A vida
A vida, diz o moço – é um sorriso
Que desponta em uns lábios purpurinos;
A vida, diz o velho – é carga infausta,
Que se desfaz ao bimbalhar dos sinos.
A vida, diz o rico – é ouro puro;
A vida, diz o pobre – é de miséria;
A vida, diz o ímpio – é saciar-se
Nos gozos e prazeres da matéria.
A vida, diz o pensador – é sopro,
Que se evapora ao vento da desgraça;
A vida, diz o santo – é dom sublime,
É viver-se em completa e plena graça.
De todas estas a que mais me agrada
A mais bela e taful definição
É a do santo. Com prazer concluo,
Que de todos só ele tem razão.
Campelo, 1921