Deus

Eu era então imerso em incerteza.
Interrogava a terra, o espaço, os céus,
Buscando ver na bruta natureza
A mansão do supremo ser – que é Deus.

Eu perguntei à brisa que passava,
Varrendo as verdes comas vegetais:
Em que lar Deus habita? E por resposta:
              Ascende mais.

Interroguei a linfa que corria,
Banhando a orla aos rudos matagais.
Onde reside Deus? Respondeu-me ela:
              Ascende mais.

Eu perguntei à onda que, ansiosa,
Beija o colo dos brancos areais:
Onde demora Deus? E por resposta:
              Ascende mais.

Interroguei ao fumo que se evola
Em vagarosas, brancas espirais:
Onde reside Deus? Respondeu-me ele:
              Ascende mais.


Eu perguntei aos sinos que soluçam
Nas altas torres, de altas catedrais:
Qual a mansão de Deus? E por resposta:
              Ascende mais.

Interroguei ao cedro da montanha,
Que agita no ar seus braços colossais:
Em que lar Deus assiste? Retrucou-me:
              Ascende mais.

Eu escalei a região dos anjos,
Que da mansão de Deus, já se aproxima
E perguntei-lhes: Onde Deus habita?
              Um pouco acima.

Depois de peragrar por tanto tempo,
De seguir, palmilhar caminho vário,
Descobri, santo Deus, que tua morada
              É no sacrário.

Niterói, 1921


Peragrar é fazer o percurso da revolução lunar de qualquer ponto do zodíaco até o retorno ao mesmo ponto.
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