A meninada

A meninada depois do estudo
Procura o campo para brincar,
Pula, saltita, fontes ao ar,
Tudo revira, remexe tudo,
A meninada depois do estudo.

Oh! Como é belo ver as crianças
Sadias, fortes e folgazãs!
Nestas risonhas, lindas manhãs,
Em que o sol doira do arbusto as tranças
Oh! Como é belo ver as crianças!

Parecem rosas inda em botão,
Que beijam brancas gotas de orvalho
Ou passarinhos que sobre um galho
Desferem trenos do coração.
É a criançada flor em botão.

Ai! Quando as vejo nessas folganças,
Sinto ferir-me fundo a saudade
Ah! Minha infância! Que doce idade!
Como despertas em mim lembranças,
Quando os petizes vejo em folganças!


Oh! Se a infância tornar pudera!
Experiência, sabedoria,
Tudo o que tenho ledo daria
Por um só dia de primavera
Oh! Se à infância tornar pudera!

Quisera eu hoje não ter juízo,
Vagar correndo campina em fora,
Mas se eu isto fizer agora
Chamam-me louco, velho sem siso.
Quisera eu hoje não ter juízo.

Niterói, 1921


Trenos são cantos lacrimosos; elegias, nênias.

Ledo é o que revela ou sente alegria, júbilo, felicidade ou contentamento.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011