A rosa e o colibri
Disse um dia uma rosa a um colibri
Por que, malvado, não me vens a mim
Oscular, como fazes às mais flores,
Ao resedá e ao pálido jasmim?
Eu, que me orgulho em ser a mais vistosa
Das minhas companheiras, não me beijas?
E volúvel de um caule a outro caule,
De uma a outra flor célere adejas?
Toda vez que o travesso colibri
Passava pela rosa, esta se abria
Mais redutora a ver aquele ingrato,
Que nem sequer os olhos lhe volvia.
Um dia o colibri viu-a já murcha,
Não tendo a incendiar o seu desejo
A vida que a animava. Ela morreu
Na cruel sofreguidão de um terno beijo.
Campelo, 1921