Um ano que transcorre! E estais na mesma
Disposição de um outro decorrido:
Armas em riste para a luta afeitas,
Perdão e graças para o arrependido.
O prélio é o mesmo que se perpetua:
O rei das trevas combatendo a luz,
De um lado Deus e d’outro Satanás,
Que a humanidade a todo mal induz.
Baluarte da fé, que à fé chamais
O transviado na torpeza visto,
E apontando lhe mostrais a cruz:
Tomai, dizeis, o pavilhão de Cristo.
Ali tereis o que buscais às tontas:
Virtude, crença, força, inspiração;
O jogo é leve, sopesai ao menos
O estandarte da nossa redenção.
Um ano a mais! E o pastor bondoso
Não sente o peso, o declinar da idade,
Por sendas segue a tresmalhada ovelha,
Sendo para ela todo caridade.
Nosso desejo é que se repetisse
Por muitos anos o dia d’agora,
Que em vossas cinzas renascêsseis novo,
Como da Fênix se dizia outrora.
No entanto, a morte com seu gládio fero
Um dia a vida no-la ceifará,
Mas que importa se, para o mundo extinta,
Na vida eterna ressuscitará?
Então tranquilo dormireis à sombra
De um nome puro, sempre abençoado;
Rebrilham nele bênçãos de viúvas,
De pobres órfãos que haveis educado.
E o julgamento da posteridade
Do esquecimento elevará o manto,
E uma só voz proclamará aos ventos:
Foi varão justo e mais que justo, santo.
Niterói, 1920