Há vida na voz do vento,
Entre os ramos dos valados;
Há morte no triste acento
Do sino a planger finados.
Há vida no casto seio
Da flor que esplende no galho;
Há morte no roble alheio
Às gotazinhas de orvalho.
Há vida nas laranjeiras,
Onde balouçam os ninhos;
Há vida nas goiabeiras,
Onde cantam os passarinhos.
Há morte nos pobres lares,
Onde não reina a alegria,
Há morte pelos palmares
Ao toque da Ave-Maria.
Há vida pela devesa
Nas horas do sol nascer;
Há morte na natureza
Nas horas do entardecer.
Há vida onde brota o riso;
Há morte onde impera o pranto;
Há vida no paraíso;
Há morte no Campo Santo.
Vida e morte – escada erguida
Da existência sul e norte;
Quem sobe procura a vida,
Quem desce esbarra co’a morte.
Niterói, 30-10-1921