Circulo vicioso

Ao sopé de elevado e verde monte,
Gemia inquieta uma pequena fonte:

Oh! quem me dera ser um ribeirinho,
Abrir entre as florestas um caminho,

Fazer rolar em minhas águas seixos,
As raízes oscular aos altos freixos!

Mas o ribeiro diz com ar sombrio:
Por que me não fez Deus um largo rio?

Viver aqui em espaço tão estreito!
Oh! quem me dera ter um grande leito!

Sentir sobre meu dorso que transporto
Passageiros de um porto a outro porto!

Porém o rio exprime o seu pesar:
Por que me não fez Deus um grande mar?

Ver que me ferem as águas galeões
Pesados, estreitar povos, nações


Distantes num abraço fraternal,
É a realização do meu ideal.

Porém com amargura diz o mar:
Oh! se pudera em fonte me tornar!

Cansa-me este contínuo movimento
Não gozo de sossego um só momento

Quanto detesto os amplos horizontes!
Oh! quem me dera a calma paz das fontes!

Niterói, 05-1921

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011