionamento. Afinal, se a língua hebraica é anterior à árabe e sua influenciadora, algumas palavras indicadas como de origem árabe poderiam, de fato, vir do hebraico.
Na busca por esta resposta, fez-se necessário um trabalho etimológico com a língua hebraica, identificando as palavras de origem bíblica, anteriores ao árabe.
Este reencontro com o vocabulário hebraico bíblico evidenciou uma influência que poderia ser ainda mais anterior. Assim, o hebraico poderia ter participado da gênese da língua portuguesa, apresentando uma influência que, velada em outras línguas, fosse mais antiga.
O latim revelou a propriedade deste percurso. Afinal, é a partir da Vulgata, tradução latina da Bíblica, que as palavras hebraicas acabam entrando no corpus da língua portuguesa, razão das transliterações.
Neste caminho, fazemos um retrospecto histórico com o povo judeu, perseguindo seus passos em busca de suas marcas na língua portuguesa em busca do seu (des)cobrimento.
A LINGUAGEM JORNALÍSTICA
EM QUESTÃO
OS MANUAIS DE REDAÇÃO E ESTILO
Sérgio Paulo Gomes de Vasconcelos (UNESA)
O trabalho tem por objetivo descrever os manuais de redação e estilo de três dos principais jornais brasileiros: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e O Globo e analisar suas posições com respeito a fatos gramaticais da língua portuguesa. Conforme se demonstra, os manuais de estilo dos jornais, determinadores de seus padrões de linguagem, estabelecem normas mais restritivas que as gramáticas tradicionais, parâmetro de comparação da pesquisa. Na maioria dos casos, os manuais optam pelo emprego de uma única forma, mesmo quando a gramática tradicional aceita e sugere mais de uma possibilidade. O corpus utilizado para a descrição do trabalho envolveu, além das edições das três obras citadas, trinta edições consecutivas de cada um dos jornais cujos manuais são a base da pesquisa. Constatou-se que os manuais, por reduzirem a língua à dicotomia certo-errado, não contribuem de modo positivo para conhecimento crítico da língua. Conseqüentemente, o uso do jornal como melhor exemplário do padrão lingüístico contemporâneo, em prejuízo da convivência que estudantes e leitores devem ter com a língua literária, precisa ser reconsiderado nos campos do ensino e da pesquisa.
A MÁQUINA DO
MUNDO
O OLHAR DO ANJO TORTO SOBRE OS BARÕES ASSINALADOS
Tatiana Alves Soares (UNESA)
Carlos Drummond de Andrade, célebre escritor do modernismo brasileiro e considerado por muitos o maior poeta do país, tem sua estréia literária em 1930, com a publicação de Alguma Poesia.
Em Claro Enigma, obra datada de 1951, a fase social e política encontrada em livros anteriores dá lugar a interrogações de cunho existencial, numa sombria resignação diante da condição humana. Tal angústia pode ser sentida em A máquina do mundo, um dos mais consagrados poemas do autor.
A temática filosófico-existencial contida no poema é intensificada pela inquestionável remissão ao texto camoniano: inserida no canto X d’Os Lusíadas, a miniatura do universo é apresentada por Tethys a Vasco da Gama, num prenúncio de glórias futuras a que estariam destinados os portugueses. A imagem da máquina do mundo, que na epopéia camoniana surge como signo de enaltecimento dos feitos gloriosos lusitanos, aparece redimensionada no poema drummondiano. É desse redimensionamento, observado em seus aspectos estilísticos, históricos e imagísticos, que trata o presente estudo.
A MORTE DAS LÍNGUAS
João Bittencourt de Oliveira (UERJ)
A morte ou o desaparecimento de línguas sempre ocorreu ao longo da história da humanidade. Do mesmo modo que muitas culturas atingiram sua mais alta forma de expressão e, posteriormente, por várias razões, entraram num processo de decadência, as línguas que lhes serviram de suporte acompanharam essa trajetória e também sucumbiram.
Algumas línguas do período clássico nos legaram alguns registros, como inscrições em pedra, tábuas de barro, documentos manuscritos, etc. É o caso, por exemplo, do frígio (língua indo-européia antiga, conhecida por uma série de inscrições em caracteres gregos), do etrusco (língua falada pelos etruscos, povo que surgiu no final do século VIII a.C., na Toscana, e cuja origem é discutida), do sumério (língua falada na Suméria antes da invasão dos semitas, desaparecida no II milênio a.C.), do hitita (língua falada pelos hititas, na Anatólia central, cuja queda data dos séculos XIII-XII a.C.).
Gira em torno de 75 o número de línguas que se falavam na Europa e na Ásia Menor e que deixaram algum registro. Porém, esse número constitui apenas uma fração de um universo de línguas de que não se tem nenhum registro.
Nesse trabalho, pretendemos, de maneira sucinta, com base nas pesquisas do lingüista David Crystal, da University College of North Wales, formular para reflexão e debate as seguintes perguntas:
1) Quantas línguas existem atualmente no mundo?
2) A que proporção estão as línguas desaparecendo?
3) Quantas línguas ainda são faladas por um número inferior a 1.000 pessoas?
4) Quais são as causas da morte ou extinção de uma língua?
A ORAÇÃO
REDUZIDA DE PARTICÍPIO EM LATIM E PORTUGUÊS
O ABSLATIVO ABSOLUTO
Janaina Vogel Canete
(UFF
Marcia Figueiredo de Assis (UFF)
Lívia Lindóia Paes Barreto (UFF)
Neste trabalho, teremos como objeto de estudo a oração reduzida de particípio (presente e passado), sempre tentando estabelecer um elo entre o latim e o português, com enfoque específico de sua função sintática na oração.
Muitos afirmam que o latim é uma língua morta. Se pensarmos sob o aspecto de uma língua imutável no tempo e no espaço, então, de fato, o latim não existe mais. Indo mais longe, se a condição para a existência de uma língua consiste na estabilidade de sua estrutura, conclui-se que nenhuma língua tem condições de existir, já que sendo inerente ao homem - ser eternamente mutável - ela encontra-se em um permanente processo de mudanças.
Partindo de conceituações propostas por Ernout, Said Ali, Celso Cunha e Ernesto Faria, direcionaremos nosso estudo para a verificação da permanência ou modificações na sintaxe da oração reduzida de particípio do latim até o português na tentativa de mostrar que o latim nãp está morto, ele apenas modificou-se nas diversas regiões onde era falado, resultando, assim, nas línguas latinas.
A ORDEM (MORAL) DO DISCURSO E O DISCURSO SOBRE A (ORDEM) MORAL
Mara Conceição Vieira de Oliveira (UFJF)
Este estudo procura analisar a estrutura do discurso religioso institucionalizado, apontando criticamente para as maneiras como ele se organiza: sua autoridade e suas formas de poder. Verificar-se-á alguns dos procedimentos de controle assumidos por este discurso, usando como suporte teorias filosóficas de Michel Foucault e Friedrich Nietzsche.
A ORDENAÇÃO
DOS ADVÉRBIOS BEM E MAL
UM PROCESSO DE MUDANÇA?
Tatiana Reis Fontes Monteiro (UFRJ)
Este trabalho consiste na análise da ordenação dos advérbios bem e mal no português atual em comparação com estágios anteriores da sua evolução histórica. Objetiva-se detectar o que houve de mudança (ou estabilidade) em relação à distribuição desses elementos na sentença e que processos regulam suas tendências de ordenação. Serão demonstrados os usos dos advérbios, investigando a sua função e a sua colocação em relação aos verbos, aos adjetivos e aos outros advérbios a que se referem, considerando que a colocação na sentença está intimamente relacionada à função que desempenha no discurso. Sob ótica diacrônica, procurou-se estabelecer uma comparação entre os usos observados na fase arcaica, no século XIX e na fase atual, a fim de averiguar se houve ou não mudança no tempo, buscando explicações para o fenômeno observado. As hipóteses utilizadas são a descrita em Martelotta, Barbosa e Leitão (2001), que propõem que a posição pré-verbal era disponível a todo o tipo de advérbio até o século XVIII, contrariando a tendência que vigora do século XIX em diante, e o princípio da iconicidade, ou, mais especificamente, o subprincípio da proximidade (Givón, 1990 e Ungerer e Schmid, 1999), segundo a qual elementos que possuem relação semântica mais estreita tendem a ser colocados mais próximos na sentença.
A ORGANIZAÇÃO TÓPICA EM SEQÜÊNCIAS DIÁRIAS DE TIRAS DE QUADRINHOS
Maria da Penha Pereira Lins (UFES)
Fundamentando-se a partir de uma perspectiva funcionalista do discurso, que vê o desenvolvimento de tópicos nortendo-se pelo princípio da centração, que significa "falar-se de alguma coisa" e que define a fronteira de tópicos distribuídos em segmentos sucessivos, é possível descrever a organização tópica em seqüências de tiras diárias de quadrinhos, com base no método formulado por Koch et al. (1992), cujo recorte para análise é a unidade-tópico. Esse método é esquematizado em três etapas: 1) identificar e delimitar unidades tópicas; 2) caracterizar as relações de interdependência hierárquica e linear entre elas e 3) detectar traços reveladores da estrutura interna das unidades tópicas. Isso possibilita verificar a relevância do tópico discursivo no desenvolvimento de textos constituídos de seqüências de tiras diárias de quadrinhos, no sentido de que é a estruturação tópica que funciona como fio condutor da organização discursiva.
A PAIXÃO DE LER CAMÕES (A LÍRICA)
Lucia Maria Moutinho Ribeiro (FSJ/UNIRIO)
Ao abordar a lírica camoniana não se pode desconhecer o problema ecdótico que a envolve devido ao fato de o poeta não ter presidido a sua publicação enquanto vivia. Considerado o clássico da língua portuguesa por excelência, não deixou de cultivar os gêneros, na sua época, tradicionais, como as graciosas redondilhas. Mas a produção clássica de medida e feição italiana conserva ainda em certos poemas a concepção medieval da amada, em outros já se vê o amador dividido entre o impulso carnal e a aspiração espiritual, expandindo, assim, o seu maneirismo. A permanência de Camões se verifica na obra de Vinícius de Morais e Carlos Filipe Moisés traduzida numa visão contemporânea do amor. Pretende-se, portanto, fornecer um painel das composições mencionadas acima.
A QUESTÃO DAS MINORIAS LINGÜÍSTICAS NA ITÁLIA
Veridiana Aderaldo Skocic (UERJ)
Quantos são os italianos que não falam italiano?
Mais concretamente a nossa interrogação inicial refere-se aos italianos que não falam somente o italiano. De fato, quase todos aqueles que pertencem a grupos lingüísticos minoritários na Itália conhecem e usam também a língua nacional prevalente.
A questão das minorias lingüísticas, tradicionalmente ignorada, tem origem, certamente, na matriz histórica da qual deriva a unidade nacional italiana, na medida em que a unidade lingüística era vista como motivação para a obtenção da independência da península; daí a dificuldade em considerar não só legítimo, mas também enriquecedor o uso de outras línguas.
Nos últimos anos, entretanto, este conceito vem sendo reformulado e hoje a expressão beni culturali - “bens culturais” - não mais refere-se somente a monumentos, edifícios e obras de arte, mas também a testemunhos vivos; testemunhos estes étnicos, folclóricos e lingüísticos que reenlaçam passado e presente da história italiana e européia. Tomemos como exemplo alguns territórios do Vale d'Aosta e Piemonte onde é consistente a presença de grupos lingüísticos franco-provençais, ou ainda, as províncias de Cosenza e Foggia onde a influência da língua d'oc é profunda.
Enfim, qualquer que seja a região,a miscelânea lingüística relaciona-se direta ou indiretamente com as vicissitudes da península itálica,as quais integram um patrimônio de memória, costumes, tradições, etc; um patrimônio que deve ser preservado na medida em que representa um testemunho precioso do passado.
A REPRESENTAÇÃO DA ORALIDADE NA ESCRITA DOS ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS
Denise Durante (USP)
A análise da linguagem urbana culta demonstra a aceitação de marcas características da fala popular entre os falantes cultos, mesmo em contextos formais, o que indica a adoção de uma nova atitude lingüística nas últimas décadas, em nosso país. Essa transformação está atrelada a diversas mudanças sociais ocorridas, no Brasil, a partir da década de setenta, dentre as quais se destaca a influência da norma empregada nos meios de comunicação de massa sobre o uso lingüístico comum.
No contexto da comunicação de massa, verificamos que a língua escrita, veiculada nos anúncios impressos, reproduz elementos característicos da conversação oral espontânea e da linguagem popular, com fins expressivos, através de: simulação de identidade espaço-temporal com o leitor; utilização de dêiticos; incorporação do tom de coloquialidade da língua falada com o emprego de frases feitas, gírias, expressões e ditos populares; imitação de hesitações e alongamentos, dentre outros.
Sendo assim, o objetivo de nosso trabalho é discutir a representação da oralidade na escrita e suas relações com a nova atitude lingüística manifesta nas últimas décadas, através da análise de anúncios publicitários recentes. Entendemos que a difusão nacional e maciça da linguagem dos anúncios estimula a fixação de muitos usos lingüísticos considerados não-cultos, contribuindo para a aceitação dos usos populares mesmo entre os falantes cultos.
A TERMINOLOGIA E A FIXAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM MOÇAMBIQUE
Fátima Helena Azevedo de Oliveira (UFRJ)
Na presente investigação científica toma-se por base que existe uma variante africana da língua portuguesa (doravante Lp). O contato freqüente com línguas do tronco banto, comuns na região, conferiram a esta variante da Lp um colorido local.
Através da análise dos termos da culinária moçambicana realiza-se levantamento dos termos. Aponta-se a Terminologia, enquanto ciência que estuda as linguagens especializadas, como uma possibilidade de fixar, através de glossário, a Lp em uso na região de Maputo-cidade, capital de Moámbique.
A TRA(D)IÇÃO DOS NOMES NA LAVOURA ARCAICA, DE RADUAN NASSAR
Regina Céli Alves da Silva (UniverCidade)
À mesa das refeições, a divisão da família, em torno da qual gira o enredo do romance Lavoura Arcaica, fica, simbolicamente, representada. À direita do pai, sentam-se os filhos que representam a continuação da ordem de valores ali impostos. À esquerda, do lado da mãe, sentam-se aqueles que rompem, de alguma forma, o feixe de proibições e valores tradicionalmente estabelecidos. No entanto, ao fazermos a leitura dos nomes próprios dos membros da família, percebemos que cada um deles, tidos como signos, apresenta uma carga de significados que, ao mesmo tempo que os aprisiona às leis fixadas pelo pátrio poder, também é capaz de libertá-los da ascendência do pai/Pai. Sendo assim, ler o feixe de significações embutido nos nomes das personagens de Lavoura Arcaica permite-nos observar, na estrutura romanesca, a relação articulada entre tradição e traição de valores fundamentados numa ordem patriarcal.
A TRADUÇÃO
LITERÁRIA
UM CAMPO INTERDISCIPLINAR
Alba Olmi (USCS/RS)
O trabalho se propõe a discutir diferentes abordagens da tradução literária, defendendo um enfoque voltado à fidelidade criativa ao texto-fonte, a seus aspectos estilísticos, pragmáticos e sociolingüísticos, isto é, um enfoque lingüisticamente orientado.
A TRANSFORMAÇÃO DO SUPER HOMEM ATRAVÉS DA EVOLUÇÃO DOS TEMPOS
Erika Kress
(UNINCOR)
Evanil Rodrigues Fernandes (UNINCOR)
A Teoria da Literatura não se preocupa só com a Literatura Canônica, mas também com outras práticas verbais até então consideradas apenas como cultura de massa. Ao investigar as HQs como forma narrativa não se pode ignorar que elas devem ser examinadas também sob o ponto de vista filosófico, visto que caracterizam por uma atitude reflexiva que tende a afastar de seu âmbito o kitsch e a banalidade. Difundidos em revistas e jornais, os quadrinhos se tornaram um dos mais importantes veículos de comunicação de massa e criaram linguagem própria, com uma série de signos inovadores, em grande parte incorporada posteriormente pelo cinema, pela televisão e pela publicidade. As tirinhas de jornal e as revistas de HQs, tornaram-se inquestionavelmente o maior e mais influente campo icnográfico da história, com bilhões de ilustrações produzidas desde 1900 ou um pouco antes. Essa produção certamente representa a mitologia gráfica dominante no Século XX. Vimos, em Literatura e outras Práticas Culturais, que as Histórias em Quadrinhos é hoje, considerada a 8ª Arte - uma mistura de técnica mista de desenho e palavra. Este trabalho fará uma abordagem do Super Homem, desde a sua criação, onde figurava à semelhança de um extraterrestre, sua primeira aparição foi em preto e branco, chegando aos dias de hoje com um super-herói eletrizado, multicolorido, acompanhando o avanço do progresso tecnológico. O personagem faz enorme sucesso e alavanca produtos secundários como bonecos, roupas, jogos e até filmes.
A VARIAÇÃO NA ORDEM ORACIONAL EM PAUMARI (FAMÍLIA ARAWÁ)
Aline Cristine de Oliveira Duarte
Fabiana Frade de Andrade
Savana Apolinário Fontes
A língua Paumarí apresenta uma grande variação da ordem dos constituintes, no nível oracional, sendo encontrados os seguintes tipos nas construções transitivas: SVO, SOV, OSV, OVS. Nas construções intransitivas também se observa variação: VS, SV. Os dados a seguir mostram essa ocorrência:
(I) Jomahia binanahi ida isai SOV
cachorro mordeu dem. criança
"O cachorro mordeu a criança"
(II) Binaabinihi ida horairi Gisia VOS
matou dem. Veado Gisi
“Gisis matou o veado”
(III) Ihai ida isaia binofija OSV
remédio dem. Criança querer
“A criança queria o remédio”
O objetivo desta comunicação é então determinar uma ordem oracional básica e estabelecer os fatores condicionantes dessa variação, à luz da Gramática Gerativa ( Mioto et Alii, 1999).
Para alcançarmos o nosso objetivo, levaremos também em consideração, os sistemas de marcação de caso (ergativo e nominativo) existentes na língua, uma vez que parece haver uma correlação entre o caso e a ordem dos sintagmas nominais.
A VERDADE DIVINA DA BÍBLIA E SUAS MUNDANAS TRADUÇÕES: ESTUDO CRÍTICO DE ALGUMAS TRADUÇÕES DA SANTA BÍBLIA
Rafael Lanzetti (UFRJ)
Por que Deus, em sua Divina Sabedoria, submeteria Sua Palavra a transcrições em línguas humanas, tão falhas e imperfeitas? Até que ponto a Bíblia, enquanto Livro Sagrado para os cristãos de todo o mundo, é ‘ferida’ pelas diversas traduções em diferentes línguas, principalmente por parte dos protestantes, historicamente os maiores divulgadores dos Escritos Sagrados?
O autor demonstrará o quão falhas podem ser as traduções deste Livro que sobreviveu a inúmeras perseguições ao longo de pelo menos XXII séculos e tentará provar que interpretações falhas e incorretas podem levar milhões de pessoas a acreditarem em teses altamente contestáveis sobre D’’us e Sua Criação. Traduções em 8 línguas européias serão utilizadas e exemplos de ‘imperfeições’ tradutórias serão devidamente demonstrados.
A VOZ FEMININA À LUZ DA BÍBLIA
Olga dos Santos Caixeta Vilela
Marília Ferreira Pinto Silva
(UNINCOR)
O presente artigo mostra uma leitura à luz de uma linguagem diacrônica sobre a presença da mulher no mundo e o seu papel que foi excluído da possibilidade de SER social pela visão machista do homem. O texto em análise, “Bíblia Feminina” de Frei Beto, narra fatos que avaliam a presença da mulher e o seu desejo de ter voz ativa e soante no meio em que vive, chamando à atenção, tanto o homem quanto a mulher para a necessidade de se reavaliar o pensamento que habita o mundo em plenos séculos XX e XXI.
ABORDAGEM FUNCIONAL E ESTÉTICA DO TEXTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Gisele Moço Moreira (UERJ)
A pesquisa trabalha com turmas de 1ª a 4ª séries da Educação Infantil (antigo primário). As crianças, de maneira geral, aliam a intuição lingüística à curiosidade natural, tirando partido do desconhecimento de regras e conceitos, sentindo-se livres. Utilizamos textos adequados à faixa etária em questão, em prosa e poesia.
O objetivo é fazer com que percebam, no texto, manifestações lingüísticas referentes à forma e ao conteúdo, de maneira que aprendam por si mesmas. Não há um direcionamento, ao contrário, o professor é apenas deflagrador, deixando os alunos à vontade para se posicionarem criticamente em relação ao que foi lido. Vivenciamos isso no decorrer das atividades.
Inicialmente, tudo é novidade. Há um certo estranhamento, pois estão acostumados a receberem teorias para depois fazerem exercícios e, conseqüentemente, memorizá-los. No estudo em questão, o que ocorre é exatamente o contrário: apreendem ao mesmo tempo em que realizam as tarefas.
Após a primeira aula, sentem-se mais relaxados e familiarizados com o método, perdendo o receio de exteriorizarem suas opiniões.
É gratificante vermos a realização dos objetivos, pois os alunos conseguem perceber os fenômenos lingüísticos mesmo sem classificá-los. O essencial não é dar nomes, mas identificar os recursos lingüísticos construtores do texto. Revela-se uma experiência impactante e inusitada, pois os alunos têm a liberdade de expressarem suas idéias como quiserem, com suas próprias palavras.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO LEXICAL NOS DISCURSOS NAS PSICOSES
Rosemary Caetano (UFF)
Porque fala e vive em sociedade, o homem está imerso num universo de símbolos. Os simbolismos sócio-cultural e lingüístico impõem-se com suas estruturas, como ordens já constituídas, antes da entrada que neles faz o sujeito. É, portanto, a maneira como o sujeito faz sua entrada na ordem simbólica o que irá determinar toda a sua relação posterior com a linguagem. Para a Psicanálise, um modo diferente de entrada na ordem simbólica irá situar o sujeito na estrutura psíquica das psicoses, que apresenta como uma de suas marcas principais os distúrbios de linguagem. As psicoses podem, portanto, ser caracterizadas por uma alteração do uso do signo lingüístico, embora tal alteração tome forma diferente na paranóia e na esquizofrenia. Neste trabalho, apresentaremos algumas considerações sobre os discursos de pacientes em estados de psicoses - esquizofrênicos e paranóicos -, no que concerne à questão lexical, buscando um relacionamento entre esses dois tipos de psicoses e algumas alterações no uso do signo lingüístico.
ALGUNS ASPECTOS PRAGMÁTICOS NA CONSTRUÇÃO DOS ENUNCIADOS DO CONTO MACHADIANO “CANTIGA DE ESPONSAIS”
Luciana de Jesus Dias
Os estudos lingüísticos têm apresentado uma diversidade de trabalhos com temas e objetivos tão variados quanto complexos, a partir das contribuições de Saussure no seu curso de Lingüística Geral.
Saussure foi o pioneiro em estudar, de modo científico, o fenômeno lingüístico por meio da célebre dicotomia “langue/parole”.
Com o progresso nessa área do conhecimento, avanços surgidos em análises da língua enquanto sistema de signos, numerosas discussões sobre sua estrutura e funcionamento; começa a haver um interesse crescente dos lingüistas por outra interface da língua: a “parole” ou fala.
A realização da fala constitui o discurso, e este é exatamente o ponto que nos propomos desenvolver neste presente trabalho. Discutiremos os elementos pertencentes à linguagem na sua concretização, antes excluídos pela lingüística saussuriana. À luz dos estudos pragmáticos, entendidos como o estudo do uso lingüístico, esboçaremos um exame do discurso do conto “Cantiga de Esponsais”, escrito por Machado de Assis, procurando identificar suas marcas enunciativas: como o sujeito ou “sujeitos” que produzem tal discurso; as marcas de pessoa, tempo e espaço do enunciado e da enunciação; a polifonia e o dialogismo; o discurso direto e indireto, segundo as concepções de Benveniste e Bakhtin.
Segundo Benveniste, um falante se assume como autor do seu discurso no momento em que se define como EU e, com este ato, acaba por eleger seu interlocutor: TU, proporcionando uma situação de troca ou interação. Isso é o que aponta o primeiro parágrafo do conto: o autor apresenta seu interlocutor como uma leitora (mais adiante, ele converte em leitores) que compartilha o mesmo tempo presente, convidando-a para uma narrativa que acontece em “tempos remotos”. Ao serem demarcados no texto o locutor e seu interlocutor, note-se que o tempo e o espaço referentes a eles são distintos do tempo e espaço referentes aos fatos narrados.
Outra questão bastante interessante diz respeito aos conceitos que Bakhtin tece: polifonia e dialogismo. Estas noções vão aquém aos ensinamentos de Benveniste, por considerar que o OUTRO (a não-pessoa; o ele) também participa na construção do sujeito, na medida em que o sujeito do discurso espelha uma formação cultural recebida através do discurso de outros indivíduos, ou seja, reflete uma ideologia. Como, por exemplo, o uso das aspas no segundo parágrafo, indicando os comentários do enunciador dentro do discurso do narrador.
A polifonia se realiza nas várias vozes presentes na constituição dos sujeitos nos discursos do referido conto; encontram-se latentes diversos EUs: o enunciador, o narrador do texto, os locutores da fala citada - expressa pelo discurso direto. Essas distintas vozes são assinaladas por marcas lingüísticas como o uso das aspas e travessões, uso dos verbos dicendi, funcionando como mecanismos que introduzem diferentes responsáveis pelos enunciados.
Enquanto o dialogismo é uma característica inerente ao próprio discurso, é uma particularidade sua. Logo, aquilo que é dito pelo sujeito, baseado nos outros textos ou discursos acumulados nas suas experiências culturais, resulta num texto dialógico. A polifonia é a representação material desse dialogismo.
Conclui-se, deste modo, que a linguagem é de natureza heterogênea, e o discurso como concretização desta, tem seus vários cooperadores.
ALGUNS TERMOS EM LINGÜÍSTICA HISTÓRICA
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)
A fase da Lingüística do século XIX anterior ao Curso de Lingüística Geral 1916, é conhecida por todos como Lingüística Histórica . Este aspecto da Lingüística diz respeito às mudanças que passam as línguas de uma época para outra ou de um sistema lingüístico para outro. Neste trabalho, abordamos os termos que nomeiam os processos de mudança lingüística na passagem da língua latina para as línguas românicas. Nosso objetivo é levantar os termos que nomeiam estes processos de mudança e defini-los seguindo as orientações terminológicas. Os termos foram levantados em livros, gramáticas históricas e dicionários. Foram organizados em três campos conceituais: os tipos de latim, variedades de língua e mudanças históricas. Foram coletados e definidos mais de 200 termos através das informações contidas nos contextos em que apareciam.
ANA MARIA
MACHADO:
O ADJETIVO COMO ELEMENTO DE COMPARAÇÃO
Anete Mariza Torres Di Gregorio (UNIG)
O trabalho visa, além de revelar a subjetividade criativa do estilo de Ana Maria Machado, a analisar o potencial expressivo-comunicativo da Língua Portuguesa, manifestado por meio da adjetivação. Partindo de reflexões em torno das conceituações tradicionais e modernas do adjetivo, apresentamos a perspectiva ampla da Estilística sobre a classe dos adjetivos através dos usos artísticos inéditos ou ressignificados pela autora. Dentre as particularidades expressivas da obra não-infantil de Ana Maria, no tocante ao adjetivo e suas representações, elegemos para o momento o recurso lingüístico-estilístico da comparação. Em diversas passagens de sua obra, a autora facilita a apreensão da mensagem, oferecendo ao leitor imagens através da comparação - elemento caracterizador por excelência - que retratam a sua visão de mundo sob o aspecto da afetividade. Usa o adjetivo como imagem condensada, explorando o seu poder visualisador, comunicando cor, nuança e vivacidade à expressão e despertando a sinestesia.
ANÁLISE ONOMASIOLÓGICA DE UM CONTO DE MACHADO DE ASSIS
Maria Lucília Ruy (USP)
Com base no conto Uns Braços, de Machado de Assis, a presente Comunicação visa ao estudo das palavras, tendo em vista o seu verdadeiro significado, o seu real sentido, que às vezes é encontrado não no étimo, mas na própria história do vocábulo.
O presente Estudo visa também à comprovação do fato de que Machado de Assis, ao dispor de palavras suficientes e adequadas à expressão do seu pensamento de maneira clara, fiel e precisa, dá ao leitor melhores condições de assimilar conceitos, de refletir, de julgar. E que a própria clareza das idéias está intimamente relacionada com a clareza e a precisão das expressões que as traduzem. As palavras são o revestimento das idéias e, sem elas, é praticamente impossível pensar.
Além disso, esta Comunicação, através do método onomasiológico - o estudo das denominações - buscará os aspectos vivos e as forças criadoras da linguagem utilizada por Machado. A análise dessa linguagem, até mesmo do ponto de vista sonoro e onomatopaico, permitirá “ver a cultura do povo, cuja língua se estuda:, costumes, ocupações, crenças e crendices, enfim, sua mundividência. Permite sentir a linguagem viva, traduzindo a vivência cultural do povo.” ( BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de Filologia Românica. São Paulo: Edusp. 2001)
Através desse método, portanto, o presente Estudo procurará comprovar que Machado de Assis, com a linguagem que utiliza, estabelece para o leitor a relação entre as personagens e informa as circunstâncias em que se dá a ação. Consegue comunicar também a posição social - a condição hierárquica - de Inácio e de Da. Severina em relação a Borges.
Resumo do Conto
Uns Braços conta a história de Inácio - adolescente pobre enviado pelo pai, à casa do solicitador Borges para com ele trabalhar, visando à melhoria de sua vida. Com a convivência, Inácio apaixona-se por dona Severina, esposa de seu “protetor”. Ou melhor, pelos braços dela. Porém, também a ela acontece de se sentir atraída pela meninice do rapaz; um fugaz arroubamento dela por ele. Uma atração que explode num beijo, dado por ela nele dormindo, mas, bruscamente interrompida quando ele é despedido, por um pedido dela ao marido, com certeza atemorizada pela ação que praticara, num gesto tremendamente enlouquecido (de amor?).
APLICAÇÃO DO GÊNERO
TEXTUAL “FRASES”
EM SALA DE AULAS
ESTUDOS LEXICOLÓGICO E SINTÁTICO-DISCURSIVO
Cleide Emília Faye Pedrosa
(UFS e UFPE)
Geralda de Oliveira Santos Lima (UFS e UNICAMP)
EMENTA
Gênero Textual. Lexicologia. Lexicologia Semântica. Pragmática. Sintaxe. Discurso
JUSTIFICATIVA
Este gênero textual “Frases” pode se mostrar um bom exemplo de textos para as aulas de Língua Portuguesa. Sua análise contempla os aspectos social, histórico e político entre outros. Seu uso em sala de aula atende as sugestões dos Parâmetros Curriculares Nacionais, quando sugere a diversidade de gêneros em sala de aula.
OBJETIVO
O que pretendemos com “Aplicação do gênero textual “Frases” em sala de aula: estudo lexicológico e sintático-discursivo” é verificar como esse gênero textual pode se tornar um recurso didático produtivo para o estudo da língua em uso.
PROGRAMA
Conteúdos: Gênero textual
Lexicologia semântica e pragmática
Os efeitos de sentido a partir da escolha lexical
Estudo das informações implícitas
Elementos da sintaxe-discursiva
RECURSOS
Transparência. Xerox dos textos /exemplos
APRESENTAÇÃO DO DICIONÁRIO DE USOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Francisco S. Borba (UNESP/CNPq)
O Dicionário de Usos do Português do Brasil se apresenta como um dicionário da língua escrita no Brasil na segunda metade do século XX. A preocupação de registrar o uso efetivo do sistema lingüístico, num período e local bm determinados, torna-o, em vários aspectos, diferente das outras obras do gênero.
O conjunto das entradas foi estabelecido a partir de um corpus da língua escrita em prosa no Brasil a partir de 1950, num total de mais de setenta milhões de ocorrências de palavras em textos de literatura romanesca, dramática, técnica, oratória e jornalística, com absoluta predominância desta última, por ser aí que as palavras mais circulam. Esse critério de ocorrências ajudou a disciplinar a entrada de muitas palavras que habitualmente não têm registro ou têm registro muito reduzido em nossos dicionários.
A montagem de cada verbete a partir da palavra-entrada obedeceu a critérios ligados ao modo como a língua se organiza. Além de apresentar uma seleção de traços taxonômicos, que têm por objetivo orientar as definições e torná-las mais claras e acessíveis, contextualiza-se o uso da palavra. Para melhor se entender o uso, optou-se por registrar as estruturas sintáticas ligadas ao sistema de complementação da língua, o que atinge não apenas os verbos, mas também os nomes, os adjetivos e até certos advérbios.
Para cada acepção há uma ou mais de uma abonação, que é o contexto em que a palavra ocorre, e que mostra como ela está efetivamente sendo usada. A adoção de contextos reais é útil ainda quando uma mesma palavra tem várias acepções, cujas diferenças uma simples listagem dificilmente esclareceria. Além disso, e residualmente, as abonações registram certas particularidades morfológicas, como plurais oscilantes, plural de formas compostas, irregularidades verbais etc.
Completa o conjunto das informações a anotação do registro de usos: coloquial, chulo, grosseiro, solene etc., além dos regionalismos, sempre que possível.
Elaborado a partir dessas diretrizes, o Dicionário de Usos do Português do Brasil vem a ser instrumento indispensável para o uso correto da língua portuguesa.
ARGUMENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL EM TESTES INTERATIVOS
Thereza Maria Zavarese Soares
(UERJ)
Marísia Teixeira Carneiro (UERJ)
Os testes publicados em revistas destinadas ao público feminino adolescente, devido à variedade de temas abordados, como namoro e comportamento, buscam auxiliar as jovens leitoras a formar opinião sobre si mesmas e sobre o outro. Para isso, é preciso que esses textos apresentem uma organização discursiva que vise a persuadir as leitoras através da veiculação de valores socioculturais. Diante desses fatos, este trabalho vem apresentar os resultados da pesquisa intitulada Mecanismos discursivos em textos da mídia, que teve por objetivo analisar, com base na Semiolingüística de Patrick Charaudeau (1992), o modo como o sujeito enunciador emprega os diversos componentes e procedimentos que constituem o modo de organização do discurso argumentativo, a fim de atingir o público leitor com representações presentes em inúmeras instâncias de interação social. Essas representações correspondem a valores semânticos identificados como procedimentos que caracterizam esse modo discursivo. O corpus analisado é constituído por quatro testes retirados das revistas Atrevida e Todateen. Como referência teórica da análise do fenômeno de representação social, adotou-se a teoria de Denise Jodelet (1999), que define esse conceito como “uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado” (p.53). Portanto, foram analisados os mecanismos argumentativos e os valores semânticos referentes à representação social do gênero masculino, com os quais se constróem as identidades dos sujeitos protagonistas do projeto de fala.
AS CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA ITALIANA EM DIÁLOGOS ESCRITOS DA INTERNET
André Luis Yamaguti
O intuito deste trabalho é analisar as características da língua italiana nos diálogos escritos da internet.
Com o advento da comunicação virtual por meio das “salas de bate-papo” (chats), um novo gênero textual surgiu: o diálogo escrito em tempo real. No entanto, embora a comunicação entre os usuários seja chamada de “bate-papo”, ela ocorre por meio da escrita, a qual, por sua vez, não pode ser descrita essencialmente a partir do seu modelo prototípico, uma vez que assimila determinadas características da língua falada, tais como a troca de turno, marcadores conversacionais e metaplasmos de ordem fonética.
Funcionalmente, sabe-se que a forma do texto não é arbitrária, pois forma e função textuais correlacionam-se. Convém expor que o termo função não deve ser interpretado isoladamente, mas levando-se em conta os papéis sociais dos interlocutores do discurso, o contexto situacional de produção textual e o canal comunicativo, o qual, por si só, imprime suas próprias características ao texto, seja porque impõe limitações técnicas e físicas de um lado, e porque proporciona recursos e facilidades de outro.
A interferência da oralidade na língua escrita dos “chats” ocorre devido ao mecanismo natural de evolução da língua: primeiramente, surgem as mudanças lingüísticas na língua falada, as quais, após um processo de “cristalização”, são aceitas e incorporadas pela sociedade como um todo, seja na fala ou na escrita, transformando em regra o que antes era marginal à norma culta.
Enfim, observar e analisar a dinâmica desses diálogos significa, hoje, prever o futuro da língua italiana de amanhã.
AS CATEGORIAS SEMÂNTICO -LEXICAIS NO ÂMBITO DAS LINGUAGENS DE ESPECIALIDADE
Leandro Zanetti Lara (UFRGS)
Este trabalho, desenvolvido no Projeto INTERCON/UFRGS, consiste numa investigação semântico-lexical das categorias nas quais se organizam os itens lexicais das linguagens de especialidade, com vistas ao estudo das definições terminológicas. Entende-se aqui organização lexical como classificação dos termos de um determinado léxico em categorias estruturais específicas, correspondentes à sua categorização conceptual e referencial (semântica). Para tal, tomamos como objeto de análise a linguagem de especialidade da Análise Sensorial Enológica, subárea da Enologia. A partir dos dados provenientes do banco terminológico de Enologia disponibilizado pelo Projeto INTERCON, selecionou-se um corpus constituído por 319 termos, obtidos por meio de tratamento automático. Numa primeira análise deste corpus, foram investigadas as características referenciais e os processos de denominação dos termos da área de conhecimento em estudo, considerando-se o léxico como fixador das representações e produtor de ontologia, nos termos de Danièle Dubois (1999). Esta primeira análise, que tratou da questão da referência terminológica foi, então, ampliada com a investigação da relação categoria/conceito, com base nos estudos de Taylor (1995) acerca das categorias prototípicas, do conhecimento lingüístico versus conhecimento enciclopédico e da extensão categorial.
ÀS MARGENS DOS SERTÕES... (LEXICOLOGIA)
Maria Lúcia Mexias Simon (USS)
Uma das possíveis causas de o número de leitores de “Os sertões” não ser dos mais elevado está, talvez no fato de ser a obra quase tão difícil de desbravar quanto o próprio sertão. Seu volume, acrescido a um vocabulário repleto de regionalismos, arcaísmos, tecnoletos, assustam, um pouco, o leitor não aficionado a desafios dessa ordem. Porém, é exatamente nesse aspecto que reside seu fascínio. O vocabulário rico, a par de uma descrição seca, contudo pormenorizada, a construção sintática peculiar, o uso de figuras de estilo de forma inesperada, pelo caráter da obra, apresentam uma brenha tão áspera, inóspita e sedutora quanto seu próprio cenário. Depois do Conselheiro e depois de Euclides o sertão e a visão do sertão nunca mais foram as mesmas.
AS MEMÓRIAS DO DR. REMÉDIOS MONTEIRO
EDIÇÃO DE UM DOCUMENTO PESSOA E SUAS IMPLICAÇÕES
Rita de Cássia Ribeiro de Queiroz (UEFS)
O Dr. Joaquim Remédios Monteiro nasceu em 16 de novembro de 1827 a bordo do navio Nossa Senhora do Socorro, no trajeto entre Goa e Brasil, vindo a falecer em 4 de julho de 1901. Escreveu suas Memórias com o objetivo de deixá-las para sua única filha, D. Elvira Monteiro. Estas foram escritas em 67 folhas de um caderno, tipo escolar, medindo 220mm X 170mm, em tinta preta.
Apresentar-se-á a edição destas Memórias com ênfase nas implicações que este tipo de atividade provoca.
AS PREPOSIÇÕES
PORTUGUESAS E ITALIANAS
ANALOGIAS E CONTRASTES
Flora Simonetti Coelho (UERJ)
Este trabalho pretende estabelecer parâmetros que permitam ao estudante do italiano como segunda língua (L2) reconhecer as diferenças morfológicas e sintáticas desta classe de palavras em cada uma das duas línguas.
É muito comum que o aluno, ao aprender uma nova língua, tenha como ponto de partida a sua língua mãe, cujo uso domina desde a infância. Sendo assim, não raro ocorrem fenômenos de transposição, em que características da L1 são embutidas na L2, gerando construções frasais incorretas do ponto de vista gramatical.
O problema da transposição se torna ainda mais recorrente quando as línguas em foco pertencem a uma raiz comum como ocorre como a portuguesa e a italiana, ambas com origem no latim.
Neste sentido, o trabalho comparativo sobre a forma e o uso das preposições tanto numa língua quanto noutra revela-se de grande utilidade, porquanto permite ao aluno, de forma particular, e aos estudiosos das duas gramáticas, de modo geral, uma maior visualização e um melhor entendimento dos pontos em que as duas se aproximam e se equivalem, bem como daqueles em que as duas se distanciam.
AS RELAÇÕES ENTRE A SINTAXE E A SEMÂNTICA NAS LINGUAGENS DE ESPECIALIDADE
Sabrina Pereira de Abreu (UFRGS)
Um dos problemas fundamentais da análise de uma língua comum centra-se na dificuldade que temos de desenvolver uma sintaxe e uma semântica representacionais autônomas, igualmente estruturadas. Nas linguagens de especialidade a situação não é diferente. Nesse sentido, o objetivo da presente comunicação é evidenciar as propriedades sintático-semânticas das linguagens de especialidade. As evidências que serão mostradas são fruto das investigações realizadas no Projeto INTERCON,, o qual investiga as representações das relações predicativas das categorias gramaticais nucleares (V,N,P,A). Nesse projeto investiga-se corpora de língua comum e de linguagem de especialidade para verificar as estruturas argumentais dos predicados, e, após compara-se os resultados obtidos nas análises efetuadas em cada tipo de linguagem, verificando se um dado contexto favorece a produtividade de fenômenos sintático-semânticos dos itens lexicais. Em especial, nesta comunicação, serão apresentadas as construções [N Prep N] em alguns domínios especializados.
AS TEORIAS DE LESSING E HÖLDERLIN E SUA APLICABILIDADE NA TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA DA POESIA CONCRETA
Cristina Monteiro de Castro Pereira (UERJ)
Ao delimitar as fronteiras entre artes plásticas e literatura, Lessing levantou a questão da anánke ou necessidade de considerar a diferença entre os meios e a recepção das diversas artes para que a "idéia" a ser transmitida produza o efeito desejado. Hölderlin, através de processos filológicos e morfo-sintáticos, criava em suas traduções uma teia de núcleos de condensação semântica que perpassava o texto e ativava suas camadas latentes. Pretendo demonstrar a pertinência dessas duas teorias na prática intersemiótica que vem sendo exercitada pelos poetas concretos do grupo Noigandres, focalizando principalmente a vídeo poesia.
ASPECTOS DA GRAMÁTICA KAYABI
Nataniel dos Santos Gomes (UFRJ/UNESA/UNAM/UniverCidade)
O nosso trabalho visa oferecer uma descrição geral de aspectos gramaticais da língua Kayabí (família Tupi-Guarani) e discutir os problemas da variação da ordem oracional e dos clíticos pronominais de 2ª posição, à luz de pressupostos teóricos da gramática gerativa.
O Kayabí é uma língua que apresenta uma variação na ordem dos constituintes oracionais onde se verificam os tipos SOV, OSV e VSO. Em conjunto com essa variação, a língua possui um tipo especial de clíticos pronominais de sujeito que se apresentam em 2ª posição na sentença. A inter-relação entre ordem oracional e clíticos de 2ª posição será levada em conta a partir de propostas recentes na literatura sobre esses clíticos especiais.
Trataremos da história do povo Kayabí e de informações sobre a língua. Em seguida, através da discussão sobre categorias lexicais apresentamos um panorama geral sobre os aspectos da gramaticais do Kayabí. Será uma tentativa de organizar os dados da língua investigada, visto que o material lingüístico existente e disponível, elaborado por pesquisadores do Summer Institute of Linguistics (Rose Dobson e Helga Weiss), é complexo demais para um leigo da língua porque grande parte dele não contém tradução interlinear, nem segmentação morfológica. Sem essa organização dos dados não seria possível para nós continuar a investigar questões gramaticais mais especificas, como a variação da ordem e os clíticos de 2ª posição.
ASPECTOS DA GRAMATIZAÇAO NO BRASIL
Mari Noeli Kiehl Iapechino (UNIGRAN/PUC-SP)
Razões históricas, sociais, políticas, culturais, de tradição, todas têm sua importância no tratamento da questão da constituição da língua nacional e, conseqüentemente, do processo de gramatização no Brasil. Importaram, nas gramáticas de Costa Soares - publicada três anos depois de iniciada, com Alencar e Pinheiro Chagas, a polêmica sobre a brasilidade do Português -, de Júlio Ribeiro - por ter imprimido uma nova direção aos estudos gramaticais, rompendo com os velhos moldes ditados pela tradição gramatical de Portugal - e de Eduardo Carlos Pereira - a gramática de Língua Portuguesa no Brasil que maior número de edições alcançou em toda a história da gramatização do país, corpus de descrição neste trabalho, o uso lingüístico e as noções de correto/incorreto.
Os fundamentos teóricos que nortearam a primeira parte do trabalho - O Processo de Gramatização no Brasil - possibilitaram uma melhor visão do percurso histórico do processo de gramatização no Brasil; os que nortearam a segunda parte - A Língua Portuguesa do Brasil e Uso Lingüístico e Noções de Correto/Incorreto -, uma visão geral das posições dos estudiosos da época sobre o Português do Brasil, notadamente a partir da segunda metade do século XIX, quando há toda uma preocupação em demonstrar as especificidades do Português brasileiro, e do descompasso entre a língua em uso e a língua descrita mediante normas gramaticais, bem como dos critérios que, segundo Noreen e Jespersen, definem correção lingüística.
ASPECTOS FUNCIONAIS
E ESTÉTICOS DO TEXTO:
UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DA LÍNGUA MATERNA
Maria Teresa Gonçalves Pereira (UERJ)
O estudo pretende que o texto seja encarado como corpus ideal para uma abordagem da língua em suas várias possibilidades, destacando o papel relevante dos recursos lingüísticos expressivos nos planos fonológico, morfossintático e léxico-semântico na construção de sentidos do texto. Em relação ao ensino/aprendizagem, o aluno assume o papel de protagonista do conhecimento adquirido já que a sua percepção dos fatos da língua deflagra as relações encetadas no trato lingüístico, visando à simples comunicação ou ao refinamento estético. Enfatiza-se a necessidade da manipulação de várias linguagens e gêneros diversos, para que o painel das situações se revele significativo. O texto é origem, causa ou conseqüência de qualquer atividade lingüística, não encarado como pretexto, o que só empobrecerá o estudo da língua. O contato do aluno com o idioma materno deve ser prazeroso, assim como a leitura em todas as suas manifestações.
ASPECTOS GRAFEMÁTICOS
E CULTURAIS EM MANUSCRITOS DO SÉCULO XIX
CRITÉRIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE CORPORA
CONTRASTIVOS DO PORTUGUÊS
Círia da Silva Lima
(UFRJ)
Afranio Gonçalves Barbosa (UFRJ)
Dentro da questão da formação do Português Brasileiro, encontra-se o problema da constituição de corpora variados que sirvam ao estudo das diferenças sociais e/ou dialetais característicos do Português no Brasil antes da Independência. Para saber o que, hoje, representa uma conservação (ou mudança) de um dado uso lingüístico trazido de Portugal para o Brasil, é preciso identificar e descrever a língua de brasileiros e de portugueses que viveram no Brasil-Colônia.
Começando a cumprir esse objetivo, e fundamentados na prática filológica, nosso trabalho relata os critérios de construção e as características de um corpus do século XIX: cartas pessoais manuscritas. Busca-se, de fato, a identificação de suas especificidades gráfico-fonéticas e culturais que distinguem semelhante material de outros corpora da mesma época
ATENTADOS DE 11 DE SETEMBRO
MARCAM O NOVO MILÊNIO
O INTERCRUZAMENTO DO DISCURSO RELIGIOSO
E POLÍTICO NOS RELATOS DA IMPRENSA ESCRITA
Zilda Andrade Lourenço dos Santos
(UERJ)
Vera Lúcia de Albuquerque Sant’Anna (UERJ)
O mundo ficou abalado com as imagens dos atentados às torres gêmeas no World Trade Center em Nova York e ao Pentágono em Washington, no dia 11 de setembro de 2001. Diante de total perplexidade ouvia-se a crucial pergunta: como uma coisa dessas pode acontecer nos Estados Unidos? A imprensa escrita, através do jornal diário, incumbiu-se de informar e atualizar os leitores sobre os acontecimentos que se sucederam.. As notícias, trazidas pelos jornais O Globo e O Dia, tornaram-se uma fonte de material de pesquisa e análise para este trabalho que segue a orientação teórica da Análise do Discurso da linha francesa, de base enunciativa, na perspectiva de Maingueneau (1989, 2001). O objetivo proposto é uma busca de possíveis respostas para a seguinte indagação: Como aparecem, nos relatos da imprensa escrita, os campos em embate construídos pelo cruzamento do discurso religioso e político? Para identificar as diferentes vozes trazidas nas notícias, privilegiou-se o discurso relatado como categoria de análise, com apoio das designações que ajudam a investigar diferentes maneiras do objeto investigativo aparecer no discurso. O corpus está formado pelo caderno especial do dia 12 de setembro de 2001, dos dois jornais, tendo como foco a primeira página e as notícias que trazem no título a voz do presidente Bush. Os resultados parciais apontam para processos de interdiscursividade que revelam atravessamentos mútuos entre discurso religioso e político, que ora se aproximam, ora se afastam ou ainda se misturam, provocando uma indissociação do político/religioso.
AULA DE LEITURA : DISCURSO E ALTERIDADE
Fernanda Ribeiro Paradela (UERJ)
Com esta comunicação pretende-se apresentar estudo que trata do discurso da prática pedagógica e sobre a prática pedagógica, objetivando descrever o conjunto de regras que constitui um conhecimento partilhado, através do qual professor e alunos constróem, em co-autoria, o discurso na aula de leitura; verificar no discurso pedagógico as formas marcadas passíveis de apreensão do outro; e analisar as atividades de leitura desenvolvidas em sala de aula com referência ao livro didático e à leitura extraclasse.
Tendo como metodologia a Análise do discurso de linha francesa, o estudo está sendo desenvolvido com base nas não-coincidências do sujeito consigo mesmo (Authier Revuz, 1998) e com base nos elementos que constituem a comunicação - locutor, enunciador, alocutário - através da análise dos dêiticos (Ducrot, 1987). Os dados, coletados em sala de aula de 7º série, de uma escola de ensino fundamental e médio do município do Rio de Janeiro e em entrevista semidirigida com o professor da turma, foram transcritos e analisados, possibilitando observações acerca dos enunciadores e de como o locutor traz o outro para seu discurso. Desta forma, as várias perspectivas enunciativas são de fundamental importância para a pesquisa, dando uma visão da heterogeneidade mostrada, ou seja, da não-linearidade do discurso e, com relação à polifonia, das várias vozes que nele também falam. Através dessa pesquisa foi possível contribuir para a descrição dos traços fundamentais que constituem o discurso da e sobre a prática pedagógica.
BLADE
RUNER EM UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
UMA ANÁLISE DA INTERDISCIPLINARIDADE
Erika Kress
(UNINCOR)
Evanil Rodrigues Fernandes (UNINCOR)
Em pleno século XX, onde se vive o apogeu da fragmentação do pensamento, este trabalho vem para mostrar como a técnica da interdisciplinaridade pode se revelar um forte e útil instrumento para o aprendizado pedagógico de temas os mais variados. A temática escolhida é a do mundo cibernético futurista, cuja preocupação principal é a sobrevivência dos seres humanos e a qualidade de vida atingida com os possíveis avanços tecnológicos ainda por virem. A escolha foi baseada em duas obras clássicas: a primeira, da Literatura Inglesa, “Admirável Mundo Novo” de Leonard Aldous Huxley (1932) e a segunda, do Cinema norte-americano, o cult-movie “Blade Runner” do diretor Ridley Scott (1982). É impressionante a modernidade das duas obras e como elas se prestam à interdisciplinaridade, que se preocupa não somente com o cruzamento de informações colhidas ao longo do estudo, como também com a apresentação de um resultado final. Tanto Huxley quanto Scott se mostram preocupados com a raça humana e todo o seu encantamento pela tecnologia, sempre em detrimento aos fatos da Natureza. Até que ponto o homem poderá chegar em nome de sua paixão pelo domínio da Natureza? Clones, robôs, computadores superpotentes, tudo por uma vida melhor. Mas onde colocar a ética neste mundo novo?
CADA LEITOR , UMA HISTÓRIA
Marizeth Faria dos Santos (Pós-graduação - UFRJ)
O ato de ler não se esgota na simples decifração de códigos, mas, ao contrário, inicia-se com esse fenômeno e alcança múltiplas dimensões de significado. Diversos fatores determinam tal significação, já que é o sujeito-leitor, considerando sua historicidade, seu imaginário e as circunstâncias de enunciação quem irá significar o texto. Toda leitura apresenta-se como uma estrutura possível, aberta às inúmeras possibilidades de atribuição de sentidos. Isso revela a complexidade do ato de ler, distanciando-o das caracterizações reducionistas.
Com base nisso e considerando a crise flagrante na formação do leitor, este trabalho propõe um novo olhar sobre a leitura e sobre sua prática na escola, para que seja resgatado ou descoberto o prazer de ler e despertada a busca gratuita do conhecimento, transformando a leitura num momento de fruição do ‘sabor' do texto.
Faz-se necessário, para tal proposta efetivar-se, trazer para dentro da escola as histórias de leitura de cada leitor, não no sentido de tomar mero conhecimento de sua existência, mas resgatando-as com seu valor imprescindível como ponto de partida do trabalho pedagógico que será desenvolvido daquele momento em diante, para o VIR-A-SER.
A valorização das histórias individuais dos alunos, ao contrário de parecer estagná-los numa condição de leitores menores, servirá para impulsioná-los a uma busca espontânea em direção ao seu crescimento, fundando, entre o indivíduo e o ato de ler, um elo afetivo e cognitivo que se estenderá, num processo crescente, por todas as fases de sua vida, inclusive quando já se encontrar afastado do ambiente escolar.
CAMINHO DAS ÁGUAS, POVOS DOS RIOS
UMA VISÃO ETNOLINGÜÍSTICA DA TOPONÍMIA BRASILEIRA II
Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick
(USP)
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG)
Este trabalho tem por objetivo tecer algumas considerações a respeito de uma pesquisa mais ampla que estamos desenvolvendo sobre a etnolingüística e a toponímia brasileira.
Por caminhos terrestres e vias fluviais, o homem, no início do povoamento do Brasil, constrói rotas e toma posse de territórios. Ao mesmo tempo em que ergue vilas e cidades, ocupa as margens dos rios, deixando marcas de novas civilizações.
Com o “Caminho das águas, povos dos rios”, pretendemos resgatar não só o imaginário mas, também, a realidade social e lingüística, traduzida nos topônimos dessas primeiras correntes povoadoras.
CAMPOS CONCEPTUAIS, CAMPOS LEXICAIS, CAMPOS SEMÂNTICOS DA COGNIÇÃO À SEMIOSE
Cidmar Teodoro Pais (USP/UBC)
Examinam-se, aqui, aspectos do processo de cognição e do processo de instauração das relações de significação, fenômenos conceptuais e metalingüísticos, conjunto de procedimentos determinantes de intertextualidade, interdiscusividade, transcodificação, face às articulações postuláveis entre semântica cognitiva, semântica de língua e de discurso, sociossemiótica, semiótica das culturas. Utilizaram-se modelos teóricos relativos ao percurso gerativo da enunciação de codificação e de decodificação, às transformações/conversões entre as unidades correspondentes aos distintos patamares de produção discursiva: da percepção à conceptualização, entre uma vivência e sua apreensão, segundo pregnâncias socioculturais, escolhas coletivas de traços semântico-conceptuais; a conceptualização, construção do conceptus, ‘modelo mental’, em função das pregnâncias e do correspondente recorte cultural, designatum; a denominação, que estabelece relação entre ‘modelo mental’, do metassistema conceptual, e unidades lexicais, do sistema e das normas discursivas; a designação, que institui relação entre unidade lexical e designatum; a referência, que engendra relação entre a função semiótica e os ‘objetos no mundo’. Nesse processo de enunciação, são incessantemente (re)elaboradas as redes de oposições entre três construtos: campos conceptuais, conjuntos de ‘modelos mentais’, caracterizados por subconjuntos-intersecção de semas conceptuais - núcleos noêmicos - e subconjuntos-diferença; campos lexicais, resultantes da semiotização e, nesta, da lexemização, enquanto conversão de conceptus em unidades lexicais, organizadas segundo critérios fundados em isotopias conceptuais; campos semânticos, como conjuntos de sememas resultantes do (re)ordenamento semântico-semiológico. Tais estruturas e relações revelam-se dinâmicas e mutáveis, segundo as isotopias conceptuais escolhidas como critério, de acordo com as variações de tempo, lugar, camada social, universo de discurso e, ainda, situação de enunciação e de discurso.
CAMPOS CONCEPTUAIS, CAMPOS LEXICAIS, CAMPOS SEMÂNTICOS TRANSPOSIÇÕES
Maria Aparecida Barbosa (USP)
Propomo-nos, aqui, de um lado, a mostrar que campos conceituais, campos lexicais, campos semânticos não são construtos semelhantes, na medida em que pertencem a níveis de articulação e análise distintos, no percurso gerativo de enunciação de codificação e de decodificação; e, de outro, salientar que as relações entre os três tipos de campos não são simétricas, visto que um campo lexical pressupõe e contém necessariamente os seus correspondentes campo conceptual e campo semântico. Entretanto, um campo conceptual pode não ter, ainda, em determinado momento da língua e da cultura, os campos lexicais e semânticos que lhes corresponderiam virtualmente - uma conceptualização e uma lexemização em processo. O campo conceitual, conjunto e rede de conceitos, modelos mentais, resultante do processo de conceptualização da experiência e da realidade fenomênica, é pré-lingüístico, pré-semiótico e trans-semiótico; o campo lexical, conjunto e rede de signos lingüísticos que têm um núcleo sêmico comum, decorre do processo de lexemização, ou seja, da conversão da informação conceptualizada em significação lingüística; o campo semântico, em uma de suas acepções, constitui um conjunto de sememas e resulta, por sua vez, da intersecção dos significados das unidades lexicais de um campo lexical. Em trabalho anterior, examinamos um campo conceitual e terminológico in statu nascendi, a organização do conceito de transgênico; aqui enfatizamos uma transpositio in praesentia, a instauração de um isomorfimo (a mesma forma projetada em substâncias diferentes): a transposição de semas conceptuais, de termos em pleno ato de passagem da área de biotecnologia, para a área de administração empresarial.
CARMEN
SAECULARE
HINO OFICIAL DOS LUDI SAECULARE DE 17 A.C.
José de Oliveira Magalhães (UERJ)
O Carmen Saeculare de Horácio figura entre os mais célebres poemas do lirismo ocidental. Trata-se de um coral composto de 54 vozes, constituído de 27 uirgines lectas e 27 pueros castos, de pais livres e ainda vivos. Roma vivia um momento de euforia cívica. Este hino foi recebido com alto grau de empatia popular de então e da posteridade.
Há neste poema uma prova total de sintonia com a ideologia do governo de Augusto e expressa o extravasamento dos sentimentos de um povo, imbuído de fé estóica e de missão cumprida, o que nos dá uma prova inconteste de que, na realidade, acreditava piamente nas divindades evocadas.
CELSO CUNHA
E A LUTA PELA UNIDADE DA LÍNGUA
Emmanoel dos Santos (UFRJ)
O reconhecimento da importância do papel desempenhado por Celso Cunha no estudo e descrição da língua portuguesa não pode obscurecer sua atuação no terreno de sua crença na unidade lingüística da língua.
Um diálogo (não tão hipotético assim) entre Celso Cunha e Antônio Houaiss. O que se pode interpretar como "política de língua" em Houaiss em comparação com a explícita atitude assumida por Celso Cunha em obras declaradamente sobre política de língua e em outras com espaço para o tema aparecer. Respostas de Celso Cunha para as questões levantadas por Houaiss: Falamos e escrevemos ainda o português? Há, política e culturalmente, interesse em abandonarmos o mundo da lusofonia (isto é, da língua portuguesa)? Está em crise a língua que falamos e escrevemos no Brasil? Há medidas político-culturais que devam ser tomadas em prol de nossa língua?
Uma conceituação bem clara de "unidade lingüística" e desse modo assumida como condição essencial para o sucesso na luta pelo espaço lingüístico. Uma declaração para firmar doutrina: "é sempre melhor um galicismo ou um anglicismo que nos una do que um purismo que nos separe". O quadro atual: crenças e atitudes sobre a unidade da língua.
CELSO CUNHA E A POLÍTICA DO INDIOMA
Ricardo Cavaliere (UFF e ABF)
Dentre as preocupações que marcaram a profícua vida acadêmica de Celso Ferreira da Cunha inclui-se a discussão sobre a língua como instrumento de comunicação social e o papel do lingüista no estabelecimento de uma política de ensino do idioma. Alguns de seus textos voltaram-se especificamente para este tema, com acentuada ênfase em questões como o conceito de norma gramatical e sua repercussão no tratamento que o professor de português deve aplicar ao ensino da língua materna. A visão atualizada de Celso Cunha, sobretudo no que concerne à exata dimensão com que se devem avaliar os usos lingüísticos e a proposta de ensino do português, legou-nos um projeto pedagógico que, sem descurar das prerrogativas que se devem conferir à norma padrão, privilegia o respeito à diversidade cultural do Brasil, seus reflexos lingüísticos, que se materializam nas variáveis diatópicas e diastráticas do português contemporâneo, e a busca incessante por um ensino produtivo, que faça desabrochar a vocação inata do falante para inovar e criar em sua própria língua.
CELSO CUNHA E MÁRIO
DE ANDRADE
UMA “GRAMATIQUINHA” NO MEIO DO CAMINHO
Ivan Russeff (UCDom Bosco- MS)
O propósito da comunicação é o de analisar, comparativamente, o conceito de identidade lingüística em Celso Cunha e Mário de Andrade. Essa análise será feita com base no pressuposto histórico-cultural compartilhado pelos dois autores, mas com resultantes opostos: Celso Cunha investindo na unidade da língua portuguesa e Mário de Andrade na diversidade lingüística, traduzida na sua “gramatiquinha da língua brasileira.” Se para o poeta há uma língua oficial “emprestada” e que não representa nem as necessidades nem os ideais do povo brasileiro, para o filólogo, é imperioso defender a unidade da língua portuguesa dentro de sua “natural diversidade”, condição para a unidade nacional e fator de integração da grande comunidade lusófona.
CELSO CUNHA E O ESTUDO DAS FORMAS DIVERGENTES E CONVERGENTES
Manoel Pinto Ribeiro (SUM, UERJ e ABF)
Poucos são os professores de Língua Portuguesa que se interessam pelo estudo diacrônico. Como conseqüência ignoram fatos importantes que elucidam muitas questões da atual fase da língua. A visão histórica é necessária para que se compreendam determinados pontos como, por exemplo, a formação de nosso léxico, que reflete a história da língua. Começamos com o chamado substrato que representa as palavras de origem celta (seara, légua, cerveja, bico...) e ibera (barro, lousa, sarna, abóbora...), além de vocábulos bascos (bezerro...).
A segunda camada é proveniente da invasão dos bárbaros, cujas palavras, em bom número, já existiam em latim, em virtude do contacto com esses povos. É o chamado superestrato: elmo, trégua, dardo, espora, norte sul, este e oeste, branco, rico, liso, morno, fresco.
A terceira é de termos provenientes do árabe (adstrato), com a invasão da Península Ibérica em 77l d.C: alface, alecrim, algodão, alfafa, arroz, cenoura, tâmara, alambique, algarismo, álgebra, xarope, álcool, açougue, almofada, azul, sorvete...
Mas a camada mais importante vem do latim com: 1) o núcleo radicado no romanço lusitano; 2) complexa série de palavras de empréstimo ao latim clássico, a partir da romanização (cultismos).
Nesta palestra, interessa-nos, no entanto, a formação de palavras através das formas divergentes e convergentes, um dos mais brilhantes estudos que encontramos num raro livro de Celso Cunha e Wilton Cardoso: Estilística e gramática histórica, da Tempo Brasileiro, 1978.
Ali estudaremos o assunto desenvolvido de forma notável com ampla exemplificação que nos permite a compreensão de etimologias, como a da palavra arena que gerou o cultismo arena e a forma popular areia, e a palavra plano que originou os vocábulos plano (cultismo), chão, porão, lhano (por meio do espanhol) e piano (por intermédio do italiano). Pela convergência de formas também compreenderemos o porquê da existência do vocábulo são com três empregos diferentes: verbo ser, adjetivo, forma reduzida de santo.
CENOGRAFIA E HETEROGENEIDADE DISCURSIVAS
ANÁLISE DO PRONUNCIAMENTO DE FHC REALIZADO PELA COMEMORAÇÃO DO DIA DO TRABALHO
Sandra Januário dos Santos
(UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)
Na atualidade, têm-se discutido o fim do Welfare State - que compreende uma série de políticas sociais, sob a responsabilidade do Estado, a quem cabe prover necessidades e cobrir riscos relativos ao mundo do trabalho - e a implantação de novas políticas de cunho neoliberal - que pretendem a descentralização e desregulamentação dessa conquistas. Inscrevendo-se no campo das práticas de linguagem relativas a esse mundo, este estudo tem por objetivo apresentar os resultados alcançados em análise voltada para a observação de como vem sendo construída, no plano discursivo, a interação governo/trabalhador num arquivo formado por pronunciamentos presidenciais realizados pelas comemorações do Dia do Trabalho. Nossa proposta inclui-se em pesquisa maior, desenvolvida por Daher (1999-2002), intitulada Pronunciamentos Presidenciais de 1º de maio: uma abordagem discursiva do mundo do trabalho, e contempla nesta análise como corpus o último pronunciamento presidencial, realizado no Brasil, por Fernando Henrique Cardoso, em 2001. Por acreditar que toda produção lingüística ao ser construída considera a relação com o outro (Bakhtin, 1995), mobilizando cenografias variadas que visam à persuasão do co-enunciador, nosso trabalho segue como marco teórico a Análise do discurso de base enunciativa (Maingueneau, 1987, 2001). A metodologia constou do levantamento e da análise de marcas de pessoa - tanto da pessoa restrita, quanto da ampliada -, de tempo e de espaço, assim como da heterogeneidade discursiva, buscando identificar a cenografia discursiva e o ethos instituídos por esses pronunciamentos (Maingueneau, 1987). Os resultados parciais têm apontado a relevância da produtividade do quadro teórico escolhido para a investigação, uma vez que permitem distinguir nos pronunciamentos as coordenadas dêiticas do plano empírico e as que se instituem por intermédio do discurso.
CONCEITOS INAUGURAIS
DE LINGÜÍSTICA
REPERCUSSÕES E ALGUNS ACERTOS
Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba (UERJ)
A análise do intercâmbio entre a Lingüística e a Literatura permite verificar repercussões em outros campos do saber, fundamentalmente, pelas apropriações interdisciplinarmente realizadas, realizadas, de conceitos como langue, parole, sistema, estrutura, sintagma, paradigma. Mais do que o simples registro dessa movimentação conceitual, um estudo de caráter investigativo é capaz de indicar diferentes formas de apropriação categorial. Por essa linha, verificam-se, ainda, certos aspectos relevantes para a exata compreensão dos conceitos, originalmente saussurianos - portanto da Lingüística -, quando empregados em cada quadro de conhecimento. Insiste-se, aqui, no caráter fundamental do que se pretende demonstrar: a apropriação de conceitos pode revelar tanto sua eficácia quanto a necessidade de reformulação, dos pressupostos das disciplinas pelas quais transitam. Sendo assim, faz-se necessário repensar a prática interdisciplinar, colocando sob suspeita passagem de certos conceitos de um para outro campo do saber.
CONSTRUÇÃO DO MERCOSUL
UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA DE UM JORNAL PARAGUAIO
Luise Campos da Silva
(UERJ)
Valdete Gonçalves Bettini (UERJ)
Vera Lucia de Albuquerque Sant’Anna (UERJ)
Este trabalho está incluído no projeto Estudo discursivo do mundo do trabalho em notícias sobre o Mercosul, coordenado pela orientadora, e tem como objetivo verificar de que modo o jornal paraguaio ABC Color está construindo discursivamente a imagem de Mercosul. Partindo dos estudos de Bakhtin e seu círculo (1992;1997), em particular o conceito de dimensão dialógica da linguagem, compreendemos a imprensa escrita como divulgadora de um discurso que é atravessado por muitos outros, o que nos leva à questão da heterogeneidade discursiva (Maigueneau,1989;2001). A partir dessa perspectiva, optamos por observar as incidências de discurso relatado, conforme Sant’Anna (2000). Nossas perguntas de pesquisa são: considerando a mídia como um campo de manifestações de discursos sociais e que o gênero notícia apresenta uma certa tensão entre informar/opinar qual é a imagem que o jornal paraguaio ABC Color cria do Mercosul? De que estratégias discursivas este se vale para construir essa imagem do Mercosul de modo a não aparecer como instância opinativa, e sim informativa? Recolhido o corpus, notícias recolhidas pela internet, a partir da palavra chave Mercosul, identificamos ocorrências do discurso relatado, realizamos correlação entre este e a definição de espaços discursivos. Identificamos vozes trazidas para compor as notícias e os primeiros resultados apontam para a incidência relevante de um espaço discursivo de embate entre os países que formam o Mercosul; de um lado Paraguai e Uruguai como sócios menores e de outro Brasil e Argentina como os mais poderosos.
CONSTRUÇÕES REDUZIDAS NO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO E ARCAICO
Sebastião Votre (UFF)
No presente estudo optamos por realizar uma abordagem pancrônica da continuidade, variabilidade e mudança dos mecanismos internos da língua em diferentes sincronias, sem deixar de lado a natureza estável e sistemática da mesma. Nosso objetivo é verificar como o português se comporta na trajetória do português arcaico ao contemporâneo no que se relaciona a construções reduzidas de gerúndio, “a” + infinitivo (com caráter gerundial), particípio presente e particípio passado. Esperamos poder oferecer evidências em favor da continuidade ou mesmo da variação e mudança no domínio funcional reduzido do português. Postulamos a existência de uma mesma gramática aqui e em Portugal, com freqüencias distintas para o gerúndio e “a”+ infinitivo e para restrições selecionais de gerúndio, em termos do auxiliar que se une ao verbo pleno.
CONSULTAS GRAMATICAIS : DA REVISTA DE LÍNGUA PORTUGUESA AOS DIAS DE HOJE
Regina Maria de Souza (UNESA e UERJ)
O trabalho que ora apresentamos, enfoca um recorte da pesquisa realizada sobre a Revista de Língua Portuguesa, importante periódico na área filológico-gramatical no Brasil, dirigido por Laudelino Freire e editado no período compreendido entre 1919 e 1935. Uma de suas seções fixas, “Consultas”, tinha o intuito de responder a perguntas e esclarecer dúvidas dos leitores acerca de questões que se referiam ao idioma vernáculo.
Pretendemos nessa comunicação fazer um levantamento comparativo de algumas perguntas incluídas na seção mencionada com as atualmente enviadas aos professores ou aos jornalistas-gramáticos dos consultórios da imprensa, considerando os pontos em comum e os contextos em que se inserem, a fim de mostrar que, apesar de quase um século ter-se passado, as dúvidas se repetem.
CONTINUIDADE, VARIABILIDADE E MUDANÇA
EM CONSTRUÇÕES REDUZIDAS
UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA
Amanda Medeiros Simões Moreira
(UFF)
Mariângela Rios de Oliveira (UFF)
Este trabalho constitui parte do conjunto de pesquisas desenvolvidas pelo grupo Discurso & Gramática - UFF, cuja orientação teórica fundamenta-se no funcionalismo linguístico norte-americano. Focalizamos construções reduzidas em gerúndio, infinitivo precedido da preposição “a”, e partcípio presente. O corpus analisado engloba textos de diversa sincronia, a saber: latim (seculo XII); séculos XV, XVI, XVII, XVIII e XX. Realizamos uma análise diacrônica como estratégia para evidenciar tendências pancrônicas. Ao longo da pesquisa verificamos a existência de uma mesma gramática (conjunto de padrões que se estabelecem no uso) para a modalidade brasileira e lusitana da língua - com preferência de codificação gerundial pronunciada para a modalidade brasileira, e infinitiva, menos pronunciada para a norma lusitana. Constatamos, em ambas as modalidades, continuidade no uso de construções gerundiais, ao longo do tempo, com indicativos de variação e mudança localizados em pontos específicos da estrutura gerundial. Quanto ao uso da construção infinitiva, o português lusitano contemporâneo acena com indicativos de variação e mudança não só em termos estruturais, mas também de frequência. Os dados em particípio presente nos permitem inferir que atualmente trata-se de uma estrutura mais gramaticalizada. Nossa hipótese é que constitui um gradiente categorial, conforme Taylor (1992). Em fase recente de pesquisa, buscamos motivações discursivas para o uso não prototípico - de “a” + infinitivo - na modalidade brasileira. Parte desse processo é a realização de um teste-piloto a fim de observar a opção de determinado grupo de usuários da língua diante das três construções reduzidas: -ndo, “a” + infinitivo e -nte.
DE EUCLIDES
DA CUNHA A CLARICE LISPECTOR
IMAGENS DO SERTANEJO NA FICÇÃO BRASILEIRA
Fátima Cristina Dias Rocha (UERJ)
O trabalho se desenvolve a partir de três textos nucleares: os romances A hora da estrela, de Clarice Lispector, e Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, e o conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa.
São textos que - colocando em cena o homem não-citadino - se esforçam por representar as vivências, a identidade e a fala desse homem distinto e distante do universo letrado do escritor. Entre outras narrativas que perseguem propósito semelhante, as três em questão singularizam-se por criar personagens que experimentam e expõem incertezas quanto à própria individualidade, a qual só adquire contornos mais nítidos no momento da morte.
Além de analisar as estratégias acionadas pelos três textos nucleares para representar a identidade e a fala do sertanejo / nordestino, o trabalho investiga o lugar da morte e o de suas relações com o tema da identidade, nos referidos textos.
Também é examinado o diálogo que cada narrativa estabelece com o livro Os sertões, texto-matriz de uma “vertente antropológica” de nossa literatura, vertente na qual o escritor abre seu texto à participação de outras vozes, distantes dos valores ditos culturais e europeizados da sociedade brasileira.
Propondo tal diálogo, o trabalho procura abordar as questões enfrentadas pelo narrador-intelectual quando este se propõe a figurar a voz do “outro”.
DE GESTIS
MENDI DE SAA
UMA EPOPÉIA LATINA NA AMÉRICA
Luiz Fernando Dias Pita (UCB)
Do conjunto da obra do Pe. José de Anchieta sobressai a epopéia latina De Gestis Mendi de Saa, obra a que, sob diversas alegações, tem sido negada inserção no sistema literário brasileiro. Visamos discutir os diversos posicionamentos assumidos pela crítica quanto à obra e propor sua inserção em outro sistema literário, supra-nacional, o das crônicas da conquista.
DE INTERTEXTUALIDADES : A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS NA OBRA MACHADIANA
Sônia de Almeida Barbosa Grund (UERJ)
O trabalho enfoca intertextualidade em Memórias Póstumas de Brás Cubas, narrativa em que Machado de Assis, através de Brás Cubas, “autor”-personagem, dialoga com a literatura, mitologia, história, etc., ampliando os sentidos textuais.
Dentre a diversidade de intertextualidades, selecionamos um exemplo da literária para concretizar nosso propósito.
Explicando a chegada ao mundo dos mortos, Brás Cubas evoca Shakespeare à sua obra, citando palavras da personagem Hamlet: “(...) encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo (...)”.
O trecho, “undiscovered country”, empregado eufemisticamente, caracteriza de forma menos grotesca o local em que Brás Cubas permaneceria eternamente, o “reino dos mortos”. Partindo do uso da figura, o narrador expõe-nos dois mundos opostos: o dos vivos, no qual teríamos o “moço príncipe” (ansioso e interrogativo) e o dos mortos, onde residiria o moço “pausado” e “trôpego”, um mundo em que não se anseia por nada, não se caminha em direção a nenhum objetivo. Desta forma, Cubas não devora; é devorado, não conduz; é conduzido.
O que marca a intertextualidade, portanto, é a inserção de uma nova forma de apreender a leitura: o leitor, descartando a singularidade textual, aciona o universo de conhecimentos, construindo novos sentidos. Afinal, segundo Julia Kristeva em Introdução à Semanálise (1974), autora do neologismo “intertextualidade”: “ qualquer texto se constrói como um mosaico de citações e é absorção e transformação dum outro texto”.
DÉTOURNEMENT EM TEXTOS JORNALÍSTICOS
Antônio Luciano Pontes
Cláudia Régia Damasceno Chaves
O trabalho analisa,qualitativamente,textos publicitários - coletados em revistas e jornais - que sofreram détournement, fenômeno que consiste na reestruturação de textos que fazem parte da memória de uma coletividade, em que discutimos a relação entre esse fenômeno e a força argumentativa dos textos apresentados. Para tal procedimento, levamos em conta operações de retextualização, nos níveis fonético, fonológico, morfológico, lexical e sintático. Também consideramos em nossa análise os efeitos de sentido (valores de capitação ou de subversão) causados por tais operações, ao lado de operadores argumentativos, inseridos num mesmo contexto.
DIFICULDADES
NA APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA
AS TENSÕES E DESCOMPASSOS
ENTRE OS SABERES DOCENTES E INFANTIS
Angela Vieira de Alcântara
(SME deNiterói
Jacqueline de Fátima dos Santos Morais (UERJ
Margarida dos Santos Costa (UFF e ISERJ)
Cócis Alexandre dos Santos Balbino (UFF)
Nosso trabalho pretende trazer à tona falas, e portanto saberes, produzidos por alunos e alunas da Classe de Alfabetização e da 1ª série a respeito da língua escrita, buscando desta forma dar voz as múltiplas e variadas concepções que estes educandos possuem a respeito do sistema de representação da oralidade que é a escrita.
Historicamente, as produções infantis que não se adequam aos modelos predeterminados pela escola como corretos são vistos como produto da dificuldade de aprendizagem da criança. Assim temos inúmeros estudantes apontados como desviantes pois não seguem a trilha do caminho traçado para a boa aprendizagem.
Investigando diferentes textos produzidos por alunos e alunas das séries iniciais, e analisando situações ocorridas em sala de aula no que se refere a aprendizagem da leitura e escrita, podemos constatar que há inúmeros descompassos e desencontros de saberes. Muitas vezes o que se apresenta como desconhecimento ou não-saber do aluno é meramente produto de uma maneira pessoal e distinta de compreender, de uma hipótese sobre o objeto de conhecimento que é a escrita.
Pretendemos nesta apresentação defender que é no cotidiano que formas significativas de compreender a língua escrita podem ser ampliadas, mudadas, transformadas.
DISCURSIVIDADE DO CENTENÁRIO DA ABOLIÇÃO NA MÍDIA IMPRESSA CARIOCA
Cláudia da Silva Leopoldino (UFF)
Compreender o discurso da afirmação da subjetividade negra em fins do século XX é a razão mais abrangente da reflexão apresentada nesse trabalho. Esse discurso está disperso em variados meios de circulação, tais como os espaços acadêmicos, a mídia, os documentos produzidos pelos movimentos político-sociais, especialmente o movimento negro. São inúmeros os arquivos, se considerados sob a perspectiva da análise do discurso de escola francesa, onde busco a orientação teórica para as análises apresentadas.
Escolhi trabalhar com o discurso da mídia impressa. Tomo como pressuposto o princípio de que não há sentido sem interpretação, e que os sentidos podem ser vários, de acordo com o gesto de quem interpreta. Os sentidos não são transparentes porque a linguagem não é transparente, e a língua não é somente uma estrutura, mas é sujeita ao equívoco, o que permite o deslizamento dos sentidos, a presença do “outro”, de outros sentidos negados, ou não tão evidentes.
Num recorte mais específico, a compreensão dessa subjetividade afro-brasileira, de como ela é engendrada a partir da memória e da ruptura com o já-dito, proceder-se-á com a leitura do que foi publicado, em maio de 1988, por ocasião do Centenário da Abolição, nos jornais cariocas O Dia, O Globo, e Jornal do Brasil. O objetivo é, portanto, questionar o funcionamento do discurso jornalístico do/sobre o negro, com as variadas “vozes” que falam nele, a partir de um ponto fundamental: o sujeito jornalístico é também submetido ao imaginário, e se filia a uma dada posição ideológica. Se não há neutralidade no dizer, também não há consciência de que não se está na origem desse dizer. As informações e opiniões são determinadas e autônomas ao mesmo tempo. A maneira como se enuncia o Centenário da Abolição, como farsa ou como acontecimento a ser festejado, vai refletir/produzir uma interpretação da exclusão/inclusão do negro no processo social brasileiro.
DISCURSO LITERÁRIO
& JORNAL
VALORES, MERCADO E PRODUÇÃO DE SENTIDOS
Iza Quelhas (UERJ)
A proposta desta comunicação é a de apresentar e discutir os pressupostos do discurso literário presentes em textos publicados em jornal, de circulação periférica no município de São Gonçalo, RJ, em fins da década de 40. O conceito de comunidade interpretativa, desenvolvido por Stanley Fish, importante teórico do reader response criticism, propõe que leituras e interpretações diferenciadas são produzidas a partir de conceitos e valores assimilados e compartilhados pelos leitores, o que dá suporte à idéia de que diferentes leituras produzem-se também a partir de diferentes estratégias utilizadas pelos leitores. Ao fazer circular em suas páginas diárias textos considerados literários pela editoria do jornal, a imprensa periódica institui formas de assimilação e compartilhamento de valores e conceitos que compõem os horizontes de expectativas de comunidades interpretativas em potencial. O jornal, portanto, forma um público leitor de literatura ao promover um certo tipo de discurso e leitura do literário vinculado aos valores sociais mais amplos que norteiam as práticas, produzindo sentidos entre o local e o nacional, a periferia e o centro.
DISCURSO PEDAGÓGICO : POLIFONIA E INTERAÇÃO
Gisele Batista da Silva (UERJ)
Esta comunicação apresenta resultado de pesquisa, cujos dados foram coletados em sala de aula de leitura em língua materna e em entrevista com o professor de 7a série de uma escola de ensino fundamental do município do Rio de Janeiro. Tendo como metodologia a Análise do discurso de linha francesa, com base em Bakhtin (Volochinov, 1929), analisou-se o caráter polifônico do discurso, as vozes que o constituem (Ducrot, 1987) e as diferentes formas de retomada do outro no discurso - a heterogeneidade mostrada (Authier-Revuz, 1990). Com relação às atividades de leitura, analisou-se, com base em Soares (1992), Coracini (1999) e Kleiman (1989, 1993), a metodologia adotada para a utilização do livro didático e a função que este exerce frente à tarefa mediadora do professor.
Os resultados da análise do discurso da prática pedagógica mostram as relações de poder que o professor estabelece em relação aos alunos - ora parte integrante do grupo, construindo o saber, ora impondo seu discurso ao de seu interlocutor. Segundo a análise do discurso sobre a prática pedagógica, o livro didático parece substituir o papel de mediador do professor, configurando-se como uma voz impessoal, um saber correto e acabado. Assim, concluiu-se que professor e alunos não são as únicas vozes presentes na aula de leitura. A voz do professor parece, inclusive, se construir através da possibilidade de recuperar outras diferentes vozes. Uma das marcas constitutivas do discurso pedagógico seria., então, a capacidade de "orquestrar" essas diferentes vozes.
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