Eu amo as horas da noite...

Eu amo as horas da noite,
Em que tudo é meditar,
Quando nas ondas do mar
Cintila a lua indolente;
Quando a brisa pressurosa ,
Soluçando suas mágoas,
Vai beijar as claras águas
De mansa e lisa corrente.

Eu amo as horas da noite,
Horas de dor e tristeza,
Em que toda a natureza
Dorme até o surgir do sol;
Em que as lágrimas do céu:
As gotazinhas de orvalho,
Reluzindo em cada galho,
São de estrelas um lençol.


Eu amo as horas da noite,
Horas dos brancos fantasmas
Em que da terra os miasmas
Se espalham por sobre o ar;
Em que as estrelas palpitam,
Como brancos passarinhos,
Que ocultos dentro dos ninhos
As asas vão descansar.

Eu amo as horas da noite,
Em que o surgir da cascata
Atroando a selva, a mata,
Vai levar seu eco, além;
Em que os peixinhos dormitam
E a esbranquiçada neblina,
Nos ramos da casuarina,
O medo repoisar vem.

Campelo, 1921


Pressurosa é aquela que tem pressa, que é impaciente ou ansiosa.

O manuscrito está no singular Hora, mas o contexto nos leva a corrigir para Horas em coerência com os versos anteriores.

Miasmas são emanações a que se atribuía, antes das descobertas da microbiologia, a contaminação das doenças infecciosas e epidêmicas. São as exalações pútridas que emanam de animais ou vegetais em decomposição. Em sentido figurado, são as sensações de ansiedade opressora ou dificuldade de respirar.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011