O monge

Ei-lo, de pé, no cimo do rochedo,
Apenas rompe a aurora e enceta o dia,
A contemplar extático a agonia
Da vaga que se embala no penedo.

As brisas doudivanas, em folguedo
Beijam-lhe os pés, as faces à porfia;
O velho monge compassivo ria,
Amava aquela festa : era um brinquedo...

Ao presenciar dali a luta ingente
Do furioso mar com a rocha sente
Haver na terra, igual uma outra lida,

Um outro mar que se rebolca aflito,
Arremessando um lancinante grito
Contra os umbrais da eternidade: a vida...

Niterói, 7/09/1920


A palavra festa foi acrescentada na entrelinha.

Ingente – muito grande, enorme, desmedido.

Rebolca – lança, faz rolar como bola; precipita.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011