Em casa tudo conspira...
Se quero um fato narrar,
Gritam logo que é mentira
Aquilo que eu vou contar.
Vivo triste, sem ter gozo,
De falar eu vivo à míngua;
Se começo, ó mentiroso,
Me dizem, para esta língua.
Que lá fiquem tais malucos,
Que desconfiam de mim;
Um par de velhos caducos
É mesmo descrente assim.
Como estou noutro ambiente,
Que confiança me inspira,
Entre séria e boa gente,
Não quero contar mentira.
Vou narrar-vos, meus senhores,
Só a vós que estais aqui,
Uma cena das maiores,
À qual eu mesmo assisti:
Encetava o meu trabalho,
Quando escuto, de repente,
Um bater surdo de malho
E uns gritos de penitente.
Larguei a tarefa minha,
Antes mesmo de acabar;
Sigo em busca da cozinha,
Na cozinha vou parar.
Do que vi fiquei pasmado!
Um frango pimpão, faceiro,
Brandia um grande machado
Na testa do cozinheiro.
Vejam lá qual a impressão,
Que tive nesse momento!
Ver ali morto, no chão,
O pobre do José Bento!
O malvado do franguinho,
Morto o Bento, dança um tango,
Quando um gato, de mansinho,
Atira um prato no frango.
O prato sem direção,
Lançado por fortes braços,
Foi parar direito ao chão,
Em mil e tantos pedaços.
Mamãe logo apareceu,
Eu corri por precaução;
Eis o que me aconteceu:
Recebi forte lição.
No começo um piparote,
Seguido de um: Fala tudo!
Depois um rijo chicote
E muitas horas de estudo.
Mas sabem quem me perdeu?
Foi o senhor José Bento,
Que me causou tal tormento,
Quando vivo apareceu.
Não pensem que isto é fita,
Que mereci tal lição;
Mas oh! Que coça bonita!
Que tremenda correção!
Niterói, 1921