A rosa e o colibri

Disse um dia uma rosa a um colibri
Por que, malvado, não me vens a mim
Oscular, como fazes às mais flores,
Ao resedá e ao pálido jasmim?

Eu, que me orgulho em ser a mais vistosa
Das minhas companheiras, não me beijas?
E volúvel de um caule a outro caule,
De uma a outra flor célere adejas?

Toda vez que o travesso colibri
Passava pela rosa, esta se abria
Mais redutora a ver aquele ingrato,
Que nem sequer os olhos lhe volvia.

Um dia o colibri viu-a já murcha,
Não tendo a incendiar o seu desejo
A vida que a animava. Ela morreu
Na cruel sofreguidão de um terno beijo.

Campelo, 1921


Resedá é uma família de ervas ricas em alcaloides e cultivadas como ornamentais e para extração de óleo essencial e de tintura amarela.

Adejar é agitar as asas para se manter no ar durante voo ou dar pequenos e repetidos voos sem direção definida.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011