Jesus no Calvário

No cimo do Calvário, a cruz do Salvador
Iluminava a noite em rúbido clarão;
Maria, a virgem mãe, ferido o coração,
Rorejava de pranto os pés do Redentor

A rosa de Jessé, a mais mimosa flor
Dos vales da Judeia, das filhas de Sião,
Indiferente a tudo, em terna adoração,
Prostrada sobre a cruz carpia a sua dor.

Tudo silêncio em torno... A natura dormita...
No céu a estrela norte a rutilar flutua.
Uma faixa de luz com languidez se agita,

Osculando o cabelo e a branca face nua
Do meigo nazareno. O coração palpita
E Maria desperta. Era um beijo da lua...

Niterói, 20-11-1919


Rúbido é o mesmo que rubente – bastante avermelhado; rubro, rúbeo, rubicundo.

Rorejar é banhar ou brotar gota a gota (orvalho, suor, lágrima); gotejar, orvalhar.

Carpir é arrancar (fios de cabelo ou de barba) em sinal de dor ou de sentimento. Por extensão, é o mesmo que expressar tristeza; lamentar, prantear.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011