À Morte

Quanto tempo há já que à tua espera
Me detenho ansioso. O nada, embora,
Sejas, acalma o meu sofrer, minora
Esta pungente dor que me lacera.

Mas creio, ó morte, que uma nova era
Depois de ti virá, uma outra aurora,
Que mais sublime e terno orvalho rora ,
Talvez de douradora primavera.

Enquanto te nomeiam carniceira,
E maldiz-te em peso a humanidade inteira,
Eu te desejo, eu te amo, eu te bendigo...

Que vale a mocidade e a flor dos anos?
Livra-me de futuros desenganos,
À eternidade leva-me contigo...

Niterói, 05/1921


Rorar é banhar ou brotar gota a gota (orvalho, suor, lágrima); gotejar, orvalhar.
Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011