Eu amo as horas da noite,
Em que tudo é meditar,
Quando nas ondas do mar
Cintila a lua indolente;
Quando a brisa pressurosa ,
Soluçando suas mágoas,
Vai beijar as claras águas
De mansa e lisa corrente.
Eu amo as horas da noite,
Horas de dor e tristeza,
Em que toda a natureza
Dorme até o surgir do sol;
Em que as lágrimas do céu:
As gotazinhas de orvalho,
Reluzindo em cada galho,
São de estrelas um lençol.
Eu amo as horas da noite,
Horas dos brancos fantasmas
Em que da terra os miasmas
Se espalham por sobre o ar;
Em que as estrelas palpitam,
Como brancos passarinhos,
Que ocultos dentro dos ninhos
As asas vão descansar.
Eu amo as horas da noite,
Em que o surgir da cascata
Atroando a selva, a mata,
Vai levar seu eco, além;
Em que os peixinhos dormitam
E a esbranquiçada neblina,
Nos ramos da casuarina,
O medo repoisar vem.
Campelo, 1921