RESUMOS


(DA LETRA 'E' AO FINAL)

EDIÇÃO DIGITAL DO CÓDICE DE GREGÓRIO DE MATTOS DA COLEÇÃO CELSO CUNHA

José Pereira da Silva (UERJ e ABF)

Apenas três códices de remanescentes de Gregório de Matos são constituídos de quatro volumes, no conjunto de quarenta e oito relacionados em O Mapa do Labirinto por Francisco Topa: o da Biblioteca do Itamaraty é o único que se encontra reunido, mas nunca foi editado, apesar de já utilizado por Varnhagen e por Afrânio Peixoto; o códice denominado Códice do Imperador tem dois volumes na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e dois na Torre do Tombo, identificado por nós com a contribuição de Adriano Espínola e o terceiro está na Coleção Celso Cunha (Anexo da Biblioteca na Faculdade de Letras da UFRJ), do qual está desaparecido o quarto volume desde que foi transferido para aquele setor, tendo sido o único já publicado integralmente, como nos informa James Amado à página 1281 da 3ª edição das Obras Poéticas de Gregório de Matos.

Trataremos de apresentar a história (des)conhecida do códice e suas desventuras, registrar o seu conceito entre os principais estudiosos respeitáveis e o seu estado atual.

Descreveremos o seu projeto editorial (que nunca foi escrito), nascido durante o encontro da Associação dos Pesquisadores do Manuscrito Literário na UFBA a partir da discussão do trabalho de Francisco Topa com o Emmanuel Macedo Tavares e cuja execução foi iniciada por mim e o Prof. Emmanuel em 1998, quando fizemos a transcrição dos três volumes, seguida da primeira revisão, em que eu revi os textos digitados por ele e ele os digitados por mim.

Por motivos não acadêmicos, emocionalmente muito fortes, a parceria foi desfeita e quase dado por perdido todo o trabalho já realizado, até que, tendo sido eleito Celso Cunha como o Homenageado do VI Congresso Nacional de Lingüística e Filologia, falei com o Prof. Emmanuel Macedo Tavares e decidi preparar a edição que vai preservar o mais importante códice conhecido da obra poética do mais importante poeta do Brasil Colônia e disponibilizá-lo de forma facilitada e segura para os pesquisadores, editores e professores.

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EM BUSCA DA IDENTIDADE LINGÜÍSTICA
O VERNÁCULO ESCOCÊS EM THE ACID HOUSE DE IRVINE WELSH

Fabiana Júlio Ferreira (UERJ)

Este trabalho enfoca a inovadora utilização do vernáculo escocês em contos da obra The Acid House, de Irvine Welsh. Algumas dessas histórias ganharam uma versão cinematográfica dirigida por Paul Mac Guigan na Grã-Bretanha em agosto de 1999. A partir de contos selecionados, destacaremos a relevância do uso vernáculo na narrativa de Welsh nesse momento em que a questão da identidade nacional lingüística na Escócia é discutida por estudiosos de língua, tendo inclusive merecido a atenção de membros do novo Parlamento escocês, que se reúne em Edimburgo. Acreditamos que, dentro desse quadro, a colaboração que Irvine Welsh presta em The Acid House ao resgate do escocês como língua literária que justifica atenção e análise.

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EM TORNO DO CONCEITO DE BRASILEIRISMO

Karina Chrysóstomo de Sousa Nascimento

Esse trabalho objetiva analisar o conceito de brasileirismo empregado por alguns gramáticos e filólogos brasileiros.

Observa-se, em torno desse tema, uma questão polêmica sobre a formação de uma língua brasileira.

Alguns estudiosos, a partir das diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal, consideram a existência de dois idiomas. Outros, ao analisarem as semelhanças, principalmente no plano sintático, confirmam a presença de uma única estrutura.

Destaca-se entre esses autores, a figura de Celso Cunha.

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EMPRÉSTIMOS DE LÍNGUAS AMERÍNDIAS AO PORTUGUÊS E AO ESPANHOL

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

Os colonizadores portugueses e espanhóis depararam-se no continente americano com culturas, flora e fauna que desconheciam na Europa. Estes novos itens (principalmente animais e plantas) exigiam denominação própria e esta lhes foi dada na maior parte das vezes por meio de vocábulos criados pela imitação da pronúncia dos indígenas que viviam ou vivem na região. Estes novos itens lexicais incorporados às duas principais línguas ibéricas constituem empréstimos de diversas línguas ameríndias, muitos dos quais foram depois tomados do espanhol e do português para outras línguas européias. A origem dos empréstimos das línguas ameríndias é muito diversa e nem sempre há certeza quanto a sua verdadeira origem. Entre as línguas que contribuíram com mais empréstimos vocabulares encontra-se o quíchua, o caribe, o nauatle, o araucano ou mapuche, o tupi e o guarani. Algumas destas línguas já estão extintas e outras permanecem vivas em algumas regiões ibero-americanas.

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EMPRÉSTIMOS SEM DEVOLUÇÃO
FATOS LINGÜÍSTICOS

Vito Cesar de Oliveira Manzolillo (UERJ)

A real dimensão do empréstimo como fator de enriquecimento lexical só pode ser bem compreendida quando se atenta para o fato de que, apenas muito excepcionalmente, um povo consegue viver de modo autônomo, livre do contato com outros grupos humanos.

Nesse sentido, a questão do empréstimo - o fenômeno sociolingüístico e cultural mais significativo resultante do contato entre línguas - tem merecido, cada vez mais, a atenção dos pesquisadores, pois é de conhecimento geral, já desde os tempos de Horácio (Verba sequuntur rem), que um dos principais motivos para a ocorrência dessas transferências lingüísticas é a adoção feita por determinada comunidade de produtos, objetos e técnicas provenientes de outras comunidades, visto que, em casos do gênero, freqüentemente, a designação acompanha o designado.

Forma plenamente legítima de ampliação vocabular, não resta dúvida de que, muitas vezes, o empréstimo lingüístico encontra-se a serviço do lema “aquilo que vem de fora é melhor”, principalmente quando o “de fora” em questão é um país altamente prestigiado, cujos produtos, conceitos e idéias estão associados a modernidade, a progresso e a avanço tecnológico. Num país como o Brasil, onde a condição de importada de determinada mercadoria é quase sempre decisiva para que o consumidor opte por adquiri-la, essa afirmação se aplica inegavelmente.

Assim sendo, discutir aspectos lingüísticos e extralingüísticos do empréstimo é o objetivo deste trabalho.

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ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

Leonor Werneck dos Santos (UFRJ)

A concepção da leitura como meio de apreensão da realidade nem sempre é lembrada no ensino de língua portuguesa das escolas: em geral, os textos costumam ser utilizados como desculpa para preenchimento de questões de gramática e de interpretação nem sempre criativas e produtivas. Nas aulas de português, texto ainda é sinônimo de ampliação de vocabulário, exercícios de ortografia e questões de interpretação / compreensão que não avaliam mais do que a capacidade do aluno de retornar ao texto e repetir o que está escrito. Assim, não se formam leitores, pois não é estimulada a leitura crítica e participativa, que possibilita ao aluno formular hipóteses e desenvolver textos coesos e coerentes.

Com base nos pressupostos teóricos da Lingüística Textual, que valorizam o contexto da enunciação e o processo de produção do texto, os trabalhos apresentados nesta sessão de comunicação analisam o ensino de língua portuguesa. Através da leitura dos textos, mostra-se como analisar os elementos lingüísticos e as relações pragmáticas, que fazem o leitor se conscientizar do caráter interativo da comunicação. A partir do momento em que se percebe o texto escrito como um elemento comunicativo e a leitura como o momento em que se processa a comunicação, o leitor tem consciência do seu importante papel de decodificador, pois é necessário fazer inferências sobre o texto, observar as intenções do autor e o contexto em que a mensagem foi produzida. A cumplicidade gerada pela leitura proporciona a interação autor-leitor, fazendo com que este sinta participar ativamente do ato de ler.

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ESCRITA E MEMÓRIA EM SE QUESTO È UN UOMO DE P LEVI

Maria Franca Zuccarello (UERJ/UFRJ)

Neste nosso trabalho tencionamos falar brevemente sobre a narrativa do escritor italiano Primo Levi, que tece sua própria teoria do ato de escrita. Sim, porque quando ele escreveu seu primeiro livro, Se questo è un uomo, não estava preocupado em seguir nenhuma teoria, pois o que queria era que o mundo soubesse das atrocidades dos campos de concentração nazistas. Isto demonstra como o jogo da memória, entendido como movimento de recuperação do território da subjetividade - já que ele conta acontecimentos vivenciados - dá forma à escritura de Primo Levi, ocasionando um tipo de literatura que pode ser classificada como autobiográfica, por ser o escritor protagonista e, então, testemunha.

E que tipo de escrita utiliza o até então engenheiro químico Primo Levi para relatar as memórias daquele terrível ano de 1944 transcorrido num Lager nazista? Segundo alguns críticos italianos utiliza ele um tipo de "italiano marmóreo usado nas lápides", isto é uma língua clássica e formal, que conserva as principais características do químico: a procura exacerbada da palavra certa, assim como a forma gramatical extremamente correta, que ocasiona uma escrita clássica e, apesar disso, atual. A procura exacerbada da palavra certa é visível no uso de acumulo de adjetivos, substantivos, advérbios, muito parecidos ente si, que, às vezes, dificulta a tradução em português.

A forma utilizada é do literato e para tanto podemos dizer que há, em Se questo è un uomo, a escrita e a memória multifacetadas do químico, protagonista, testemunha, poeta, escritor italiano, de raça hebraica, Primo Levi.

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ESPAÇOS DISCURSIVOS E MUNDO DO TRABALHO
UM ESTUDO DA POLIFONIA EM NOTÍCIA DO JORNAL URUGUAIO EL PAÍS

Rosane Manfrinato de Medeiros (UERJ)
Vera Lucia de Albuquerque Sant’Anna (UERJ)

Esta pesquisa integra o projeto intitulado Estudo discursivo do mundo do trabalho em notícias sobre o Mercosul, coordenado pela orientadora.. Tem como objetivo verificar em notícias do jornal uruguaio El País, a construção da compreensão de mundo do trabalho no marco do Mercosul. A pergunta de pesquisa é de que maneira o enunciador-jornalista constrói sua enunciação, de modo que o seu leitor presumido identifique uma certa imagem de trabalho, no marco do Mercosul. A base teórica para este estudo é a Análise do Discurso, de orientação enunciativa. Em particular, as propostas de Bakhtin e seu círculo (1992; 1997) e Maingueneau (1989; 2001). Quanto à categoria de análise, consideramos Sant'Anna (2000), que aponta o discurso relatado como estratégia fundamental para a constituição da notícia na tensão informar/opinar. A metodologia da investigação segue os seguintes passos: coleta de notícias do jornal uruguaio El País na internet, utilizando como critério as palavras-chave trabalho e Mercosul; observação da incidência de discurso relatado; análise das ocorrências de DR e estabelecimento de relações com a definição dos espaços discursivos; conclusões. Os resultados parciais demonstram que o jornalista-enunciador do El País utiliza com equilíbrio o discurso relatado indireto e o discurso narrativizado. Quanto ao espaço discursivo, está em andamento o seu estudo.

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ESTRATÉGIA DE LEITURA, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NA ESCOLA

Beatriz dos Santos Feres (UFF)

Com a preocupação voltada para o insucesso da escola na formação de proficientes usuários da língua (seja enquanto produtores de textos, seja como leitores autônomos, reflexivos e críticos), este trabalho tem como objetivo problematizar os exercícios de leitura, compreensão e interpretação de textos nas aulas de Língua Portuguesa do segundo segmento do nível Fundamental. Para isso, serão utilizados os pressupostos da Semiolingüística (Chauraudeau, 2001), que buscam articular operações cognitivas de ordem lingüística com operações cognitivas de ordem psico-sócio-comunicativa. A pesquisa mostra que a Leitura, tratada como atividade periférica e isolada da produção textual e dos exercícios gramaticais (limitados, quase sempre, à aquisição da metalinguagem e à análise do período), perde seu papel de exercício de linguagem, que pode, se bem conduzido, abarcar tanto a análise da tessitura textual, através dos elementos coesivos e estruturais, quanto as relações extralingüísticas próprias da interação verbal e necessárias para a construção do sentido. Além disso, em se tratando de leitura de Literatura, mais aberta ao processo de interpretação e ao posicionamento do aluno enquanto sujeito-interpretante, é possível suscitar a reflexão e fomentar a criticidade. Por isso, torna-se fundamental a conscientização da importância desse tipo de atividade, para a verdadeira formação - e não mera instrução - de indivíduos bem articulados, que, a partir da Leitura, estarão capacitados para ler, compreender e interpretar, o próprio mundo melhor.

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ESTRUTURAS PARENTÉTICAS EM AULAS PARA OS ENSINOS MÉDIO E SUPERIOR

Paulo de Tarso Galembeck (UEL)
Priscila Pereira Chaves (UEL)

Castilho menciona três processos de construção da língua falada: a ativação (processo central de construção do texto, por meio da seleção de estruturas sintáticas e elementos lexicais, e do desenvolvimento do tópico ou tema); a reativação (retomada de estruturas ou do conteúdo, ou reformulação dos mesmos); a desativação (truncamento de palavras ou enunciados, ou ruptura na construção do tópico). Este trabalho discute uma das formas de desativação no plano de construção do tópico discursivo, os parênteses. Assim são entendidas aquelas breves interrupções que não chegam propriamente a quebrar a seqüência do tópico em andamento, pois simplesmente introduzem observações laterais ou complementares em relação aos interlocutores, ao tópico e ao ato discursivo em si. Não há, portanto, a ruptura que caracteriza a outra forma de desativação no plano da construção do tópico, as digressões. Estas, além de serem mais longas, introduzem - ainda que momentaneamente - um novo tópico. As inserções parentéticas são classificadas a partir de uma serei de variáveis: a) elementos aos quais os parênteses se voltam (os interlocutores, o assunto, o próprio ato discursivo); b) forma dos parênteses (marcador conversacional, palavra, frase simples, frase complexa); c) presença de marcadores conversacionais como elementos de introdução dos parênteses; d) função discursiva dos parênteses (esclarecimento ou explicação; observação complementar; ressalva; manifestação de ponto de vista; atenuação). A análise das ocorrências revela o predomínio de parênteses voltados para o tópico em andamento, com a função discursiva de esclarecimento do assunto. A maior parte das ocorrências é constituída por frases complexas, que não são introduzidas por marcadores conversacionais. O corpus do trabalho é constituído pela gravação de aulas para os ensinos médio e superior (Elocuções Formais dos Projetos NURC/RJ e NURC/SP).

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ESTUDO ACÚSTICO DA VOGAL [A] ISOLADA E EM POSIÇÃO BASE DE DITONGO

Adriano de Souza Dias (UFF/FEUDUC)

Esta pesquisa foi desenvolvida pelos métodos da Fonética Experimental, a fim de se chegar a resultados precisos quanto à análise das vogais do português do Brasil. Primeiramente, estudamos a vogal [a], isolada, analisando suas qualidades físicas, como: duração, intensidade, freqüência dos formantes, a seguir fizemos comparação com as mesmas características da vogal, base de ditongo, visando a obter as semelhanças e diferenças entre ambos os segmentos. Quanto à duração, pudemos constatar que a vogal isolada é mais longa do que a vogal, base do ditongo. Verificamos, também, que a vogal isolada é mais compacta do que a vogal em ditongo, uma vez que apresenta F1 mais alto e F2 mais baixo. A intensidade de ambas as vogais não revelou resultados relevantes. Vale ressaltar que foi constatada uma grande influência dos sons contíguos nas vogais analisadas.

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FÁBULA DE MILLÔR FERNANDES
O DESMANTELAMENTO DE UMA IDEOLOGIA

Edviges Marlene Paranaiba Vilela (UNINCOR)

Análise discursiva da fábula A Raposa e as Uvas, traduzida de Esopo, considerado o seu criador, e na versão humorista contemporâneo - Millôr Fernandes, pretendendo mostrar, através desse estudo, o dialogismo que se evidencia, e depois, principalmente, o desmantelamento da ideologia presente no primeiro texto. O texto contemporâneo amplia, alarga os horizontes do texto com o qual vinha dialogando e determina uma outra “moral”, cujo sentido vai de encontro a toda moral comum às fábulas. A nova ideologia, fugindo do caráter didático-pedagógico, parte para o lúdico, em busca do humor.

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FILOLOGIA E LINGÜÍSTICA EM AÇÃO
COMO RESSUSCITAR UMA LÍNGUA
O CASO DO HEBRAICO

Leopoldo Osório Carvalho de Oliveira

O presente trabalho pretende dar uma visão geral de como procedimentos filológicos e lingüísticos, servindo à vontade política dos judeu de viverem como um povo livre e soberano na pátria de seus ancestrais, a Palestina, conseguiram restaurar como língua falada e moderna um idioma que há quase dois mil anos havia desaparecido da comunicação diária do povo a cuja cultura e sentimento de nacionalidade servia de veículo: o hebraico.

A partir dos textos sagrados em hebraico e aramaico e do estudo da estrutura dessas línguas, em si mesmas e no contexto mais amplo das línguas semíticas, mortas ou vivas, é que se logrou a base para a restauração da velha língua de Hever enquanto o vernáculo do moderno Estado de Israel. Para tal, um grupo de homens de estudo e eruditos, sob a liderança e o pioneirismo do filólogo, lexicógrafo e lexicólogo Eliezer Bem Yehuda, reuniu-se para a monumental tarefa de extrair do passado os elementos lingüísticos e vocabulares que fossem capazes de dar corpo à cultura de uma nação secular e moderna.

Explicitar os recursos que esse grupo de visionários utilizou para tornar o hebraico uma língua funcional e contemporânea, para divulgar e legalizar as inovações em seu léxico e estrutura e, sobretudo, para que o povo efetivamente adotasse a antiga/nova língua como instrumento de comunicação para todas as facetas da vida diária da nação torna-se o objetivo principal desta comunicação.

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FILOLOGIA E PRECONCEITO
PALAVRAS MAL DITAS

Jane Bichmacher de Glasman (UERJ)

Um estudo etimológico possibilita a identificação da origem e da evolução das palavras. A filologia permite-nos seguir a trajetória histórica do desenvolvimento de uma língua, estudar sociedades e civilizações através de seu legado escrito. Vários vocábulos da língua portuguesa receberam conotação negativa, devido a processos históricos, sociológicos e culturais, tendo assim ficado perpetuadas no idioma.

Seu uso popular, literário ou na mídia, desvincularam-nos de sua origem semântica, tendo sido usados e consagrados de forma pejorativa e preconceituosa, a despeito da vasta gama de possibilidades sinonímicas.

Pretendo exemplificar e analisar esses processos lingüísticos, através de vocábulos ligados ao judaísmo (como judiar, judiação, marrano, etc), tecer considerações sobre seu uso indevido e apresentar propostas de esclarecimento público e de resgate do sentido original, como forma de, através da filologia, eliminarmos preconceitos, conferindo-lhe um papel de mudança social positiva.

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FORMAÇÃO LEXICAL EM “PALAVREADO”, DE LUIS F. VERÍSSIMO

Alexandre José P. C. de Assis Jácome (UNAM)
Nataniel dos Santos Gomes (UNAM)

Nosso trabalho tem por objetivo uma análise sucinta do léxico utilizado na crônica “Palavreado”, parte integrante da obra “Comédias para se Ler na Escola”, de Luis Fernando Veríssimo. Para tal análise, estamos utilizando como base o livro Teoria Lexical, de Margarida Basilio, onde serão enfatizadas a questões apresentadas pela autora com relação aos processos de formação de palavras na língua escrita e falada, bem como suas diferenciações. Nesta pesquisa, observaremos as particularidades do vocabulário adotado no texto pós-moderno de Veríssimo, bem como o porquê de sua utilização, considerando fatos extrínsecos à obra e sua significação no panorama atual das escolas. Como exemplo, temos a construção formulada pelo autor: “Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida.” (VERÍSSIMO,2001:73)

Percebe-se que a utilização informal dos vocábulos, bem como o verbo na 1° pessoa equipara-se a comunicação oral. Na linguagem escrita formal padronizada poderíamos ter: “O vocábulo “lascívia” remete-nos a imagem corporal feminina, não fornida mas magra e alta.” Sendo assim, a utilização escrita da linguagem oral atenta-nos a considerar outro fator dos recursos adotados por Veríssimo: o emocional, típico na expressão informal, também observável em: “Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é.” (VERÍSSIMO, 2001:73), onde bem, de “bem fornida”, é utilizado com sentido de intensidade, comum na linguagem oral, porém não usual na escrita.

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FORMAS PRONOMINAIS ALOCUTIVAS NO ITALIANO CONTEMPORÂNEO

Mariarosaria Fabris (USP)

No chamado neo-italiano, os pronomes empregados corriqueiramente ao dirigirmo-nos a um ou mais interlocutores são tu e voi (no tratamento familiar) e Lei e Voi (no tratamento cerimonioso).

Apesar dessa tendência à simplificação, persistem, na língua italiana, outras formas de tratamento. Estas, embora de menor freqüência, todavia não caíram em desuso e seu emprego ainda tem repercussões significativas na sociedade italiana contemporânea.

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FREQÜÊNCIAS LEXCAIS EM GREGÓRIO DE MATTOS E GUERRA

Ruy Magalhães de Araujo (UERJ)

Cuida o presente trabalho de apresentar um quadro das principais freqüências lexicais (palavras e expressões) ocorridas nas poesias atribuídas a Gregório de Mattos e Guerra, poesias essas classificadas como satíricas, fesceninas, encomiásticas, sacras e líricas, constantes de várias obras de autores consultados sobre assunto.

Toda esta pesquisa caracteriza um vocabulário atípico, peculiaríssmo ao bardo baiano, em que também se comprovam arcaísmos, helenismos, arabismos, latinismos, neologismos, brasileirismos, tupinismos, africanismos, regionalismos.

Trata-se do contingente expressional do poeta, atestando sua pluralidade de produzir, consoante no-lo dão a conhecer as ocorrências listadas.

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GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA

Ângela P. Dionísio (UFPE)

No âmbito dos estudos sobre a linguagem, a análise meramente estrutural cede espaço para a análise da língua em contextos de usos naturais e reais, postura já consolidada nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, que refletem as teorias lingüísticas mais recentes. Dentre a diversidade de temas focalizada nos PCNs, a noção de gêneros discursivos parece-me fundamental uma vez que constitui a orientação base para o ensino de língua. As diretrizes dos PCNs (1998:23) atestam que a “unidade básica do ensino só pode ser o texto” e que este se realiza sempre por meio de um gênero, assegurando que é “necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas”. Exige-se, pois, do professor, um planejamento que permita aos alunos o “acesso aos saberes lingüísticos necessários para o exercício da cidadania” (PCNS,1998:19). Este planejamento dependerá não só do “grau de letramento das comunidades em que vivem os alunos” (PCNS,1998:19), como afirmam os PCNS, mas também do grau de letramento dos professores. Pretende-se, neste trabalho, discutir alguns aspectos teórico-metodológicos dos gêneros textuais relacionados ao ensino de língua materna, O corpus se constitui de revistas semanais e mensais, destinadas a jovens e crianças, publicadas no período de janeiro a junho de 2002.

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GRAMÁTICA : PUREZA DA LÍNGUA

Cristina Alves de Brito (FGS)

Aos puristas sempre coube a defesa da língua, se assim não fosse como estaríamos, hoje, na era da globalização?

A questão da língua, não é de agora que se coloca, ao longo de sua trajetória tem sofrido os mais diversos ataques externos e até mesmo internos, mas a todos sobrevive apesar das tentativas constantes de corrompê-la.

Assim, procurar-se-á tratar do embate constante entre os defensores da pureza da língua e a barreira que se quer criar em prol de uma língua que se quer preservada.

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GRAMÁTICA, FILOLOGIA , LINGÜÍSTICA: OPOSIÇÕES E COMPLEMENTARIDADES

Cidmar Teodoro Pais (USP/UBC)

O eminente Professor Celso Ferreira da Cunha notabilizou-se por suas pesquisas em gramática, filologia e lingüística. Em sua homenagem, apresentamos breve caracterização epistemológica dessas áreas do conhecimento. A gramática e a filologia, criadas em Alexandria e retomadas no Renascimento, entendem-se como disciplinas complementares, fundamentadas na concepção clássica de língua: a língua ‘surge’ rude, chega ao apogeu e depois decai. Trata-se de resgatar e preservar o ‘patrimônio’ lingüístico e cultural. A gramática volta-se para a língua, enérgeia, privilegiando a escrita, estabelece “regras para escrever com correção e elegância”, colhendo exemplos nos textos dos autores do apogeu, segundo o princípio estético da mýmesis. A filologia estuda os textos, érgon, tentando explicar seu significado e reconstituir, com base nas versões e variantes disponíveis, os textos originais. Ambas fazem uma abordagem ‘acrônica’, historicista, tomando como metateoria humanismo, racionalismo e verossimilhança; interessam-se, apenas, pelas ‘línguas de civilização’. A lingüística histórico-comparativa, positivista, demonstra a evolução das línguas, adotando como metateoria a metáfora biológica darwiniana, em abordagem historicista, pesquisando, em textos, as formas atestadas. A lingüística moderna, estruturalista, tem por objeto a língua, como instrumento de comunicação, instituição social e cultural, em abordagem sincrônica, descritiva. A lingüística pós-moderna, frástica e transfrástica concebe língua e discurso, dialeticamente articulados num processo semiótico, instituição cultural, social, histórica e atividade cognitiva; distingue discurso, como processo, e texto, como produto, articulando enunciação e enunciado. Em abordagem pancrônica, considera funcionamento e mudança como processo único, tomando por metateoria o conjunto das ciências humanas e sociais. Inspira essas reflexões o exemplo de Celso Cunha.

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GRAMÁTICAS PEDAGÓGICAS: CONFRONTOS ENTRE PROPOSTAS E PRÁTICAS

Maria Luci de Mesquita Prestes (FAPA)
Eduardo Rosa de Almeida (FAPA)
Janice Cravo Piccoli (FAPA)

Não há como negar que, com o avanço dos estudos das ciências da linguagem, especialmente as que se dedicam de modo mais específico a questões relativas ao texto e ao discurso, o ensino de língua tem sido repensado, e muitos avanços nesta área já podem ser percebidos. Os materiais didáticos, entre os quais se incluem os livros e as gramáticas pedagógicas, têm sofrido visíveis modificações, buscando adequar-se a essa nova perspectiva de ensino. Entretanto, o que se pode perceber é que, apesar de mudanças significativas em muitos desses materiais, com a presença de textos variados, já que dizem propor-se a um ensino de gramática em uma perspectiva discursivo-textual, ainda se guardam resquícios (bastantes até, em alguns deles) de um ensino que se utiliza de palavras e frases soltas, descontextualizadas. Nesta comunicação, pretendemos mostrar os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), buscando confrontar a que se propõem gramáticas pedagógicas à disposição atualmente no mercado editorial brasileiro e como elas efetivamente procuram colocar em prática suas propostas.

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GRUPO DE ESTUDO NA ESCOLA
POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS ALTERNATIVAS PARA
A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS (E PROFESSORAS) LEITORAS E ESCRITORAS

Jacqueline de Fatima dos Santos Morais (UERJ
Margarida dos Santos Costa (ISERJ)
Carmem Sanches Sampaio (UNIRIO
)

Desde o início da década de 90 um grupo de professoras da então pré-escola (hoje Educação Infantil) e do 1º segmento ( CA à 4ª série) do Instituto Superior de Educação (ISERJ), vem reunindo-se sistematicamente com o objetivo de discutir as possibilidades e os limites da formação de alunos e alunas escritores e leitores, tomando como ponto de partida as próprias práticas pedagógicas, ou seja, o cotidiano e as experiências como lugar privilegiado de investigação.

Estes professores criaram um grupo denominado Gefel (Grupo de Estudos e Formação de Escritores e Leitores), que se reúne a cada mês, fora do horário de trabalho no interior desta escola pública da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro.

Hoje o grupo é composto por docentes que estão em setores de novos nomes: Educação Infantil, Educação Básica, Educação Superior.

Em sua origem o grupo de estudos, formado, em sua maioria, por professoras alfabetizadoras, encontrava-se insatisfeito com a forma tradicional com que alfabetizava e com o isolamento que esta prática provocava. O grupo queria discutir possibilidades de construção de práticas alternativas de formação de crianças leitoras e escritoras, que se apresentassem na contramão das práticas pedagógicas hegemônicas na escola. As professoras buscavam propostas que se afastassem do uso das cartilhas, da gradação de supostas dificuldades da língua e dos exercícios mecânicos e mecanicistas.

O presente trabalho buscará discutir os limites e alcances de grupos como este para o trabalho em sala e os avanços que coletivamente foram acontecendo

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GUIMARÃES ROSA ENTRE FILOLOGIA E AUTOFICÇÃO
O ENIGMA DAS LETRAS EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS

Marcelo Marinho (UC Dom Bosco)

I - Ementa : O curso versará sobre a decodificação de uma série de enigmas literários do Grande Sertão: Veredas, visto que “ler”, como afirma o “io bardo” Riobaldo, é também “deletrear”, discernir as letras. Grande Sertão: Veredas remeteria, assim, àquele “almanaque grosso, de logogrifos e charadas” sobre o qual fala Riobaldo, em um dos múltiplos e sugestivos protocolos de leitura que podem conduzir, em conformidade com a sugestão de Rosa em entrevista a Günter Lorenz, à noção de “autobiografia imaginária”. Riobaldo, duplo do romancista, desdobra-se também na figura de filólogo.

II - Programa

1. Panorama das leituras críticas: do regionalismo à inovação lingüística.

a. Regionalismo: geografia, história, sociologia e antropologia;

b. Intertextualidade: fontes e influências;

c. Linguagem: da cor local à busca do universal;

2. O “almanaque” GRND SRT~ e seus enigmas: protocolos de leitura.

a. O pacto com o Cão, Habão, Ricardão, Sussuarão e Tamanduá-Tão: um falso Sertão;

b. As enigmáticas ilustrações do romance: da pintura rupestre ao nascimento da escrita;

c. O crótalo Urutu Branco, Crátilo e Hermógenes: Platão e a motivação do signo;

3. A “autobiografia imaginária”: palimpsestos de Guimarães Rosa.

a. A genealogia de um bardo: entre o recontador Selorico Mendes e o logorréico José Bebel;

b. Entre Diadorim e Otacília: o Verbo e a Verba;

c. O bardo Riobaldo e seu fardão: a autoficção de Guimarães Rosa.

III - Aspectos abordados

Panorama das leituras críticas: revisão bibliográfica e agrupamento temático de leituras exegéticas do romance. O “almanaque” GRND SRT~ e seus enigmas: interpretação de elementos textuais e paratextuais do romance (ilustrações destinadas à segunda edição do livro, entrevistas, correspondência e certos textos ficcionais de G. Rosa, passagens de traduções) com base na noção de enigmas que fornecem protocolos de leitura. A “autobiografia imaginária”: com apoio nos protocolos de leitura e em declarações do romancista, leitura de palimpsestos que remetem ao ofício de escritor e à concepção do fazer poético segundo Guimarães Rosa.

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HERANÇA VOCÁLICA LATINA DAS LÍNGUAS ROMÂNTICAS

Bruno Fregni Bassetto (USP/ABF)

Sempre que surge uma dúvida sobre como pronunciar determinada vogal se aberta ou fechada, o modo mais certo de resolvê-la é buscar seu étimo, caso a palavra seja de origem latina. É bem conhecida a correlação entre as vogais breves latinas e as de timbre aberto correspondentes no português ou resultantes em ditongos crescentes nas outras línguas românicas, excetuado o sardo. Esse correlação encontra-se também entre as longas latinas e as fechadas ou ditongadas em ditongos decrescentes. Esse fato é verificado na grande maioria dos casos, pelo menos inicialmente. Posteriormente, os metaplasmos variam de acordo com as tendências de cada língua românica. Nesse contexto, o português se destaca por não conhecer a ditongação espontânea e, em conseqüência, manter sete vogais com valor fonológico. O sardo, particularmente o logudorês, sua variante mais representativa, também não conhece a ditongação espontânea, mas pelo fato de ter simplesmente perdido a noção de quantidade vocálica latina e por isso não distinguir as vogais, especialmente as médias, pelo timbre, como ocorreu em todas as outras regiões da România. Se atentarmos devidamente para essa herança românica, torna-se mais fácil entendermos ab initio os diversos sistemas vocálicos das Línguas Românicas. As influências comprovadas do substrato e superstrato fornecem explicação bastante aceitável da evolução posterior, da qual resultaram os sistemas fonológicos atuais, por vezes bastante diferenciados como o do francês, por exemplo, cujas raízes, porém, sempre devem ser buscadas na base comum do latim vulgar.

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HIPERTEXTO E COMPREENSÃO LEITORA
UMA APLICAÇÃO AO SITE DO JORNAL ARGENTINO
CLARÍN

Wagner Guimarães da Silva Almeida (UERJ
Cristina de Souza Vergnano Junger (UERJ)

Diante do grande volume de informações veiculadas através de textos transmitidos pela Internet, questiona-se a relevância de uma análise das características dos textos digitais em comparação com os impressos, sobretudo com relação às competências requeridas para a compreensão leitora.

Para Pierre Lévy (1993), a noção de hipertexto introduz um novo modo de acesso à informação. Segundo ele, o clique com o mouse “desvia todo o agenciamento intertextual e documentário para outro domínio de uso, com seus problemas e limites” (LÉVY, 1993), o que diferencia a leitura digital da leitura de um texto impresso, tanto com suas facilidades como com seus problemas. Portanto, se pode dizer que o hipertexto redefine o espaço do texto e interfere no processo de leitura, fazendo com que a mobilidade e a interconectividade surjam onde antes havia uma ordem linear.

Tratando das estratégias de leitura, Ângela Kleiman (1989), afirma que o leitor necessita recuperar os elementos extralingüísticos presentes no texto e em seus aspectos formais. Ela se refere ainda ao chamado principio da canonicidade na leitura, que “agrupa vários princípios sobre as nossas expectativas com relação à ordem natural no mundo e sobre como essa ordem se reflete na linguagem” (KLEIMAN, 1989). Segundo ela, quanto mais o texto se enquadre nessas expectativas, mais fácil será o seu processamento pelo leitor. No entanto, o hipertexto utiliza esse princípio cognitivo inerente ao leitor para oferecer-lhe novas seqüências e caminhos na leitura, produzindo também novas expectativas, sem limitar-se à linearidade comum nos textos impressos.

Orientado à língua espanhola, este trabalho pretende analisar crônicas diárias da seção “Opinión” do jornal argentino “Clarín”, em seu site na Internet, objetivando oferecer subsídios para estudos futuros voltados à leitura de textos digitais e suas possíveis aplicações no ensino de espanhol como língua estrangeira.

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HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
AUTORIA E CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO

Valéria Maria de Oliveira Miranda (UNIVALE)
Teresinha de Fátima Nogueira (UNIVALE)

Este trabalho refere-se a um estudo de caracter qualitativo desenvolvido no projeto Vale Criar com alunos em nível de Ensino Fundamental na oficina de Leitura e Produção de Textos. A atividade proposta foi a elaboração de histórias em quadrinhos, em uma concepção de escrita que envolve o autor, sua história de vida e de leituras (Orlandi, 1988) e as suas condições de produção. Neste sentido, objetivou-se verificar o desenvolvimento do aluno na construção de Histórias em Quadrinhos num contexto informal de ensino e analisar esta produção escrita. Tal análise foi realizada a partir dos dados coletados nas histórias em quadrinhos construídas pelos alunos da oficina de Leitura e Produção de Texto. Os resultados revelam que uma atividade não próxima à realidade do aluno num contexto informal de ensino e com recursos materiais e acompanhamento contínuo por parte dos monitores da oficina contribuem para uma participação mais efetiva e prazerosa por parte dos alunos escritores.

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HÖLDERLIN E A EXPERIÊNCIA DO ABISMO ENTRE A TRAGÉDIA E A TRADUÇÃO DA “ANTIGONA”

Carlinda Fragale Pate Nuñez (UERJ)

A tradução de Hölderlin para a Antígona de Sófocles assombra pela probidade filológica, tanto quanto pelas soluções sintático-poéticas com que o filósofo recupera sub-temas finamente articulados no discurso trágico e no imaginário textual. Tornou-se uma obsessão do dramaturgo-teórico o resgate do imaginário sofocliano através de um trabalho tradutório que muitas vezes foi tido como falho ou corruptor do original. Para levar a cabo a demonstração de uma filosofia da escritura trágica que se desenvolveu coetaneamente à prospecção mais radical no original sofocliano, serão apresentados alguns exemplos da transcriação hölderliniana, a serviço do resgate de nuances temáticas e filosóficas, nem sempre presentes, seja nas chamadas “traduções literais” e “traduções livres”.

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IDENTIDADE , SUBJETIVIDADE LÍRICA E LINGUAGEM
POESIA INGLESA X POESIA MODERNISTA

Fernanda Teixeira de Medeiros (UERJ)

A assimetria dos termos em oposição - poesia inglesa versus poesia modernista -, o primeiro referindo nacionalidade e o segundo estilo, já indica o problema de que se quer tratar. O evento do British Poetry Revival (1960/70) na Inglaterra, fenômeno de emergência múltipla de diversas linguagens poéticas não canônicas (non-mainstream), traz à tona a discussão da recepção do modernismo poético no âmbito da cultura inglesa. O que se percebe é que, ao longo do século XX, o cânone poético inglês definiu-se em oposição à idéia de experimentação advogada pelo modernismo. Na investigação de tal fato, percebe-se que a eleição da poesia lírica de linhagem romântica como modelo privilegiado corresponde a uma estratégia de domesticação da língua e da linguagem, operando, em última instância, um resguardo da identidade inglesa.

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IDENTIDADE(S) CONSTRUÍDA(S) NO DISCURSO DE IMIGRANTES GALEGOS NO RIO DE JANEIRO
UMA REFLEXÃO
SOBRE A HETEROGENEIDADE ENUNCIATIVA

Beatriz Gradaílle Martinez (UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)

Consideramos como Grimberg (apud Pájaro, 1998) a migração como um fenômeno complexo que perturba o sentimento de identidade ao desestruturar os vínculos de integração espacial, temporal e social, mas que também gera novas compreensões sobre identidade e formas de vida. Como Thompson (1998), acreditamos na importância de valorizar a memória do homem anônimo: a memória de um pode ser a de muitos. Nosso estudo tem como foco de interesse a coleta e análise relatos de histórias de vida, de memórias individuais, de imigrantes galegos idosos, radicados no Rio de Janeiro, residentes no asilo Sociedade Recreio dos Anciãos. O objetivo desta comunicação é apresentar os avanços da pesquisa que se propõe a refletir sobre a construção discursiva de possíveis sentidos acerca da noção de identidade cultural no discurso desses imigrante. Assim como, identificar para que tipo de identidade apontam esses sentidos - para uma identidade “galega”, “brasileira” ou para uma identidade sincrética, “traduzida” ? (Hall, 2000). Nesta comunicação apresentaremos os passos metodológicos seguidos para a construção da entrevista, corpus de nossa análise (Daher, 1998). O quadro teórico a que recorremos é o da Análise do discurso de base enunciativa que inclui a reflexão sobre as diferentes formas de heterogeneidade discursiva (Authier-Revuz, 1998; Maingueneau, 1989, 2001), essenciais para a elaboração do instrumento. Do ponto de vista metodológico, o levantamento e a análise das marcas de heterogeneidade apresentam-se como elementos que garantem o acesso ao plano da alteridade dos discursos e, desse modo, à construção de sentidos acerca da noção de identidade cultural.

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IMPRESSIONISMO
OS PAPÉIS DA CRÍTICA NO TEXTO

Itana Nogueira Nunes (UNEB)

A crítica jornalística, muitas vezes aleatoriamente denominada de impressionista, a rigor, não pode ser considerada como tal, em virtude das distinções existentes entre essas duas modalidades de interpretação e julgamento. Chamamos de crítica impressionista à modalidade de opinião baseada nas emoções provocadas no leitor pelo texto. Nessa prática, as análises são feitas a partir de todas as impressões percebidas, no contato do receptor ou leitor com um objeto do mundo exterior. Foi assim denominada pela sua proximidade com o advento do Impressionismo na pintura, surgido na França nos fins do século XIX como uma reação à arte acadêmica, sendo considerado como o ponto de partida da arte contemporânea.

Contudo, embora tenhamos por tanto tempo nos valido dessas impressões da alma para refletir sobre o objeto observado, nos tempos modernos, numa busca incessante de alcançar uma verdade rigorosa e indiscutível, o homem de um modo geral tem duvidado da eficácia das impressões pessoais como forma de orientação para sua vida. Desse mesmo modo de pensar tem feito uso a crítica literária, afastando-se assim da sua acepção primeira: apreciação de cunho pessoal.

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INANES PICTURAE?

Francisco Edi de Oliveira Sousa (UFC)

No canto inicial da Eneida, atacada por uma tempestade, a frota de Enéias se refugia em Cartago. Na manhã seguinte, Enéias e Acates decidem explorar a região; durante esta aventura, encontram um bosque onde se ergue um templo à deusa Juno. Neste recinto, vêem pinturas retratando episódios da Guerra de Tróia. Utilizando conhecimentos de antropologia, filosofia, poética e retórica, investigamos algumas funções destas imagens na obra e discutimos um sentido adequado à expressão pictura... inani (v. 464). O texto analisado se estende do verso 441 ao 519.

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INFLUÊNCIA DOS PADRÕES MORFOLÓGICOS LATINOS NA TERMINOLOGIA CIENTÍFICA

Paulo Mosânio Teixeira Duarte (UFCE)

Pretendemos com este trabalho mostrar como os padrões morfológicos latinos têm influência na terminologia científica. Valemo-nos de um corpus escrito do português brasileiro, coletado pelo professor Francisco da Silva Borba e publicado entre 1950 e 1990. Este corpus consta dos seguintes sub corpora com suas respectivas ocorrências: (1) literatura romanesca - 1.394.855; (2) literatura dramática - 620.386; (3) literatura técnico-científica - 1.223.605; (4) literatura jornalística - 1.458.174; (5) literatura oratória - 442.176. Complementarmente, socorremo-nos de dicionários representativos da língua como Houaiss (2001) e Aurélio (1999). Nosso objetivo é trabalhar especificamente com a prefixação, baseados em obras como as de Maurer Jr. (1951, 1959), A unidade da românia Ocidental e Gramática do latim vulgar, respectivamente, e a de Romanelli (1964), Prefixos latinos. Como base de apoio, recorremos ao Novo dicionário latino-português de Saraiva (1993). Assim, contribuímos para o ensino da diacronia e para a descrição do português, já que, em geral, as gramáticas históricas oferecem uma lista de prefixos, sem atentar para as condições de produção dos mesmos e sem especificar a que modalidade de latim estão se referindo: clássico, vulgar ou medieval.

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INICIAÇÃO À FILOLOGIA GERMÂNICA: BREVE HISTÓRIA COMPARADA DO INGLÊS E DO ALEMÃO

Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

A importância da Filologia Germânica para a formação dos profissionais do magistério de Inglês e Alemão é fato inquestionável. Entretanto, os estudos de ordem diacrônica sobre as etapas evolutivas dos respectivos idiomas, bem como algumas de suas principais características peculiares de ordem fonética, sintática, morfológica e semântica não são de modo geral fomentados nas instituições de ensino brasileiras. O mini-curso tenciona, de maneira sucinta, expor a história daquela ciência e as premissas básicas sobre o labor filológico ligado às línguas germânicas, elegendo o Inglês e o Alemão para traçar um percurso histórico-lingüístico, que terá numa abordagem comparativista o seu modus operandi.

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INTERAÇÃO FACE A FACE EM UMA COMUNIDADE RELIGIOSA
ENQUADRES RELIGIOSO E SOCIAL

Cleide Emília Faye Pedrosa (UFS; UFPE)

Este artigo, fundamentado na Sociolingüística interacional, tem como objetivo analisar os enquadres religioso e social em uma comunidade religiosa. Na primeira parte, iremos apresentar alguns tópicos da Sociolingüística interacional: história, métodos, marco, contexto nacional, etc. Na outra parte, verificaremos, com exemplos e análises, os comportamentos social e religioso em uma interação face-a-face. Um relevante aspecto a considerar é a análise da linguagem e do sil6êncio na prática religiosa, e como ambos refletem e acrescenta significado para o contexto e para a organização interativa de participação. O material, que servirá de corpus para esta análise, consiste na gravação de um videoteipe e anotações das observações da interação ocorrida em uma Igreja Adventista (Aju, Se/Brasil).

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LÍNGUA FALADA

Paulo de Tarso Galembeck (UEL)

OBJETIVO

Fornecer aos alunos informações básicas acerca dos processos de construção do discurso falado.

EMENTA

Características gerais da Língua Falada. Processos de construção do discurso falado.

PROGRAMA

1. Características gerais da Língua Falada.

2. Processos de construção do discurso falado: ativação, reativação, desativação.

3. Marcadores conversacionais;

4. Tópico discursivo.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

CASTILHO, A. T. A língua falada no ensino de português. São Paulo : Contexto, 1998.

PRETI, D. (Org.). O discurso oral culto. São Paulo : Humanitas, 1993.

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JOGOS CLÁSSICOS
UM ARQUÉTIPO NO MUNDO OCIDENTAL

Amós Coelho da Silva (UERJ e UGF)

Em latim, Ludus, no singular, designa, jogo, divertimento, passatempo, no plural, Ludi, jogos de caráter religioso ou oficial. Jogo em grego se diz agón e significa originariamente assembléia, reunião (para jogos, festas, atos religiosos...). Johan Huizinga aquilata os jogos como os fundamentos da civilização, tudo aquilo que reputamos como forma de belo e de nobre jogo iniciou a partir de um jogo sagrado. Assim, torneios e justas, as ordens, os votos, os títulos, são todos vestígios dos ritos de iniciação primitivos. O jogo é, enfim, um artifício mais arcaico que a cultura e a articulação dele se processa como a mimese do conceito aristotélico, quando este afirma ser a imitação uma tendência instintiva no homem, desde a infância. Neste ponto distingue-se de todos os outros seres, por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação.

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JOGOS FÚNEBRES
FESTIVAIS DE VIDA EM HONRA DA MORTE

Dulcileide V. do Nascimento (UERJ)

Os jogos fúnebres sempre fizeram parte do contexto social helênico. O desenvolvimento físico fazia parte do processo educacional dessa época e as competições já são atestadas desde Homero. Tendo em vista que toda manifestação sócio-cultural grega estava relacionada com a religião, falaremos, nesta comunicação, da importância conferida aos jogos praticados durante os funerais - esses jogos resgatam antigos costumes que implicavam na legitimidade da sucessão pós-morte e em Homero serviam para celebrar a memória do defunto e para permitir aos seus descendentes a ostentação do seu poder e bens.

Cabe aqui salientar que, para os gregos, na morte reconhece-se um rito não só de purificação, mas também de renovação e origem da vida, e como rito merece cuidados específicos.

Para abordar este tema utilizaremos os cantos XXIII e XXIV da Ilíada que falam dos funerais de Pátroclo e de Heitor e as pinturas que representam essas atividades.

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JUDAÍSMO MESSIÂNICO
A RESSURREIÇÃO PELA LÍNGUA

Isabel Arco Verde Santos (UERJ)
Andréa Melo Souza (UERJ)
Camila Costa Lima (UERJ)
Vanessa Tavares Brum (UERJ)

O Judaísmo Messiânico é um fenômeno recente, embora com raízes bem antigas. Originário do judaísmo, o movimento combina a religiosidade judaica à fé cristã.

Para o judeu messiânico, sua fé abraça judaísmo e cristianismo num movimento próprio em busca de sua identidade. A dureza que ele se depara ao assumir diante de sua família a aceitação dos princípios básicos cristãos, coloca-o numa posição de marginalização com relação ao grupo. A crença no Jesus como o Cristo é suficiente para que ele seja banido de seu meio, negado como judeu e simbolicamente morto.

Ele, no entanto, não nega suas origens, mas busca de todos as formas seu reconhecimento como um verdadeiro judeu, buscando sua ressurreição.

Tal qual o Golem, elemento da mitologia hebraica que revive pelo poder da palavra promovendo a libertação do povo, o judeu messiânico encontra na palavra, na língua, a sua própria libertação, a sua ressurreição.

A língua hebraica torna-se então o elemento de referência, diferenciador do cristão e legitimador do judeu. Através da pesquisa na internet identificamos a utilização desta língua por este grupo.

Neste processo de reconhecimento e aceitação por que passa o judeu messiânico, o uso do hebraico tornar-se confuso, quer pela transgressão de estruturas básicas da língua, quer por um preciosismo que enfatiza e impõe o uso de determinados termos segundo a fonética hebraica, sem manter a escrita.

A penetração destes elementos reflete-se inclusive nos meios cristãos, principalmente com a música gospel, onde letras divulgando termos hebraicos são a marca do sucesso.

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LEITURA E ENSINO : DEVER OU PRAZER?

Maria Cristina Lírio Gurgel (UERJ)

Esta comunicação objetiva refletir sobre os princípios que devem nortear o trabalho com leitura em sala de aula, exemplificando, através de textos em linguagem verbal e não-verbal, as possibilidades de que o professor dispõe para despertar, em seus alunos, o prazer e o gosto pela leitura. Tendo como base a análise crítica dos PCNs de Língua Portuguesa (5ª a 8ª séries), nos quais a leitura é vista sob o aspecto discursivo, e o princípio bakhtiniano (Volochinov, 1929) de que a língua não se transmite, na medida em que os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada, procura-se refletir sobre a leitura como construção de subjetividades, como possibilidade de provocar questionamentos, dúvidas, incertezas - ler é sair do espaço do conhecido, é ousar - e como trabalho e, nesse sentido, “não é preciso que a cada texto lido se siga um conjunto de tarefas a serem realizadas” (PCNs - Língua Portuguesa, p. 72). Mas como ensinar leitura? Como provocar no leitor o desejo de ler? Como transformar o dever em prazer? Como tornar possível a soma de diferenças que a interação leitor/texto pode propiciar? Estas e outras questões serão objeto de nossa reflexão.

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LEITURAS LEXICAIS DA ‘LOUCURA’

Fábia dos Santos Marucci (UFF)

Desde a antigüidade grega, a loucura vem sendo associada à ‘falta da razão’ (Pessotti: 1994, 14- 23). Na obra de Eurípedes, por exemplo, há diversos personagens loucos que representam a loucura como produto da força e dos conflitos das paixões humanas: o comportamento ‘errado’ do homem é um fator para que se desencadeie nele a loucura. É somente a partir do par opositivo com a razão que se instaura o conceito de ‘loucura’. Essa base conceitual parece não ter se modificado até nossa época. Todavia, notamos, hoje, uma pressão por parte de instâncias políticas e médicas em direção à reintegração social do louco: ganharam forças as novas políticas de assistência ao “portador de transtorno mental”; surgiram novos medicamentos que prometem uma cura imediata; aprovaram-se leis federais e regionais ligadas a novos modelos de atendimento etc. A própria denominação “portador de transtorno mental” nos indica uma mudança no léxico da ‘loucura’, numa tentativa de apagar o estigma que os termos até então empregados possam carregar. Quais outras denominações são associadas à representação do significante ‘loucura’, atualmente? Nossa pesquisa, na mídia impressa, formadora de opinião, propôs um estudo sobre essa questão.

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LEONARDO SCIASCIA
LINGUAGEM, TRADIÇÃO E PODER

Anamaria Vieira Magalhães (UFRJ)
Amarilis Gallo Coelho (UFRJ)

Encontramos na literatura italiana contemporânea, determinados conceitos que são recorrentes em alguns autores provenientes da parte meridional da Itália. Entre esses, encontramos por exemplo, a palavra máfia, muito bem definida, assim como outras, ao longo dos romances e contos de Leonardo Sciascia. O tema da máfia reflete, entre outras coisas, o contato que o escritor estabeleceu com o Poder constituído sobretudo nos vilarejos sicilianos. A figura do mafioso e seu conseqüente comportamento delineia-se ao longo da obra sciasciana caracterizando e definindo atitudes singulares. Sciascia aponta a condição histórica da Sicília, remetendo-nos a fenômenos que ocorrem no mundo que nos cerca. Determinados aspectos da linguagem acompanham, assim, inevitavelmente, esse processo de caracterização, como índices de cor local.

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LIÇÕES DO ARCAICO

João Bortolanza (UFMS, UEMS e ABF)

Magistra vitae , a História sempre tem algo a ensinar a quem quiser refletir sobre a realidade presente. Excursos para o passado do galaico-português incitam a ver nossa Língua numa dimensão histórica: que marcas traz do passado Latino, que estágios as variantes prenunciavam, que variações sofreu até chegar à atualidade. Apresentam-se didaticamente aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos e léxico-semânticos de uma dezena de cantigas de Don Fernan Garcia, Esgaravunha, constantes no Cancioneiro da Ajuda, edição de Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

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LÍNGUA PADRÃO E ENSINO

Ana Paula Araujo Silva (UERJ)

O que deve ser estudado na aula de Língua Portuguesa? O que nós, professores, devemos ensinar a nossos alunos? Se é que estamos ali para ensiná-los... Diversas questões como essas rondam a cabeça de milhares de docentes que se questionam sobre sua prática diária em sala de aula. Vários livros pregam o fim do ensino da gramática, autores que ocupam grande espaço na imprensa clamam pelo “bom uso da língua”, os pais dizem que o português que eles aprendiam antigamente era melhor que o que seus filhos aprendem hoje, os alunos reclamam que a aula de Português é chata, que estudam, estudam, mas não aprendem nada...

Diante de tantos questionamentos, é preciso refletir sobre o que trabalhar na aula de Língua Portuguesa. Neste trabalho, abordaremos uma das faces dessa questão - como apresentar a língua padrão em nossas aulas. Discutiremos algumas posições preconceituosas que têm sido divulgadas em livros, jornais e revistas, pois acreditamos que, como bem escreveu Celso Cunha em Língua portuguesa e realidade brasileira, diante de

atitudes extremistas - dos que advogam o rompimento radical com as tradições clássicas da língua e dos que aspiram a sujeitar-se a velhas normas gramaticais - há sempre lugar para uma posição moderada, termo médio que represente o aproveitamento harmônico da energia dessas forças contrárias (...).

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LÍNGUA, HISTÓRIA E COMUNIDADE

Marcelo Andrade Leite (USS)
Maria Inês Mexias Rodrigues (USS)

A lacuna existente entre o que torna fala e escrita manifestações distintas da comunicação humana é objeto de estudos relativamente recentes e quando o assunto é a otimização dos processos que permitem a transformação do falante em leitor tendo como foco a relação sujeito/linguagem (ABAURRE, 1991) vagamos por campo ainda pouco explorado.

Propomos nesse estudo a observação de peculiaridades na escrita de iniciantes (adultos) dos processos de alfabetização que levam a inadequações à língua culta é a chave para a compreensão dos fenômenos em si, assim como também abertura para estratégias de melhor aproveitamento do ensino com o enquadramento da proposta pedagógica ao universo léxico-cultural do aluno. A otimização de uma nova abordagem no processo de letramento do falante nativo tem como ponto de partida a sua percepção do mundo.

A falta de um material didático adequado à realidade do aluno é um dos entraves que observamos nos trabalhos de alfabetização. Sabemos que existem trabalhos desenvolvidos nesse sentido, mas o que pretendemos não é produzir o material, mas orientar o professor na escolha do material que mais lhe atende às necessidades.

Por fim, podemos dividir os objetivos desse estudo em três partes: 1) mapeamento de (ir)regularidades através dos textos escritos de alunos; 2) apresentação de um estudo do que se encontra dentro de um universo previsivelmente diacrônico ou não e 3) apresentar uma série de propostas para otimizar o ensino de alfabetização de adultos. São esses, os primeiros resultados dessas etapas, que apresentamos nesse estudo.

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LINGUAGEM, IDENTIDADE E CRÍTICA SOCIAL
CONTOS DE JAMES KELMAN

Amanda Beilfuss Moreira (UERJ)
Ana Lucia de Souza Henriques (UERJ)

O escritor escocês James Kelman utiliza uma linguagem coloquial, urbana, em sua obra de ficção. Sua narrativa versa sobre as angústias, os questionamentos e as incertezas em que vive uma grande parte da classe trabalhadora escocesa. Esse trabalho propõe uma análise, através de contos selecionados, da ficção desse escritor considerado por alguns a resposta escocesa a Kafka e Joyce. As obras a serem abordadas apresentam uma contundente crítica social em uma linguagem predominantemente coloquial e urbana. A freqüente inserção na narrativa de palavras em escocês e de frases contendo vícios de linguagem e até mesmo certos desvios da norma gramatical contribui para delinear o perfil de seus personagens: escoceses de classe média com baixo grau de escolaridade. A identidade desses personagens é marcada ainda por outros traços distintivos, os quais não deixam dúvida a respeito da cultura a que pertencem.

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LÍNGUÍSTICA TEXTUAL
DA TEORIA À PRÁTICA EM SALA DE AULA

Ilma Nogueira Motta
Márcia Maria e Silva

Este minicurso tem como objetivo: estimular os professores que atuam no Ensino Fundamental para trabalhar com textos literários e não-literários de maneira agradável e produtiva, visando à criação, nos alunos, do hábito de leitura e da análise da linguagem em situação de comunicação; demonstrar de que maneira pode-se trabalhar conceitos da Lingüística Textual como coesão, coerência, inferências, pressupostos etc. nas aulas de língua portuguesa; auxiliar os professores na organização dos conteúdos, enfatizando não apenas regras gramaticais, mas o uso efetivo da linguagem em situações variadas de comunicação, sempre com aplicação em textos.

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LIVRO DIDÁTICO : UNIFORMIZAÇÃO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS

Andréa Ribeiro da Costa de Jesus Soares (UERJ)

Este estudo tem como objetivo analisar as atividades de leitura propostas em sala de aula pelo professor, através do livro didático. De acordo com os PCNs (Língua Portuguesa - 5ª a 8ª séries, 1998: 23), “a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino”, o que nos levou a indagar sobre o tratamento que os livros didáticos dão ao ensino dos diferentes gêneros do discurso, para o desenvolvimento da competência discursiva do aluno.

Com base em Bakhtin (Volochinov, 1929), Coracini (1999), Soares (1999), Rojo (2000) e Machado (2002), e a partir da hipótese de que o livro didático trataria de modo uniforme os diferentes gêneros textuais, analisaram-se as atividades de compreensão/interpretação de textos, propostas em livros didáticos de língua portuguesa recomendados pelo MEC.

Os dados foram organizados de modo a responderem às seguintes questões: Qual a concepção de leitura subjacente às atividades propostas? O que se espera do aluno e do professor com o trabalho de leitura e interpretação de texto? As atividades com os textos possibilitam ao aluno desenvolver a competência discursiva, como proposto nos PCNs?

Os resultados parecem apontar para o fato de que se nega ao aluno a construção do sentido em sua historicidade: é como se o sentido estivesse aprisionado ao texto. Em relação ao gênero, parece existir uma visão reducionista, através da qual os textos recebem um mesmo tratamento metodológico.

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MACHADO DE ASSIS
ORQUESTRANDO A ILUMINAÇÃO E A OPACIDADE EM CANTIGAS DE ESPONSAIS

Maria Alice Aguiar (UERJ)

No conto em estudo, todas as palavras apontam para um mesmo objeto, Romão Pires, músico, solitário, maldito, grito mudo, cujo destino é calar-se diante de uma realidade que lhe escapa. Para estudar os espaços de iluminação e opacidade em “Cantigas de Esponsais”, farei uma dissecção do conto, desvelando-o em várias histórias já que a sua estrutura se organiza pelo processo de encaixe. A teoria do encaixe pressupõe uma história encaixante - a macro-metáfora - e histórias encaixadas - as metáforas. A história é a macro-metáfora do conto, ao abrir, em sua leitura, um espaço povoado de micro-metáforas que, na minha leitura se organizam como odes distintas de uma grande sinfonia: “A cantiga de esponsais”. Distintas na sua significação, mas entrecruzadas no seu significante.

As odes e os sememas referentes às mesmas são, a saber: ode sacra - religião/profania, ode heróica - harmonia/desarmonia, ode epicédica - vida /morte, ode à paixão - sucesso/fracasso, ode amorosa - juventude/velhice, ode à morte - luz/treva. Cada uma das odes implica construções semêmicas que se revelam, na minha leitura, como elementos básicos, detonadores do fio condutor do conto. A macro-metáfora é a sinfonia de uma linguagem sem volteios, cujos andamentos, ora allegro, ora meno allegro, fazem emergir cantos dentro do conto pela presença de um narrador onisciente que se adere à pele dos personagens com o propósito de identificar música e linguagem verbal como signos diferentes de uma mesma matéria - a dinâmica da vida.

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MARCAS DE SUBJETIVIDADE E INTERSUBJETIVIDADE NA LINGUAGEM JORNALÍSTICA FALADA

Paulo de Tarso Galembeck (UEL)
Fabiana Paganini (UNESP)

A escolha da análise das marcas de subjetividade e intersubjetividade como tema deste trabalho advém do fato de essas marcas situarem-se entre os traços mais característicos da língua falada, especialmente dos textos conversacionais. Com efeito, na conversação há uma interação contínua, uma troca entre os interactantes. Isso ocorre porque os participantes, a um só tempo, envolvem-se na interação e buscam envolver seus parceiros conversacionais: há, portanto, manifestações seguidas de subjetividade e intersubjetividade. Embora essas marcas não estejam ligadas ao desenvolvimento do tópico ou tema, revelam-se essenciais para a construção do texto conversacional e para guiar a atenção dos diversos interlocutores. Para tal estudo, serão utilizados programas televisivos de entrevistas e debates, devido à forma de interação que neles se processa em duas direções: dos participantes entre si (e destes com o mediador), e deles com os telespectadores e também, há outro dado digno de interesse no que diz respeito ao estabelecimento e ao desenvolvimento do processo interacional: é o fato de os participantes terem a consciência de que seus interlocutores são não apenas os demais debatedores, mas igualmente os telespectadores. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo a análise de entrevistas e debates, em busca da presença das marcas de subjetividade e intersubjetividade, classificando-as sob diversas subcategorizações como: o tipo de marca de subjetividade e intersubjetividade; quem produz a marca de subjetividade; a quem se dirigem as marcas produzidas pelo falante; o grau de envolvimento dos interlocutores; a relação das marcas com o desenvolvimento tópico; sua posição no turno de fala; se possui valor de atenuação; a natureza do fragmento discursivo e os tipos de turnos inseridos (marcas do falante ocasional). A análise preliminar das ocorrências revela que as marcas de subjetividade predominam sobre as de intersubjetividade. Isto leva a crer que, embora o discurso se volte para o interlocutor e seja fruto da interação entre ambos (falante e ouvinte), o discurso é centrado no próprio falante. Por esse motivo, as marcas deste último são muito mais evidentes que as do ouvinte interlocutor.

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MEMÓRIA LITERÁRIA CARIOCA
UMA BUSCA POR ESCRITORES ESQUECIDOS

Maria de Lourdes de Melo Pinto (UFRJ/UNESA)

Em face de uma demanda por nomes esquecidos do panorama literário nacional, iniciamos uma pesquisa em busca de possíveis registros da memória carioca que tivessem sido olvidados por público e crítica ao longo do último século. Entres nossas buscas, localizamos a jornalista, cronista, romancista e teatróloga Cecília Mocorvo Bandeira de Melo Rebelo de Vasconcellos, conhecida entres seus pares do início do século XX como Chrysanthème. Com a disposição por iluminar obra de tamanho volume e relevância sócio-político-cultural, trazemos à cena uma personagem da Belle Époque que, além de se reinventar, soube caracterizar bastidores, palco e atores nas ruas e vielas da cidade do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX.

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MÍDIA E CONSTRUÇÃO DE SUBJETIVEIDADE

Bruno Rêgo Deusdará Rodrigues (UERJ)
Décio Rocha (UERJ)

Este estudo procura analisar, de uma perspectiva pragmático-enunciativa, discursos produzidos pela mídia brasileira que tematizam o quadro político de nosso país.

Como corpus de análise, selecionamos as matérias produzidas a partir de um tema motivador - uma conversa telefônica entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e a colunista Teresa Cruvinel - publicadas no jornal O Globo, entre os dias 23 e 26 de maio de 2001. A relevância do material selecionado pode ser localizada na apreensão de uma cena política nacional que possibilita a articulação entre linguagem e sociedade de modo bastante produtivo. Quanto ao quadro teórico a que recorremos, partimos do conceito de cenografia, de Maingueneau (1987, 2001), enfatizando o mídium como dispositivo fundamental na construção da relação EU - TU num AQUI - AGORA pelo enunciador-jornalista. Como entrada lingüístico-discursiva para a análise do corpus, elegemos o discurso relatado, que nos permitiu o acesso à apreensão de diferentes vozes que se associam ou se contrapõem.

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MORFOSSINTAXE NOS SERMÕES DE SÃO CESÁRIO

Jandyra Gonçalves Figueiredo (UFF)

No presente estudo procedemos a uma análise da morfossintaxe nos sermões de São Cesário, com vistas a depreender e interpretar o sistema preposicional que se começa a definir, na passagem dos sistema de casos latinos para o sistema preposicional do português medieval e arcaico. Concentramos nossa atenção nas construções marcadas por preposição a e in, com foco nos aglomerados de tais preposições, em passagens específicas dos sermões. Procuraremos estabelecer correlações entre a emergência das preposições, a temática, o grau de transitividade dos relatos e conselhos do prelado, e a posição relativa do segmento textual na escala figura/fundo. A análise vai concentrar-se sobretudo no Sermão VI. As construções que continuam a selecionar caso, como a + acusativo, merecerão descrição pormenorizada.

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NA PONTA DA CANETA VERMELHA
A GRAMÁTICA NORMATIVA VERSUS A GRAMÁTICA DO TEXTO NA CORREÇÃO DAS REDAÇÕES ESCOLARES

Cristina Lima de Siqueira (PUC-Rio)
Denilson Pereira de Matos (PUC-Rio)

Este trabalho pretende analisar uma seleção de textos produzidos por alunos de 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental de uma Escola Pública no RJ. Tem como objetivo principal defender a eficácia comunicativa destes textos, mesmo em face dos erros gramaticais neles reconhecidos . Desta forma, dois eixos temáticos estão vinculados a este trabalho: o estudo crítico da Gramática Tradicional, considerada em princípio como indispensável para a produção de sentido das redações, e a Coerência Textual, reconhecida como um elemento que tem existência vinculada às regras gramaticais.

Neste sentido, defendemos o posicionamento crítico e consciente do professor frente ao material escrito por seu aluno, de modo que algumas questões pertinentes ao processo de ensino-aprendizagem sejam consideradas (cf.:Bakthin:1952; Vygotsky : 1979), bem como, as etapas necessárias para o processo de domínio da produção textual. (cf. Kock : 1989).

Propomos, desta forma, a substituição das expressões Acerto/Erro utilizadas na correção das redações escolares por Apropriado/Inapropriado e que a gramática seja reconhecida como um instrumento formal da língua e não como obstrutor do processo comunicativo, quando desvios de norma culta forem identificados, de maneira que a coerência possa ser reconhecida como resultado de uma complexa rede de fatores de ordem lingüística, cognitiva e interacional.

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NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO DAS ADJETIVAS REDUZIDAS

Ludmilla Lamoglia dos Santos (UFF)

Apresentados aqui resultados da pesquisa de cláusulas subordinadas adjetivas de gerúndio, a partir de seu grau de vinculação semântico-sintático. Como corpora sincrônicos, utilizamos o Discurso & Gramática - Niterói e o NURC/RJ; como corpus diacrônico, partimos das Crônicas de Fernão Lopes.

Na metodologia, utilizamos dois tipos de análise: a quantitativa e a qualitativa. A primeira volta-se para a freqüência do fenômeno em análise, enquanto a segunda, seguindo a orientação funcionalista assumida na pesquisa, concentra-se na atuação de fatores de ordem pragmático-comunicativa para as ocorrências. Baseamo-nos, principalmente, nos estudos de Givón (2001), sobre os princípios de iconicidade e de marcação, e no trabalho de Hopper e Traugott (1993), sobre a determinação de graus de vinculação sintático-semântico entre cláusulas.

A partir da observação das adjetivas reduzidas levantadas, fixamos critérios lingüísticos e extralingüísticos para o tratamento dessas estruturas de modo escalar. Conforme Cezario (2001), estabelecemos 6 fatores que se mostraram relevantes para a fixação de um continuum de sentido e de forma. Foram atribuídos pontos a cada um dos fatores; a pontuação final, que mede o “grau de integração” das cláusulas, pode chegar a 8. Das 105 reduzidas levantadas, apenas 23 apresentam a pontuação final 8, o que nos leva supor que a chamada “oração reduzida adjetiva” é um arranjo sintático cujo nível de vinculação ao nome antecedente apresenta-se variado. Ao contrário do que propõe a tradição gramatical,essas orações não constituem uma categoria fechada; mostram-se em graus distintos de proximidade com o nome antecedente.

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O “FANTASMA DA ÓPERA” NOS FIOS DE ARIADNE

Maria Lilia Simões de Oliveira (Puc-Rio)

Pelo labirinto da leitura devemos guiar nossos alunos, leitores em formação. Buscar outros fios para que o neófito não se perca é tarefa do professor hoje, visto que nesse nosso tempo, sem fronteiras, as linguagens se cruzam, tangenciando conhecimentos e saberes.

A imagem mitológica trazida à cena na abertura deste texto ajuda-nos a explicitar o trabalho de leitura desenvolvido em turmas de ensino fundamental do Colégio Pedro II. Consciente de que formar leitores é tarefa da Escola, principalmente, e de que a leitura somente de jornal é uma experiência redutora, busquei em outras linguagens a parceria necessária para apresentar meus alunos ao conhecidíssimo “Fantasma da Ópera”, obra de Gaston Leroux, traduzida por Mário Laranjeira, publicada pela editora Ática em 324 páginas, escritas numa linguagem nada facilitadora.

O trabalho, de caráter interdisciplinar, buscou refletir sobre a multiplicidade da linguagem. Os fios da música, das artes plásticas, do teatro, da televisão, das línguas estrangeiras, do jornal... compuseram com o texto literário um rico tecido que ganhou seu primeiro ponto nas aulas de Língua Portuguesa. A ousadia de exigir de jovens, tão acostumados ao universo dos ícones, a paciência necessária para uma leitura aristocrática, lenta, minuciosa, foi recompensada ao final, quando percebemos que, seguindo por caminhos diferentes, agarrando-se na ponta dos fios de linguagens variadas, os novos leitores interagiam com aquela narrativa que nos trazia uma história de amor mesclada com suspense, saindo do labirinto muito mais fortalecidos.

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O ALÇAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS
PRETÔNICAS E POSTÔNICAS MEDIAIS

Fernando Antônio Pereira Lemos (CEFET-MG)

Este estudo retoma um tema bastante controverso na literatura: o alçamento das vogais médias para altas no Português do Brasil. Alguns exemplos de ocorrências com alçamento na sílaba pretônica são realizações como t[e]soura~t[i]soura e t[o]mate~t[u]mate. Na sílaba postônica medial, podem ser encontrados exemplos de ocorrências com o alçamento em realizações como fôl[e]go~fôl[i]go e pér[o]la~pér[u]la. Muitos trabalhos têm discutido tal fenômeno, principalmente com relação à sua ocorrência na sílaba pretônica (BISOL: 1981; VIEGAS: 1987 e 2001; BORTONI et al: 1992; OLIVEIRA: 1992). A polêmica reside em estabelecer se a mudança é implementada lexicalmente ou se há motivação de cunho estrutural e social na implementação da mudança. Nosso estudo, por sua vez, inova ao procurar estabelecer quais os ambientes que propiciam a ocorrência do fenômeno do alçamento das vogais médias na sílaba postônica medial. Amplia-se, portanto, a discussão do alçamento das vogais para o contexto postônico, além da discussão do contexto pretônico que tem sido amplamente estudado.

A pesquisa foi realizada junto a 64 informantes da cidade de Divinópolis (MG). Os parâmetros sociais abordados foram a classe social (trabalhadora e média alta) e o sexo dos informantes. Foram realizadas a análise quantitativa e a análise qualitativa dos dados. Para a análise quantitativa, os dados foram codificados, lançados e analisados no programa VARBRUL. Na conclusão, com relação à sílaba pretônica, apresentamos evidência que corrobora a tese de que essa mudança sonora é implementada lexicalmente. Com relação ao alçamento na sílaba postônica medial, os resultados apontam quais são os ambientes estruturais mais propícios para o alçamento vocálico e considera a possibilidade de a mudança estar sendo implementada lexicalmente.

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O CONCEITO DE IMIATIO NA LITERATURA E NA RETÓRICA EM ROMA

André Albino de Almeida (UNICAMP)

A pesquisa consistiu na tradução e análise do capítulo II do livro X da Institutio Oratoria de Quintiliano e, estudo de autores latinos, como Horácio, Cícero e o autor da Rhetorica ad Herennium”, sempre à luz da temática da pesquisa.

Após uma tradução com notas e análise do capítulo de Quintiliano, que trata da Imitatio como elemento essencial na formação do orador, no que tange não apenas ao padrão discursivo, como também ao aspecto ético do aprendiz de retórica, debruçamo-nos sobre os outros autores citados em busca do conceito de Imitatio. Foi de Horácio que mais extraímos uma concepção literária da Imitatio, que concluímos distinguir-se da concepção retórica, sobretudo, sob o aspecto da “arte alusiva”, alusão de uma obra a elementos de outras obras com formação de sentidos no novo contexto em que se inserem.

Outros autores também nos serviram à pesquisa, como Virgílio, Sêneca, Ênio e Marcial - dois epigramas deste último possibilitaram uma importante contribuição para a discussão acerca do conceito de plagium em Roma. Também dedicamo-nos a um breve estudo etimológico do termo Imitatio e seu correspondente grego Mimesis, bem como tratamos da atividade de imitar em seus aspectos gerais na sociedade romana, salientando a natureza “imitativa” dessa civilização e tocando mais diretamente na influência grega no Lácio.

Assim, verificamos ser a Imitatio atividade fundamental à Literatura e à Retórica num universo em que imitar é também base de uma organização cultural e política.

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O DISCURSO DO MÉTODO DE DESCARTES
ALGUMAS REFLEXÕES

Cócis Alexandre dos Santos Balbino (UFF)

Em 31 de março de 1596, no interior de uma pequena família burguesa, nasce René Descartes. Este pensador francês logo iria contestar a filosofia clássica e inaugurar um novo método investigativo no campo da ciência, um método sistemático e coerente.

Descartes acreditava na construção de um conhecimento de caráter novo, apoiado solidamente na razão e na certeza dos conhecimentos proveniente das idéias.

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma pequena análise de alguns dos pontos principais da obra mais famosa de Descartes: O Discurso do Método. Dentro desta obra tomarei como eixo central a discussão sobre o argumento do Cogito.

Discutir Descartes e sua obra me parece fundamental especialmente durante a formação daqueles que pretendem ser professores e/ou pesquisadores da língua. O texto de Descartes traz instigantes provocações a respeito do que seja pesquisa, ampliando os limites da concepção de mundo e de linguagem, permitindo maior compreensão de aspectos como o poder da ciência na sociedade e a crise de paradigmas, tanto no século XVI quanto hoje.

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O DISCURSO FANTÁSTICO EM KAFKA
A ESCRITURA DO PESADELO

Cristina Maria Teixeira Martinho (USS)

Como estrutura discursiva, o fantástico se ramifica na oposição entre o real e o irreal, fraturando a verossimilhança do enunciado e da fabulação. É o modo mais apropriado para expressar as tensões intelectuais, morais e sociais de hoje. Franz Kafka sentiu de maneira crucial a situação de crise do homem do século XX, criando um pesadelo que emerge da realidade mais normal, a partir de situações discursivas transgressoras da ordem racional. Fundou uma mitologia do caos, do ilogismo, por não compactuar com a limitação do mundo burguês. Seu discurso avesso, deslocado, sibilino, convida a uma interrogação sobre o fenômeno da escrita, revelada na pormenorização descritiva, na ânsia por um elaborado processo artesanal, cuja escritura mantém um questionamento constante com a representação, a revelação e o sentido do discurso.

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O ENIGMA ESTRURANDO A NARRATIVA DE LEONARDO SCIASCIA E GRAZIA DELEDDA

Leda Papaleo Ruffo (UFRJ)

A poética do siciliano Leonardo Sciascia transcreve o tempo e o poder na legendária Sicilia, tão envolvente e misteriosa que nos leva ao enigma. L.Sciascia traça, como também Deledda, o percurso desse mundo tão injusto, envolvendo criminosos numa auréola cuja empatia é fator relevante da não solução.

Giufà, o imbecil, é um criminoso, pois há no fato o assassinato, o morto poderoso, porém o cadáver não aparece, como também a elucidação da ocorrência policial, a ironia, as interogações se multiplicam, poruqe baseadas num diálogo enigmático, sensual e irônico.

Já Deledda nos surpreende com Efix, o dedicado servo da família Pintor, do romance Canne al vento.

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O ENSINO DE GRAMÁTICA EM UMA PERSPECTIVA TEXTUAL

Maria Luci de Mesquita Prestes (FAPA)

Nos últimos tempos, com os avanços das ciências relacionadas à linguagem, muito se tem discutido e pesquisado quanto ao ensino de gramática. Num primeiro momento, chegou-se até a questionar sobre ensiná-la ou não. Atualmente, a idéia que se tem é de que ela deve ser trabalhada na escola, e o que se questiona é como se deve fazê-lo. Há um consenso, de certo modo generalizado, de que esse ensino deve ser feito através de textos. Encontra-se um bom número de materiais teóricos sobre o assunto, mas ainda é incipiente o número de trabalhos, mesmo em gramáticas pedagógicas ou em livros didáticos, que tentam colocar essas questões em prática. É lógico que, numa perspectiva textual, o professor deve trabalhar com textos de tipologias variadas e adequados às diferentes situações que estejam sendo vivenciadas pelos alunos. É lógico também que não há um único modelo a ser seguido por todos, mas se faz necessário mostrar como o professor pode explorar esses textos para ensinar gramática. Neste minicurso, pretendemos trazer, através de exemplos práticos, algumas possibilidades de se realizar um ensino nessa perspectiva; um ensino em que os textos - de tipologias variadas, desde aqueles produzidos por terceiros até os produzidos pelos próprios alunos - sejam o ponto de partida e também o de chegada para o aprendizado de gramática nos terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental e no ensino médio.

Ementa

Gramática e textualidade. Textos de tipologias variadas - produzidos por terceiros ou pelos próprios alunos - como ponto de partida e de chegada para o ensino-aprendizado de gramática nos terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental e no ensino médio. Sugestões de atividades práticas.

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O ENSINO DE LEITURA
PROBLEMAS E CONSIDERAÇÕES

Sílvio Ribeiro da Silva (UFG)

A temática principal desta atividade girará em torno da questão da leitura e da interpretação de textos no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, discutindo as formas de exploração do texto com objetivo de chegar à sua compreensão através da construção do sentido.

Fundamentado na concepção mais abrangente de linguagem, texto e leitura, a atividade procurará mostrar aos participantes alternativas de tratamento metodológico que permitam superar a prática da leitura apenas como decodificação e pretexto para o desenvolvimento de atividades gramaticais, dando ao ato de ler a configuração de oportunidades de desenvolvimento cognitivo e cultural.

Espera-se que os participantes, ao final da atividade, sejam capazes de: confrontar concepções de linguagem, leitura e texto, conhecer os pressupostos básicos da concepção sócio-interacional de leitura, caracterizar o leitor proficiente, analisar, discutir e produzir modelos e instrumentos de avaliação da competência leitora. Para isso, serão discutidos pontos como: concepções de linguagem (como código e como interação), concepções de texto (como soma de palavras e como unidade pragmática), concepções de leitura, o leitor proficiente.

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O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ESTRANGEIROS
UMA PERSPECTIVA MULTIDISCIPLINAR

Lygia Maria Gonçalves Trouche (UFF)

Esta comunicação apresenta alguns resultados de atividades de produção textual a partir de leitura e compreensão de textos selecionados sob a perspectiva multidisciplinar, em aulas do Programa de Português Língua Estrangeira do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense.

Todo professor de língua estrangeira enfrenta o problema de buscar os meios que permitam ao aluno a aquisição de competência comunicativa. Como competência comunicativa entendemos a habilidade de uso não só de regras gramaticais como também de regras contextuais ou pragmáticas que envolvem o desenvolvimento de aspectos cognitivos e afetivos. Nossa abordagem fundamenta-se na importância da cultura para um enfoque humanístico que vise à aprendizagem de uma língua estrangeira.

A presente experiência tem base nas funções comunicativas, na área da argumentação, expandidas através da leitura de textos para informação, discussão, reflexão e compreensão da cultura brasileira e da formação étnica de nosso povo em contraponto com a realidade contemporânea de nosso país.

Esta prática de ensino vincula o estudo da língua portuguesa `a cultura brasileira, privilegiando o espaço da sala de aula como espaço vivamente compartilhado e valoriza a convivência intercultural que tem fundado múltiplas solidariedades ao longo de nossa história. Os alunos sentem-se parte integrante deste processo, na medida em que refletem sobre si mesmos e sobre o “diferente” na prática de uma “nova língua” representativa de outra cultura.

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O EQUÍVOCO E A PALAVRA

Giselle de Castro de Carvalho (UFF)

A linguagem pode trair nosso pensamento e ser causa de mal-entendidos, pois o eu inconsciente às vezes escapa do controle e dizemos coisas que não deveríamos ou não gostaríamos. Por mais que sejamos sujeitos únicos, capazes de fazermos escolhas lingüísticas únicas, produzindo discursos únicos, estes não estão livres dos equívocos visto que, por trás de cada discurso individual, existe a voz do sujeito inconsciente e a da ideologia as quais, mesmo sem querer, deixamos escapar. Essas vozes falam por nós, fazendo-nos cometer os equívocos.

Sobre o contexto lexical, veremos como a palavra esquizofrenia é utilizada em diversas situações, desde seu significado médico até o uso comum, coloquial, citado em jornais, revistas, filmes etc.

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O FASCÍNIO DO VIRTUAL NA LINGUAGEM METAFÓRICA

Sílvia Regina Pinto (UERJ)

Na leitura de um texto de Sérgio Sant’Anna, pretende-se analisar a relação entre representação visual e linguagem metafórica, que abre hoje um excelente espaço para um estudo interdisciplinar das confluências e dos estímulos criativos que flutuam entre a imagem e a palavra. A metáfora sempre dialoga com a estética e com a consciência representativa que se expressa através dela. Por outro lado, decifrar imagens é analisar a relação com o seu duplo, isto é, com aquilo pelo que elas podem ser ou não ser trocadas. No primeiro caso teríamos um sentido manifesto? No segundo, encontraríamos o seu sentido mais verdadeiro?

Penso que nem uma coisa, nem outra, porque ao sonho de um universo integral da informação se opõe o de um universo integralmente feito de afinidades eletivas, de cumplicidades e de consciências ou coincidências tragicamente predestinadas. Para explorar as novas relações entre a linguagem e a hegemonia da imagem visual, na atualidade, é preciso analisar como o signo literário, tanto temático quanto estruturalmente, absorve as linguagens visuais em sua elaboração. Estudar as imagens e os textos em sua interação, e estudar suas formas respectivas de leitura, oferece, portanto, uma possibilidade interessante de análise da própria cultura.

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O FUTURO VERBAL É UM TEMPO OU UM MODO?

Josete Rocha dos Santos (UFRJ)

Apresentando uma breve abordagem histórica do futuro verbal, dizemos que a forma de futuro deriva do latim vulgar, mais exatamente das formas compactas do verbo latino habere, no presente do indicativo seguida de verbo principal do infinitivo (cf. habeo + cantare > cantare habeo > cantare hei > chanterai, que deu origem ao futuro do presente contemporâneo -cantarei (Câmara, 1986: 121)). O verbo habere foi usado, inicialmente, como modal deôntico (laudare habeo, “hei de louvar” = “devo louvar”) para, a partir daí, tanto em português quanto em outras línguas românicas ser usado como morfema temporal (louvar -ei). Através da trajetória da gramaticalização, por volta do século XII, a perífrase foi compactada, à medida que passava a indicar um sentido de futuridade. No século XV, a forma já era de uso coloquial para expressar predição, sendo admitida dentro do discurso formal e literário nos séculos XVI e XVII (Fleischman, 1982: 82).

O futuro verbal inicialmente expressava obrigação dos fatos. Comrie (1985: 43), Mira Mateus et alii (1983) e Givón (1995: 116) assinalam que o futuro, valor temporal dos fatos ainda não experienciados, está no âmbito do irrealis, a categoria de modalidade que retrata a possibilidade de um evento vir-a-ser: “o futuro é por definição um modo irrealis” (Givón, 1993: 172). Segundo Câmara (1956: 25), “o impulso lingüístico que criou um futuro gramatical, não foi o de situar o processo como posterior ao momento em que se fala, mas o de assinalar uma atitude do falante - modo - em relação a um processo posterior ao momento da enunciação”. Ainda vemos também que Cunha &Cintra (1985: 446) ao estudarem os cinco usos do futuro do presente, consideram-no uma categoria modal mais do que temporal, pois apresentam exemplos em que o futuro expressa incerteza, probabilidade, dúvida, suposição ou então exemplos em que há expressão de súplica, desejo, ordem. Há apenas um exemplo de futuro expressando temporalidade.

Pretendemos analisar as acepções do futuro verbal para implementarmos uma discussão se, afinal, o futuro verbal é um tempo ou um modo.

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O INGLÊS E O ALEMÃO NO LÉXICO DO PORTUGUÊS
ALGUMAS PALAVRAS

Álvaro Alfredo Bragança Júnior (UFRJ)

Nosso trabalho prende-se à influência das línguas inglesa e alemã e sua contribuição para a formação e ampliação do léxico da língua portuguesa. Com base em termos conhecidos, far-se-á uma reflexão de cunho introdutório e prático sobre os meios pelos quais tais línguas germânicas legaram e ainda legam vocábulos para a língua de Camões e Manuel Bandeira.

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O JOGO DA SEDUÇÃO NA LINGUAGEM ROSEANA

Lucia Helena Lopes de Matos (UERJ)

Escolhemos o conto Partida do Audaz Navegante para ilustrar a maneira muito particular com que Guimarães Rosa utiliza os elementos, os processos e os mecanismos do sistema da língua como instrumentos de criação e expressão, a fim de nos condunzir ao enigma, à obscuridade e ao lúdico com efeitos encantatórios. Ele propõe ao leitor um jogo onde é necessário desvendar os mistérios produzidos pelos recursos expressivos numa parceria estimulante. Mostraremos o elo de ligação entre a sedução e o jogo, pois este, juntamente com o desvio, a fascinação, o fingimento, a surpresa fazem parte de uma situação de sedução, cujo verdadeiro objetivo, é fazer aparecer o inusitado na linguagem, para a cada passo desafiar o outro. É mergulhando neste universo de prazer, numa relação de seduzido/sedutor estabelecida entre texto/autor/leitor, que lançaremos um olhar para a forma tão especial deste fabuloso autor trabalhar a nossa língua portuguesa.

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O PAPEL DOS ENUNCIADOS DE EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA NA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE A LÍNGUA MATERNA

Fernanda Gomes Coelho Junqueira (PUC-Rio)

Muitos pesquisadores da área de língua portuguesa apontam para a ênfase exagerada nos exercícios de gramática: privilegiamento do estudo de uma metalinguagem técnica em detrimento da linguagem; exigência de memorização de regras, definições e nomenclatura. Consequentemente, o ensino de língua materna se transforma em estudo de gramática, com conteúdos geralmente desvinculados dos reais interesses e necessidades dos alunos.

Tem se questionado a eficácia do estudo de gramática no aprendizado da língua e sido enfatizado que esta, por ser uma entidade viva, deve ser analisada e ensinada como tal.

A formulação de exercícios, contudo, é a atividade mais reveladora da maneira pela qual os professores trabalham com a gramática, já que por meio dela depreendem-se as bases, os princípios, as finalidades, enfim, a natureza da atividade lingüística.

A concepção de linguagem do professor é de importância vital na determinação do objeto de estudo. Se o objetivo das aulas de língua portuguesa é o de desenvolver a competência comunicativa dos falantes, ampliando seu repertório lingüístico, a escola deve priorizar atividades reais de uso efetivo da língua, nas quais os exercícios esporádicos de língua propriamente ditos passem a ter preponderância frente àqueles exercícios metalingüísticos de memorização de rótulos e reconhecimento de estruturas.

No presente trabalho estamos focalizando enunciados de exercícios de gramática, através dos quais procuraremos demonstrar: 1) a concepção de linguagem, o tipo de ensino e o tipo de gramática que subjazem estes enunciados; 2) o nível de operação mental exigido em cada um deles.

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O PENSAMENTO DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA NA ATUALIDADE

Carina Rejane Aprígio (UERJ
Lucia Carine Rocha Corlinos (UERJ)
Ruy Magalhães de Araújo (UERJ)

A partir do pensamento do Padre Antônio Vieira, podemos extrair de sua obra significantes contribuições para uma edição diplomático-interpretativa, primordialmente nos SERMÕES e nos documentos de correspondência epistolar, pois estes se difundem na atualidade, e mais precisamente na contemporaneidade brasileira.

Assim sendo, torna-se indispensável o cotejo desse grande clássico da língua portuguesa e do insigne e renomado Rui Barbosa. Neste caso, faremos jus das seguintes faces: O sermão do bom ladrão, o tomar alheio no Brasil e a corrupção no Brasil.

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O PERSONAGEM VAMPIRO: LINGUAGEM E INTERTEXTUALIDADE

Cristina Constância Cavalcanti (UFRJ)

O presente trabalho tem por objetivo sugerir atividades de leitura em torno dos livros Os noturnos, de Flávia Muniz, e O vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf. As propostas podem ser adaptadas para qualquer narrativa que o professor venha a adotar. Cabe a ele a motivação para criar e desenvolver um trabalho de reflexão para obter resultado, observando questões referentes à linguagem.

Será enfatizada, neste trabalho, a intertextualidade, que, segundo lingüistas como Koch, diz respeito ao conhecimento de mundo, lingüístico e textual que o leitor possa ter. Pretende-se apresentar sugestões de atividades de leitura, para que as aulas de português passem a aproveitar os textos como material de reflexão sobre a língua.

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O SABOR DA ESTILÍSTICA

Luci Mary Melo Leon (UERJ)

Temos conhecimento que das disciplinas lingüísticas é a Estilística uma das mais antigas e controvertidas. Herdeira da tradição retórica greco-latina, tem passado por fases de exaltação e de descrédito: de vastas bibliografias a pálidos volumes que lhe negam a existência.

O cerne da questão é o estilo, cuja conceituação varia segundo as colocações de cada autor.

O mestre Evanildo Bechara em sua Moderna Gramática Portuguesa descreve a Estilística como a parte dos estudos da linguagem que se preocupa com o estilo.

O estilo é um produto da linguagem e só em termos lingüísticos pode ser definido. O primeiro a fazê-lo foi Charles Bally, complementando com a dimensão afetiva a dimensão representativa, já sistematizada por Ferdinand de Saussure. A Estilística de Charles Bally, no entanto, ateve-se deliberadamente à língua falada, ignorando, por considerá-la um subproduto da primeira, a língua literária.

Podemos até afirmar que a língua falada não pode deixar de ser a verdadeira língua, aquela que nos sai espontaneamente da alma.

Ainda na Moderna Gramática Portuguesa do professor Evanildo Bechara, podemos comentar sobre o conjunto de particularidades do sistema expressivo que recebe o nome de traços estilísticos.

Cabe-nos indagar quando uma particularidade lingüística apresenta-se como traço estilístico.

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O SAMPAULEIRO
ALGUNS PROBLEMAS NA PREPARAÇÃO DE SUA EDIÇÃO

Maria da Conceição Souza Reis (UNEB e UFBA)

O escritor e jornalista baiano João Gumes, cuja produção situa-se no período compreendido entre os anos 1889 a 1928, é considerado um dos principais intelectuais da região do Alto Sertão baiano. Sua obra contém romances, dramas, crônicas, de temática centrada nos aspectos culturais da região em que viveu, em especial a denominada Serra Gerais. Apresentar-se-ão o modelo de edição a ser adotado e alguns problemas que surgiram quando da edição do seu romance O sampauleiro.

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O SERMÃO I DE SÃO CESÁRIO DE ARLES

Edison Lourenço Molinari (UFRJ)

São Cesário (470-542) teve o cuidado de reunir coletâneas de seus sermões, empenhando-se na sua difusão, com o objetivo de colocar à disposição de bispos e sacerdotes uma catequese elementar, mas sólida, abrangendo os principais aspectos da vida cristã.

O texto que analisamos é uma carta-circular dirigida aos bispos e contém os temas essenciais da pregação cesariana. Entre seus itens, destacamos:

Os bispos são os arautos da palavra de Deus, sentinelas da Igreja, cultivadores de almas, semeadores da palavra de Deus; esta é um orvalho que desce sobre a terra, um alimento espiritual dos homens; o bispo deve ser santo, ele é o piloto da Igreja, o sal da terra.

Adotamos a edição organizada por Marie-José Delage.

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O USO DO MIM
OPERÁRIO PADRÃO DA GRAMÁTICA EM USO

Cristina Lima de Siqueira (PUC-Rio)
Denilson Pereira de Matos (PUC-Rio)

Este trabalho tem como objetivo analisar o uso do pronome pessoal oblíquo ‘mim’ diante de verbos no infinitivo. Verificamos que este fato é um critério de escolha cada vez mais comum entre os falantes do RJ. O fato é que este registro - considerado ,em princípio, como um desvio padrão - tem se legitimado tanto na Gramática do Português Falado quanto na Gramática do Português Escrito. Sendo, em vista disso, também observado em redações escolares do Ensino Médio.

Tal fato pode ser justificado pela intuição dos alunos (falantes nativos) de que a preposição “para” rege o pronome “mim”. Entretanto, a preposição está regendo a oração inteira que se segue. Nesta oração subordinada, o verbo está no infinitivo e exige o preenchimento de um espaço que não admite o “mim”, mas sim o pronome pessoal do caso reto, de modo que este seja o sujeito desta nova oração e não complemento da outra. Propomos em última análise, com base nos dados apurados, alguma dinâmica de exercícios que possam contribuir para o ensino da Língua Portuguesa.

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ORDENAÇÃO DE ADVÉRBIOS LOCATIVOS
UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM FUNCIONAL

Mariangela Rios de Oliveira (UFF)

Estamos iniciando a investigação da ordenação de advérbios locativos no português escrito no Brasil na fase contemporânea em comparação com a fase arcaica, com o objetivo de detectar o que houve de mudança em relação à distribuição desses elementos na cláusula e o que houve de estabilidade no que diz respeito aos processos de natureza cognitiva e de natureza pragmático-discursiva que regulam suas tendências de ordenação. O estudo também prevê uma comparação entre diferentes tipos de textos brasileiros da fase contemporânea, a fim de detectar diferenças nos usos dos advérbios locativos na sincronia atual, que possam ser associadas a estratégias relacionadas à estrutura de cada tipo de discurso. Levantamentos preliminares de advérbios locativos em sincronias mais antigas do português apontam tendências de mudança de ordenação desses termos, o que acaba por interferir também no nível de integração dos mesmos em relação os demais constituintes da cláusula, tal como se observa com o termo aquy nos seguintes trechos da Carta de Caminha: a) ... crea que por afremosentar nem afear aja aquy de poer maís caaquilo que vy...; b) ... da marinhajem e simgraduras docaminho nõ darey aquy cõta avossa alteza...; c) ... os outros dous queo capitã teue nas naaos aque deu oque Ja dito he numca aquy mais pareçeram...

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OS DRAMAS DE UMA SINTAXE EMOTIVA EM SARAMAGO
LEITURAS DE RICARDO REIS ANTES E DEPOIS DO ANO DE SUA MORTE

Eloisa Porto Corrêa (UERJ)
Regina Silva Michelli (UERJ)

A sintaxe em Saramago não é uma simples forma de organizar palavras e dispor mensagens, mas uma dramatização, um reflexo da "própria persona", revelando sua forma de vida, concepções, enigmas e conflitos interiores.

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OS MÉTODOS DA CIÊNCIA FILOLÓGICA

Bruno Fregni Bassetto (USP/ABF)

Contribuição da visão filológica para o estudo das Línguas Românicas: a) na ortografia e na semântica; b) na morfologia.

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OS MONSTROS E A SOCIEDADE DO ANEL

Geysa Silva (UNINCOR)

A presença de seres monstruosos em A sociedade do anel remete à arquitetura narrativa dos contos de fadas, exibindo personagens diferentes do leitor. Além de monstros fantásticos, os próprios heróis da história são o que se poderia dizer habitantes de um mundo imaginário, onde se erxpõem a questão do diferente e o problema da ansiedade diante do "outro". Tal como os ciborgues e a engenharia genética, eles mostram a artificialidade de nossa constituição e tornam evidente o cruzamento de fronteiras, a linha tênue que separa o humano do não-humano, a natureza da cultura, provando a diversidade de sujeitos .Assim o trabalho mostra que a cultura é um texto que permite seu deciframento, a partir de monstros engendrados esteticamente.

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OS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO EM CONTEXTOS DE RECLAMAÇÃO

Victoria Wilson (FFP-UERJ)

Esta comunicação tem por objetivo discutir os processos de construção de identidades e subjetivação em situações de comunicação no âmbito da esfera institucional, presentes em cartas de reclamação redigidas por proprietários de imóveis residenciais a uma empresa do ramo da construção civil em fins da década de 90. Contextos de reclamação são propícios à manifestação de emoções consideradas negativas, tais como: insatisfação, raiva, frustração e outras do mesmo gênero. A proposta desse trabalho é examinar como os consumidores, na condição de reclamantes, fazem suas reclamações; como lidam lingüisticamente com os sentimentos negativos que afloram nesse tipo de situação; e que práticas discursivas são atualizadas nesses casos, observando se nessas práticas é possível inferir uma “gramática” do afeto que defina comportamentos dos indivíduos envolvidos nesse tipo de interação. A hipótese do trabalho pauta-se no fato de que os comportamentos e atitudes dos reclamantes, subjacentes às práticas afetivas realizadas, constituem, na verdade, processos de construção de identidades que podem explicitar, de acordo com Signorini (2001) as estratégias de produção e compreensão do discurso institucional.

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PARA UMA NOVA TIPOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES COMPARATIVAS EM PORTUGUÊS

Violeta Virginia Rodrigues (UFRJ)

As construções comparativas não têm recebido interpretação uniforme. Para se definir comparação, ora se aplicam critérios estritamente semânticos, ora formais e ora se combinam os dois. Poucos trabalhos, até o momento, questionam se todas as estruturas comparativas devem ser tratadas como oracionais.

Assim, a constatação de que as orações comparativas constituem um tipo de estrutura especial determinou o interesse por uma descrição dessas construções em Língua Portuguesa, mostrando suas diferentes realizações sintáticas, a fim de verificar quais são realmente oracionais. A hipótese que se deseja comprovar com este estudo é a de que as construções comparativas não-oracionais são as mais freqüentes no Português. O trabalho objetiva, ainda, estabelecer uma tipologia dessas construções e mostrar que é possível fazer uma análise de base quantitativa que siga o modelo variacionista, proposto por Labov (1972), usando diferentes pressupostos teóricos, tais como tradicionais, gerativistas e outros. Ao todo analisaram-se 461 construções comparativas, 315 de Língua Escrita e 146 de Língua Oral.

Com base na análise quantitativa e qualitativa dos resultados, pôde-se estabelecer uma nova tipologia para a classificação das construções comparativas em Língua Portuguesa. Seguindo tal tipologia, tem-se estruturas comparativas oracionais correlatas e não-correlatas, e estruturas comparativas não-oracionais correlatas e não-correlatas.

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PARCELA DA LÍNGUA SERTANEZA DE ELOMAR FIGUEIRA DE MELO

Darcilia Simões (UERJ)

Análise léxico-semântica do 3º Canto de Fantasia leiga para um rio seco, intitulado Parcela. Página do compositor baiano Elomar Figueira de Melo, cuja obra reúne produções que transitam entre o cenário medieval e o cenário dos sertões áridos dos brasis nordestinos e centrais.

Elomar (como é conhecido) é um artista nacional que não teve ainda uma divulgação à altura de sua obra. Reconhecido internacionalmente (tem disco gravado na Alemanha, por exemplo), não atravessa os espaços da “intelectualidade referendada pelos títulos acadêmicos”, cremos que em função da temática por ele eleita: o cantar de sua terra e sua gente in natura. Arquiteto por formação e músico erudito por talento e opção, Elomar nos tem brindado com um acervo poético-musical que precisa ser conhecido pelos apreciadores da poesia, da música e, principal,mente, da língua portuguesa.

A página eleita para análise traz a público a fala do retirante (de entre as Gerais e o Rio de Contas), cantando as mazelas do seu penar.

Para comentar o texto poético-musical, focalizaremos a seleção de unidades léxicas que o integram (campos e domínios semânticos prestigiados no texto), levando em conta não só sua estruturação mórfica, mas sobretudo seu valor icônico, por meio do qual o poeta sugere uma imagem do sertão nordestino. O suporte fonêmico pancrônico é uma pista da leitura a ser utilizada. E, como último objetivo, sublinhar a relevância do domínio lingüístico e do conhecimento enciclopédico na produção de um texto.

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PASOLINI : REFLEXÕES SOBRE UMA TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

Carlos da Silva Sobral (UFRJ)

A análise contrastiva do texto literário e do texto fílmico mostra que a velha oposição que caracterizava as disputas tradicionais no estudo das duas formas narrativas, tende a transformar-se cada vez mais numa relação de reversibilidade e de homologia.

É nossa intenção especular sobre estratégias e métodos envolvidos na tradução intersemiótica do Decameron apresentada por Pier Paolo Pasolini, como base de reflexão sobre as possibilidades da tradução e da recriação.

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PERFIL FEMININO EM JOSÉ DE ALENCAR
UM ENFOQUE ESTILÍSTICO

Carina Rejane Aprígio (UERJ)
Lucia Carine Rocha Corlinos (UERJ)
Iza Quelhas (UERJ)

O presente trabalho propõe uma leitura estilística e analítica dos perfis femininos apresentados nos romances Diva, Lucíola e Senhora, de José de Alencar, a partir da concepação de estilo estabelecida por Enkivist, Spencer e Gregory na obra Linguística e Estilo. A afirmação reiterada de que a mulher é idealizada na obra dos artistas românticos, de um modo geral, é examinada em termos linguísticos e de fabulação literária, destacando-se as estratégias alencarianas para alcançar o efeito de sentido adequado ao projeto estético do Romantismo.

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PÍNDARO : O LOUVOR E A GLÓRIA DOS CAMPEÕES OLÍMPICOS

Elisa Costa Brandão de Carvalho (UERJ)

Considerado o cantor das vitórias por excelência, Píndaro, o príncipe dos poetas gregos, glorificou e exaltou as qualidades dos vencedores dos jogos em seus “epinícios” ou cantos de vitórias.

Através da análise de dois epinícios serão tecidos alguns comentários a respeito dos jogos, de seus participantes, bem como o valor atribuído aos vencedores dos grandes jogos.

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PLANOS DISCURSIVOS EM SAMBAS DE ENREDO NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Paulo Monteiro Soares (UFF)

Este trabalho tem por objetivo divulgar as hipóteses iniciais do anteprojeto de pesquisa de Doutorado em Letras (área de concentração: Estudos Lingüísticos), cuja proposta é dar continuidade à minha dissertação de Mestrado em Letras (área de concentração: Língua Portuguesa) intitulada Relevância Discursiva em Sambas de Enredo do Carnaval Carioca dos Anos 90 (defendida em dezembro de 2000) sob orientação da Profa. Dra. Mariângela Rios de Oliveira . Tendo por base os postulados teóricos do Funcionalismo norte-americano (Givón, 1995; Hopper, 1979; Hopper & Thompsom, 1980, 1999; Martelotta et alii, 1996; Naro & Votre, 1996; Silveira, 1990, 1997; Neves, 1997; Abraçado et alii, 1997; Votre et alii, 1998; Furtado da Cunha et alii, 2001; entre outros), procuro refinar os conceitos de figura e fundo em um tipo peculiar de uso lingüístico: o samba de enredo. Existem três tipos de sambas de enredo no que se refere à distribuição das informações ao longo do todo textual no seguinte continuum de relevância: narrativos (caracterizados pelo intuito de se contar uma história), híbridos (caracterizados pela fusão da narratividade e da não-narratividade) e temáticos (marcados pela não-narratividade). No Doutorado, proponho a análise do continuum de relevância mencionado numa perspectiva histórica, abrangendo os sambas produzidos nas décadas de 60, 70 e 80. Levanta-se basicamente a seguinte hipótese: o contexto histórico-social pode vir a interferir na preponderância de determinado tipo de samba de enredo em detrimento dos demais.

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POLIFONIA NA MÍDIA IMPRESSA ALEMÃ
ACERCA DE GREVE DE METALURGICOS NO BRASIL

Paulo de Carvalho Junior (UERJ)
Vera Lucia de Albuquerque Sant’Anna (UERJ)

De forma incomum na história do sindicalismo brasileiro, uma greve é solucionada no exterior, junto à sede principal da montadora, na Alemanha, fato que institui uma nova forma de relação/discussão entre os trabalhadores do ABC paulista e a Volkswagen. Esta pesquisa considera a pertinência de estudos voltados para as articulações entre linguagem e trabalho, que nos permitem uma melhor compreensão acerca de aspectos sócio-culturais contemporâneos. Esta comunicação, vinculada a um projeto maior denominado Produtividade da investigação dos discursos produzidos acerca do trabalho, visa a dar visibilidade a sentidos relativos ao mundo do trabalho que circulam via imprensa escrita alemã ao reportar-se a uma greve ocorrida no Brasil e solucionada na Alemanha. O corpus da pesquisa é composto de 19 textos de 12 jornais alemães e um suíço, datados de 09/11 a 23/11/2001. A base teórica é a da Análise do Discurso de cunho enunciativo, com ênfase na noção de discurso relatado (Maingueneau, 2001 e Sant’Anna, 2000) e de dialogia e heterogeneidade discursiva (Bakhtin, 1979). Para as considerações relativas ao “mundo do trabalho” e sindicalismo internacional, recorremos às propostas de Schwartz (1992) e de Di Ruzza e Le Roux (1998), respectivamente. Os resultados parciais apontam para reflexões acerca da relevância da produtividade do quadro teórico escolhido para a investigação, que nos permite identificar as diversas vozes trazidas pelo enunciador-jornalista para a constituição discursiva desse embate social.

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PREFÁCIO À ROSA

Paulo César Silva de Oliveira

Este trabalho visa a investigar as relações estabelecidas por Guimarães Rosa entre língua/linguagem/pensamento, a partir da leitura dos prefácios à obra Tutaméia. Nestes prefácios/não prefácios, Guimarães Rosa encaminha um jogo lingüístico que, partindo da relação entre palavra/conceito, significante/significado, estabelece uma fenomenologia na qual PoesiaLinguagemPensamento (nesta forma, cunhada por Martin Heidegger como o trinômio inseparável) estão imbricados, não podendo mais ser pensados separadamente. Assim, o jogo roseano se mostra onde menos se espera: na palavra apanhada de surpresa, retirada de sua pretensa imobilidade de dicionário para ganhar estatuto de reflexão ontológica.

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PRESENÇA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO DICIONÁRIO REAL DA ACADEMIA ESPANHOLA

Angela Marina Chaves Ferreira

Apresentar o resultado da investigação sobre algumas unidades léxicas oriundas da língua portuguesa que formam parte do Dicionário da Língua Espanhola, organizado pela Real Academia Espanhola da Língua, contrastando tais lemas com os incluídos em dicionários brasileiros de prestígio, com o intuito de levantar os aspectos que teriam levado tais unidades à dicionarização em língua espanhola: diatópicos, diacrônicos, diastráticos.

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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA LÍNGUA BASCA

Alfredo Maceira Rodríguez (UCB)

O basco ou eusquera é uma língua isolada falada numa região situada em vários territórios contínuos na parte dos Pirineus Ocidentais, estendendo-se parte pelo território da Espanha e parte pelo da França. A comunidade de fala basca (Euskal Herria), não corresponde exatamente às divisões políticas espanholas e francesas. A maior concentração de euskaldun (falantes de basco) encontra-se no País Basco, comunidade autônoma do Estado espanhol, e menos densamente em Navarra e no País Basco francês.

É uma língua muito antiga da qual até agora não se conseguiu descobrir a origem. Não é língua indo-européia nem se tem provado qualquer relação com outra língua ou família lingüística. É uma língua de estrutura aglutinante, embora admita algumas flexões. Os sintagmas nominais podem receber morfemas à sua direita. Estes morfemas servem para marcar o caso ou conter outras informações indispensáveis como posse, número, etc. Os verbos são quase todos compostos por uma forma nominal e um auxiliar. Este contém as informações (tempo, pessoa, número, caso). Não há pronomes pessoais de 3a pessoa. Em seu lugar usam-se demonstrativos. A denominação dos numerais é vigesimal.

O basco possui muitos casos, mas os principais são a absolutivo, o ergativo e o dativo. O absolutivo não é marcado morfologicamente, o ergativo é marcado com k e o dativo com i. Marca-se como ergativo o sujeito do verbo transitivo direto. O caso dativo equivale aproximadamente ao dativo latino.

O basco é tradicionalmente uma reunião de dialetos, alguns muito diferentes entre si, mas, modernamente, criou-se uma espécie de coiné, conhecida como Euskara Batua, que é a modalidade mais usada na escola e na mídia.

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PROBLEMAS DA ANÁLISE DO TEXTO POÉTICO

Eduardo Guerreiro Brito Losso (UFRJ)

O trabalho analisa algumas contribuições da lingüística estrutural e estilística para a análise semiológica do texto poético e suas qualidades e problemas apontados pela teoria pós-estruturalista.

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PROCEDIMENTOS DE FECHAMENTO DE TÓPICOS EM ENTREVISTAS

Paulo de Tarso Galembeck (UEL)
Adriana Franco Petroni (UNESP)

Este trabalho analisa os procedimentos discursivos de fechamento de tópicos e subtópicos em entrevistas, com o objetivo de verificar quais são as formas mais recorrentes e, também, de discutir se esses procedimentos correspondem às características dessa forma de interação verbal. Para atingir esse objetivo, parte-se da diferenciação entre os dois meios de encerramento (frástico e parafrástico), caracterizados, respectivamente, pelo encerramento direto e imediato do tópico ou pela retomada de conteúdos já expressos. No exame do procedimento frástico, verifica-se que não há retomada de conteúdos, mas o falante encerra o tópico enunciando textualmente que o tópico está encerrado (“é isso aí”, “é o que eu tenho a dizer”) ou que não deseja continuar o assunto em andamento. Verifica-se, ademais, que os fechamentos frásticos vêm, com freqüência, acompanhados de marcadores conversacionais indicadores de encerramento de tópico (então, desse modo). Já nos fechos parafrásticos a retomada dos conteúdos indica, por si o encerramento do tópico. Essa retomada pode ser representada por uma paráfrase paralela ou condensadora e, ainda, vir acompanhada de um comentário. É analisada, também, a presença de marcadores conversacionais de encerramento de tópico e quem é o responsável pelo fechamento (entrevistador ou entrevistado). A análise das ocorrências revela o predomínio de fechos parafrásticos (que são os mais explícitos), não assinalados por marcadores (pois não há necessidade de fazê-lo); além disso, os tópicos são encerrados pelo entrevistado (pois é ele quem os desenvolve). O córpus do trabalho é constituído por inquéritos do tipo DID (diálogos entre informante e documentador ou entrevistas), do córpus dos Projetos NURC/RJ e NURC/SP.

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PRONÚNCIA DA LÍNGUA INGLESA
DESAFIOS E BENEFÍCIOS DE SUA APRENDIZAGEM

Maria Flávia de Figueiredo Pereira Bollela (Univ. de Franca)

Ementa

Noções básicas de acento, ritmo, entoação, transcrição fonética e pronúncia dos sons vocálicos e consonantais da língua inglesa.

Objetivo

Este minicurso visa capacitar o aluno no reconhecimento e produção dos diferentes fonemas da língua inglesa, apresentando-lhe as noções básicas do acento, do ritmo e da entoação deste idioma. A partir deste aprendizado, o aluno estará apto a implementar sua produção oral e sua discriminação auditiva e poderá compartilhar o conhecimento adquirido com seus próprios alunos.

Bibliografia Básica

BOLLELA, Maria Flávia de F. Pereira. Uma proposta de ensino da pronúncia da língua inglesa com ênfase nos processos rítmicos de redução vocálica. Araraquara, 2002. 380 p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista.

------. Phonological contexts for liaison in English and in Brazilian Portuguese. In: Special Interest Group Symposium of the International Association of Teachers of English as a Foreign Language, 7-9 Sept. 2000, Madrid. Abstracts of the Special Interest Group Symposium. Madrid: IATEFL-The British Council, 2000. p. 26.

------. Encontros consonantais no português do Brasil, no português europeu e na língua inglesa: análise das dificuldades de aprendizado do inglês como língua estrangeira. Estudos Lingüísticos. Marília, n. XXX, 2001. CD-ROM.

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PROPOSTAS DE EDIÇÃO CRÍTICA DE CELSO CUNHA

José Pereira da Silva (UERJ e ABF)

Tomando por base apenas as propostas apresentadas pelo próprio editor crítico Celso Cunha, pela primeira vez apresentadas a público em conjunto, sob o título de Cancioneiros dos Trovadores do Mar, por sua amiga e confidente Elza Gonçalves, com a edição das tão citadas edições de O Cancioneiro de Paay Gómez Charinho, O Cancioneiro de Joan Zorro e O Cancioneiro de Martin Codax.

Trata-se de trabalhos realizados por Celso Cunha entre 1945 e 1956 e nunca mais reeditados, dois dos quais só se conhecem os exemplares que serviram de fonte para a edição de 1999.

Nosso objetivo, portanto, é reapresentar o Celso Cunha Professor de Crítica Textual, ensinando e demonstrando a ciência, a técnica e a arte da edição crítica, buscando as suas palavras no lugar certo em que foram colocadas para esclarecer a sua metodologia nas principais edições que elaborou do português medieval.

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PROVÃO DE LETRAS
SINTAE DO PORTUGUÊS, POLÍTICA DE ENSINO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Claudio Cezar Henriques (UERJ, UNESA e ABF)

Os exames nacionais de curso da área de Letras, inseridos nos cognominados Provões, têm revelado, ao longo de seus cinco anos de existência, algumas características passíveis de interpretação. Obviamente, além dos conteúdos explícitos dos enunciados a que os alunos precisam responder, há também uma questão que se insinua nas suas entrelinhas e que tem vínculos com a política de ensino de Língua Portuguesa nos cursos de graduação.

Tomando como exemplificação algumas questões de múltipla escolha da área de sintaxe portuguesa dos quatro primeiros exames (1998 a 2001), pretendemos comentar seus aspectos formais e analisar sua possível influência no ensino e na formação dos professores de língua portuguesa.

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QUE PROFESSOR DA LÍNGUA INGLESA
O ENSINO PÚBLICO ESPERA RECEBER?

Renata Lobo Moutinho Vivoni (UERJ)
Maria del Carmen F. González Daher (UERJ)

Este trabalho propõe-se a apresentar os resultados de um estudo piloto que integra pesquisa maior de mestrado, em andamento, acerca do perfil de professor de Língua Inglesa que se quer selecionar para atuar como docente no Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual. O corpora de análise está formado pelas provas de conhecimentos específicos e pedagógicos realizadas para o ingresso no Magistério Público, em 1997 e 2001. Nosso objetivo é identificar o perfil desse profissional de língua estrangeira construído discursivamente por essas provas. Ancorando-nos no princípio constitutivo do dialogismo e no conceito de polifonia (Bakhtin, 1929; 1979), recorremos ao quadro teórico da Análise do discurso de base enunciativa, tendo como foco os estudos do interdiscurso (Maingueneau, 1984). Como categoria de entrada no corpus, recorremos ao discurso relatado (Maingueneau, 1987,1998; Sant’Anna, 2000). Acreditando que o trabalho do analista do discurso constrói-se a partir da identificação e descrição das marcas presentes no enunciado, é nosso propósito trazer à discussão os resultados preliminares obtidos nesse momento da análise que apontam a presença de um grande número de asserções, uma elevada freqüência do “discurso segundo” e a ausência quase total de referências bibliográficas.

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REFLEXÕES LINGÜÍSTICO-LITERÁRIAS EM O DECAMERON, DE GIOVANNI BOCCACCIO

Alcebíades Martins Áreas (UERJ)
Delia Cambeiro (UERJ)

O Decameron, de Giovanni Boccaccio (1313-1375), composto entre 1349 e 1351, mas revisto e reelaborado até os últimos anos de sua vida, representa o resultado do amadurecimento artístico do escritor. Nenhuma outra produção de estrutura realística realçou com tanta generosidade e agudeza a representação da existência humana como esta. Composto de 100 novelas contadas ao longo de 10 “giornate”, abarca a trama de extensos e numerosos eventos com riqueza de temas, de figuras e de situações, concedendo aos leitores, por intermédio de alguns irreverentes protagonistas, ampla via de reflexões sobre valores humanos atemporais. Apesar de bem extenso, mas suscitando sempre curiosidade, é bastante procurado em várias traduções, seja nos meios acadêmicos ou não, o que pressupõe vivo interesse por sua mensagem.

Esse Realismo avant la lettre mostrou-se inesperado para sua época e fez de Boccaccio um autor por vezes mal compreendido. Concedeu à obra uma aura que a classifica como pertencente apenas ao rol de uma literatura menor de cunho erótico - ou mesmo, segundo crítica inexperiente, pornográfico. Tal equívoco interpretativo tende provavelmente a agravar-se, caso se estabeleçam possíveis dificuldades de entendimento textual ao iniciado na aprendizagem da língua italiana.

No caso específico da disciplina Literatura Italiana I, item em que Boccaccio vem inserido, ministrada na graduação de Português-Italianao, no IL-UERJ, seria ideal efetuar-se o aprofundamento do estudo literário da referida obra não só no original, mas também em texto já atualizado. Tal propedêutica pretende verter textos antigos - sempre que possível e sem ferir a composição poética - para o italiano moderno, abrindo, assim, as possibilidades do horizonte de leitura.

Desta forma, sempre orientado por uma crítica revisionista da Tradução e/ou da Atualização, este trabalho visa a sugerir possíveis caminhos para o estudo de O Decameron.

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RELAÇÕES FÓRICAS DE CIRCUNSTANCIAIS LOCATIVOS E TEMPORAIS

Maria da Conceição A. de Paiva (UFRJ
Márcia da Silva Mariano Lessa (UFRJ)
Marge Pinheiro de Vasconcelos (UFRJ)

No português, os advérbios que expressam circunstância de tempo e lugar podem ser antepostos ou pospostos ao núcleo verbal da oração, como mostram os exemplos (1), (2), (3) e (4).

Temporais:

(1) Como é que era o nome do cara? Agora não estou me lembrando o nome dele.
(2) Chegava em casa
quatro hora da manhã

Locativos:

(3) Aqui tem que ver à noite, aqui é tudo escuro
(4) Minha irmã é auxiliar de costureira. Trabalha na Praça Seca.

O objetivo desta comunicação é analisar a posição desses elementos circunstanciais em termos da sua contribuição para o estabelecimento de relações anafóricas. Para tanto, classificamos os circunstanciais locativos e temporais de acordo com o tipo de relação que estabelecem no discurso: exofórica, anafórica ou catafórica. A análise de uma amostra de dados do português falado mostra que a anteposição dos locativos e temporais é mais freqüente quando esses elementos estabelecem relação anafórica, principalmente para as locuções adverbiais.

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RELATIVISMO E CRÍTICA LITERÁRIA

Rafael Lanzetti

“Toda verdade é relativa”. Assim criava Protágoras, há pelo menos 2460 anos, a mais contraditória e auto-destrutiva corrente filosófica da humanidade: o Relativismo. Neste trabalho, veremos como a aplicação do Relativismo à Crítica Literária pode nos trazer benefícios hermenêutico-interpretativos, pois a Literatura “...nada mais é que desmentir a verdade mentida.”

Utilizo, para tanto, textos de autores brasileiros como Machado de Assis, Guimarães Rosa e Castro Alves para tentar provar aos ouvintes (assim como o sofista Protágoras) que o Relativismo aliado ao bom-senso interpretativo pode ser importante ferramenta para os mortais que somos: críticos literários.

Não procuro, com o presente trabalho, provar que toda verdade crítica da literatura deve ser relativizada, pois tal concepção levada ao extremo tornaria nosso mundo em um completo caos. Apresento somente, portanto, uma visão crítica particular e impressionística, inspirada em nossos gênios da literatura nacional. Pretendo despertar nos ouvidos mais dúvidas, e não trazer quaisquer respostas. Ab fumo dare fumum.

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RETRATO FALADO
UMA ANÁLISE DAS “FALAS” DE GAROTINHO ATRAVÉS DO GÊNERO TEXTUAL “FRASES”

Cleide Emília Faye Pedrosa (UFS/UFPE)

Pesquisas recentes com gêneros textuais têm convergido para estudá-los como fenômenos históricos e culturalmente situados. Há uma visível diferença entre os estudos tradicionais e atuais no que diz respeito à classificação dos gêneros. Na atualidade, não podemos negar a influência de novas descobertas tecnológicas e o surgimento de novos gêneros. Estudos na mídia impressa revelam um uso bem variado de gêneros textuais, desde os informativos aos de entretenimentos. O gênero textual “Frases” situa-se nessa última classificação. Nesta comunicação, pretendemos estudar as “falas” do locutor/ autor, Anthony Garotinho, veiculadas através desse gênero. O retrato falado dará destaque às escolhas lexicais do locutor e à relação dessa escolha com seu papel social, mostrará também a intertextualidade através do uso do discurso religioso no discurso político. O retrato será ‘pintado’ a partir das ‘falas’ do “eu” (locutor/autor Anthony Garotinho) e do “outro” (outros locutores ao se referir a Garotinho).

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REVENDO A COORDENAÇÃO E A SUBORDINAÇÃO NAS GRAMÁTICAS E NO ENSINO DO PORTUGUÊS

Tadeu Luciano Siqueira Andrade (UNEB)

O ensino da sintaxe, pautado nos manuais gramaticais, apresenta duas modalidades:

1. Classificação dos constituintes oracionais de acordo com a divisão da NGB;

2. Análise do período a partir de dois processos: a coordenação e a subordinação, classificando a oração em coordenada, principal e subordinada.

Tal metodologia apresenta uma visão fragmentada da sintaxe da língua, uma vez que não falamos por palavras isoladas, e sim por frases articuladas e contextualizadas.

Elaborado à luz da Lingüística Moderna, esta comunicação nos possibilita uma re-análise das gramáticas ditas pedagógicas e do ensino sintaxe do português, propondo um novo paradigma para o estudo das orações.

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SEMIOSE E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DOS PROCESSOS SÍGNICOS EM SEQÜÊNCIAS LÓGICAS

Claudio Manoel de Carvalho Correia

Esta pesquisa tem como objetivo a observação dos processos de geração dos signos, através de interpretações de crianças em faixas etárias distintas, visando à análise das estratégias de construção dos conceitos e o estudo da evolução gradativa desses signos no curso do desenvolvimento cognitivo. Buscamos, através do estudo que compõe o arcabouço teórico emergente da teoria de Charles Sanders Peirce, um parâmetro de como os informantes geram significados nas diversas e distintas etapas cognitivas na qual se encontram. Servirão de apoio, também, alguns aspectos do conceito de signo apresentados por Vygotsky e as teorias das semioses criativas e orientadas de Nöth (1995). Esses conceitos foram aplicados ao corpus selecionado com entrevistas com crianças das faixas etárias de 2,0; 4,0; 6,0, 8,0 e 10,0 que interpretam as seqüências lógicas a elas apresentadas. Este procedimento possibilitou a realização do estudo da evolução dos signos, de acordo com as análises sobre a lógica utilizada pelos informantes na descrição oral das seqüências lógicas.

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SINTAXE DAS CONSTRUÇÕES NOMINAIS LATINAS

Lívia Lindóia Paes Barreto (UFF)

Examinaremos as construções nominais com vistas a estabelecer a taxionomia do particípio presente, infinitivo e gerúndio(e sua contrapartida gerundiva ), com localização dos contextos léxicos e sintáticos que resultaram, respectivamente, em construções correspondentes e divergentes em português. No caso específico do particípio presente, estabeleceremos os contextos em que as construções terminadas em -ns /-ntis se mantêm em português, em contraste com aquelas em que tais construções alternam para -ndo, ou se transferem categoricamente para a forma de gerúndio.

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SOBRE O “ENCAIXAMENTO” DA MUDANÇA PARAMÉTRICA

Maria Eugênia Lamoglia Duarte (UFRJ
Viviane de Guanabara Mury (UFRJ)

Segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968), todo estudo da mudança deve procurar outras alterações no sistema associadas à mudança em questão de forma não acidental. Com base nesse pressuposto, este trabalho examina os “efeitos colaterais” que podem ser relacionados à perda gradual dos sujeitos nulos referenciais pelo português brasileiro. Se se leva em conta a noção de parâmetro do sujeito nulo e as propriedades a ele associadas, seria natural esperar que, uma vez implementada a mudança em direção aos sujeitos referenciais plenos, também os sujeitos não referenciais (ou expletivos) passassem a mostrar as conseqüências de tal mudança.

As estruturas investigadas são as existenciais com ter/haver e as construções com verbos de alçamento, como parecer. Ambas exibem um sujeito não referencial/expletivo pleno nas línguas não pro-drop, como em (1), e um expletivo nulo nas línguas pro-drop, como em (2):

(1) a. There is a lot of noise downtown
(1) b. It seems that I’m going to explode in anger
(2) a. ___ há/tem muito barulho no centro
(2) b. ___ parece que eu vou explodir de raiva.

Com base em duas amostras da comunidade de fala carioca, gravadas em inícios dos anos 80 e em 2000, mostramos que essa posição estrutural de sujeito, antes categoricamente nula, já apresenta indícios de preenchimento, seja com o uso de pronomes nas construções existenciais, seja com o alçamento do sujeito da subordinada e duas atribuições de caso nominativo:

(3) a. Você tem muito barulho no centro da cidade.
(3) b. Eu pareço que eu vou explodir de raiva.

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Texto e imagem
rompimento das fronteiras
e expansão semiótica

Ulysses Maciel de Oliveira Neto (UERJ)

O propósito dessa comunicação é denunciar como as rupturas nas tensas e tênues fronteiras dos campos semióticos simbólico e icônico possibilitam a deflagração de determinados efeitos estéticos. A tensão provocada pela proximidade desses campos no interior dos discursos possibilita o rompimento dos seus limites, fazendo com que eles se expandam e, ainda que competitivos, se interpenetrem, negociando a troca de significados e enriquecendo-se reciprocamente com as metáforas um do outro. A tradução desses signos não pode ser literal. A expansão de um dos campos para o interior do outro se dá a partir das dobras e fissuras por onde os textos escapam à racionalidade dos enredos, abandonam a literalidade e descambam para a armadilha às avessas que é a metáfora.

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TIPOS DE CAMPOS LÉXICO-SEMÂNTICOS
TEORIA E PRÁTICA

Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick (USP)

O sistema lexical de uma língua, pela sua configuração (estrutura não-finita), possibilita a análise de suas unidades (UL) de representação em uma vertente cognitiva de transmissão do saber e em uma vertente comunicativa do fazer enunciado. Como unidades de pensamento, as expressões lexicais comportam o ideário dos falantes e viabilizam a produção do conhecimento pela interação dos atores, no processo enunciatário. As marcas lexicais desse mecanismo gerador conformam realidades extra-lingüísticas referencializadas por um elenco de palavras básicas. Aplicadas a outros ramos das ciências do léxico, criam sistemas designativos que constituem específicos domínios de experiências, como ocorre com as ciências onomásticas. As ocorrências extra-códigos instituem variados modelos ou tipologias de campos lexicais e léxico-semânticos, com terminologia própria, que podem opor formas sistemáticas de denominação (unidades do sistema) a formas emotivas de chamamento (unidades discursivas). Esta bipolaridade lexical ou terminológica será discutida nesta Comunicação, enfocando realizações na cidade de São Paulo, registradas no Projeto ATESP (DICK, 1999).

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TRADUÇÃO PARA ALÉM DOS CONCEITOS LINGÜÍSTICOS

Adilson da Silva Corrêia (UNEB e FSS)

Os estudos de tradução, no Brasil, contam de poucas décadas. Apesar de a teoria mais moderna criticar as formas clássicas de se fazer tradução, palavra por palavra, significado por significado, e defender o processo tradutológico como ato de criação, parece que ainda hoje observa-se uma demanda muito grande, nas pesquisas, de mostrar a questão morfossintática no ato de traduzir. Com isso, outras questões mais importantes como: Por que se utilizou este significado e não aquele? O que fez o autor preferir uma palavra em detrimento de outra, no ato da tradução? São questões que precisam ser estudadas e analisadas a luz de teorias, tais como da pós-colonização e de conceitos de exclusão e intervenção. O trabalho propõe uma análise de alguns artigos, publicados em revistas e livros atuais, que evidenciam uma preferência da análise morfossintática em detrimento de conteúdos culturais, sociais, políticos e éticos no campo da tradução.

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TUDO BRANCO COM UM POSSÍVEL DESVIO PARA O VERMELHO
DESLOCAMENTOS METAFÓRICOS
DO CONCRETO À ABSTRAÇÃO

Ana Cristina de Rezende Chiara (UERJ)

Esta comunicação investiga a correlação entre a noção de abstração modernista nas artes plásticas e na poesia, tendo como suporte interpretativo a consideração da metáfora do branco e a disrrupção deste signo no algoritmo significante/significado. Murilo Mendes pode ser tomado com um poeta abstrato, no sentido, por exemplo, daquilo que se diz um pintor abstrato. Contribuem para isso suas estratégias de visionarismo expansivo e de transubstancialização dos materiais poéticos em imagens oníricas, marcantes nos primeiros livros, e capazes, por exemplo, de um verso como; “Manhã da vida/ asas no céu translúcido/ jardins de nuvens/ movidas pelo som,/ Mozart aero-amigo” O modo como depura o concreto, não o torna, no entanto, um poeta desinteressado do mundo como poder-se-ia pensar à primeira vista, Esta tendência à abstração corresponde à poética conseqüente ao Modernismo Artístico que alia o libertarismo político ao rigor da experimentação, conforme sugestão do próprio Murilo Mendes no Texto Branco: ‘Branco: não somente síntese das cores. Ainda reparo contra a retórica, o excesso, as insídias do gestual. Razão e medida. A idéia de isolar o branco repousa sobre o conceito de a) limite, b) rigor, c) disciplina.......” (in. A Invenção do Finito, Obras Completas, p. 1347).

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UMA AULA PRÁTICA DE LATIM VULGAR

Nestor Dockhorn (FERP/UNIG/UNIFOA)

É importante distinguir adequadamente as duas variantes de latim: a variedade culta e a variedade popular. Para que isso ocorra corretamente, é necessário empregar um alfabeto fonético - preferentemente do IPA - para representá-las. Na presente palestra, será empregado um método de tradução de um texto, passando de uma variedade à outra. O texto será criação do autor, realizado dentro dos padrões da variedade culta, adaptado didaticamente para os objetivos da palestra, acessível aos participantes, não sendo demasiadamente complicado.

Na tradução duma variedade a outra, feita sentença por sentença, serão observados paulatinamente os vários processos que transformaram a variedade culta em variedade popular: processos fonológicos, morfológicos, sintáticos e léxicos. O estudioso deve conscientizar-se de que a geração da variedade popular não implica regras necessárias e absolutas, nem resultados certos, mas tendências gerais, que levam apenas a resultados possíveis e que possam explicar a continuação desses processos na geração das línguas românicas.

Na presente palestra, apesar de no título aparecer a denominação latim vulgar, serão preferidos os termos variedade culta e variedade popular, em vez de latim clássico e latim vulgar.

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UMA LEITURA LEXICOGRÁFICA DE DUAS CANTIGAS DE AIRAS NUNEZ
SUBSÍDIOS PARA UMA REVISÃO DO QUADRO LÍRICO DO COTIDIANO MEDIEVAL

Clarice Zamonaro Cortez (UEM)
Maria Regina Pante (UEM)

Considerando que o estudo filológico da obra literária (método nascido no século XIX) visa contribuir, no seu setor de conhecimento, para a formação da consciência que cada época tem do passado e de si mesma, além de ajudar a reconstruir o entendimento do passado, segundo os dados da nova realidade presente, podemos afirmar que este tipo de estudo da obra literária se justifica na medida em que esse conhecimento do passado vincule-se às exigências do presente e, implicitamente, ao progresso da consciência humana. Desde a Antiguidade Clássica, a Primavera era comemorada com procissões, festas, danças e alegorias populares. Na Idade Média, as cantigas de amigo (na variedade de bailia) remetem a esses cortejos, retratando verdadeiros quadros líricos do cotidiano medieval. O presente ensaio tem como objetivo apresentar uma dupla leitura (revisão lexicográfica e histórico-literária) desse quadro lírico, tomando como corpus duas cantigas do clérigo compostelano Airas Nunez (Baylemos nós iá todas tres, ay amigas, e «Baylad’oj, ay filha que prazer uejades).

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UMA MULTIFACETADA DE CELSO CUNHA SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA

Antônio Carlos Siqueira de Andrade (UERJ e UCB)

A língua portuguesa em vários momentos no Brasil - a colonização, os jesuítas, a implantação da língua oficial. Celso Cunha - o gramático, o filólogo e o lingüista.

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UNIDADES DISCURSIVAS NA INTERAÇÃO ASSIMÉTRICA

Paulo de Tarso Galembeck (UEL)
Carola Lopes Braz (UEL)

Castilho define as unidades discursivas (UDs) a partir de duas características básicas: a) semanticamente, elas consistem em arranjos temáticos secundários em relação ao tema ou tópico genérico em andamento; b) formalmente, são constituídas por um núcleo e duas margens (esquerda e direita), sendo obrigatório aquele e facultativas estas. O núcleo (N) encerra o conteúdo proposicional da UD e é formado por frases nominais ou verbais, enquanto as margens têm papéis discursivos diferenciados: a margem esquerda (ME) volta-se para a elaboração do assunto e é constituída por marcadores conversacionais de opinião (eu acho que, acredito que), de valor coesivo (então, mas), ou, simplesmente, de introdução da UD (bom, éh::) ou, mais raramente, de observações adicionais ou pós-pensamentos. Acrescente-se, ainda, que elementos de ambas as margens podem inserir-se no núcleo e que as UDs fazem parte do processo geral de construção do texto falado (a ativação), embora nelas também se manifestem formas de reativação (retomadas ou reformulações) e de desativação (interrupções e truncamentos). Esse trabalho analisa as UDs a partir de uma série de variáveis: a) elementos constitutivos (N; ME; MD); b) estrutura do núcleo (frase nominal; período simples; período composto); c) articulação tema-rema do núcleo (tema dado ou novo; rema frástico ou parafrástico); d) função da ME (coesão; introdução do N; opinião; envolvimento o ouvinte); função da MD (envolvimento do ouvinte; conclusão); presença de pós-pensamentos. A análise das ocorrências revela o predomínio de UDs constituídas só pelo núcleo ou por este e pela margem esquerda, com o núcleo formado por um período composto por coordenação e subordinação, sendo o tema dado e o rema representado por uma formulação frástica. As margens, por sua vez, têm função variada e são raros os casos de pós-pensamentos. o corpus do trabalho é constituído por elocuções formais dos arquivos dos projetos NURC/SP e NURC/RJ.

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VOZ PASSIVA SINTÉTICA
UMA NOVA PROPOSTA DE ANÁLISE

Viviane de Melo Resende (UFV)
Maria Carmen Aires Gomes (UFV)

As gramáticas tradicionais de Língua Portuguesa postulam a existência da voz passiva sintética, construção em que o pronome "se" dito apassivador liga-se a verbo transitivo direto. Entretanto, não há uma voz passiva sintética real, uma vez que não traz idéia de passividade nem é síntese, pois conta com pelo menos dois vocábulos mórficos.

As inadequações do postulado gramatical apontam a necessidade de reformulação das normas e classificações tradicionais a respeito dessas estruturas. A perspectiva semântica mostra-se crucial no estudo desse caso e determinante de uma solução para a descrição lingüística.

A análise semântica de casos coletados na Folha de S. Paulo indicou que a opção por norma ou desvio não é aleatória, pois o significado pretendido pelo falante é determinante na utilização de norma ou desvio, o que implica em uma variação semântica.

Outro fator condicionante é o tipo semântico de verbo da construção pronominal. Percebeu-se que, com verbo de ação, as construções se fazem pelo desvio; com verbo de acontecimento, pela norma. Logo, a opção do falante por norma ou desvio é semanticamente condicionada.

A partir da análise dos tipos semânticos de verbos, levantou-se a hipótese da voz reflexiva metafórica - que ocorre com verbos de acontecimento, a partir da ativação de elementos a princípio passivos e conseqüente exclusão de atores sociais - em distribuição complementar à voz ativa com sujeito indeterminado .

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1a PARTE

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