Solidão
A Sesostris Leal
Eu, mudo, sentado na rocha altaneira,
Que tem encravados os pés sobre o mar,
Ouvia os lamentos de uma onda ligeira,
Que às praias de areia se vinha arrojar.
Um barco veloz, enfunadas as velas,
– Albatroz arrojado lá passa a voar,
A brisa fagueira soluça nas telas,
Meus loiros cabelos vem logo afagar.
Um canto distante de nauta perdido
Mistura-se, ao longe, ao harpejo do mar:
São notas confusas de amor esquecido,
São velhas feridas que estão a sangrar.
Às vezes, o dorso das águas gigante
Um pouco se estende e se torna a curvar,
Um mero inquieto se mostra um instante
Para novamente sumir-se no mar.
Campelo, 1920