O canário...

Quando o dia despontava,
Sempre alegre e jovial
O canário já encontrava
E em seu canto matinal.
Cantava muito: era um gosto,
Até quando já sol posto!

No telhado, na mangueira,
Sobre a terra, no vargedo
Nos galhos da laranjeira,
Sob os ramos do arvoredo,
Cantava, tanto cantava,
Que a gente toda acordava.

No palmeira, tem o ninho,
Um lar de pobre cantor,
Todo tecido de arminho,
É pobre, mas que primor!
Na companheira fiel
Tem o seu favo de mel.


Esse bando hoje não canta,
Nas grades de uma prisão
Morre-lhe a voz na garganta,
Tem prantos no coração.
Chora o campo, oh! que saudade!
Dos tempos de liberdade.

Triste vive o pobrezinho
Quer cantar acha empecilhos:
Lembra da esposa o carinho
E o terno grito dos filhos.
Os trinos que o peito solta
São cantos, mas de revolta.

Às vezes, um passarinho
Em folguedo corta o ar,
Na gaiola o canarinho
Ensaia também voar,
Mas, oh! Dor, que o peito invade!
Vai bater de encontro a grade.

Ó vós, crianças, soltai
O cativo da gaiola,
Lembrai-vos de que ele é pai
Presto abri-lhe a portinhola
Então não mais contrafeito
Soltará ecos do peito.

Campelo, 1921


Não percebi a função desta palavra E. Ou seria necessário ler a estrofe com outras pausas?... Teria havido falha na pontuação?...
Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011