Dar lição a esses pedantes
Que prosam sem ter vintém;
Quem assim obra
Obra bem.
Mas censurar o mendigo
Vergado ao peso do mal;
Quem assim obra
Obra mal.
Mostrar como o almofadinha
Por dentro a camisa tem;
Quem assim obra
Obra bem.
Mas zombar do pobrezinho
Que o corpo faz de varal,
Quem assim obra
Obra mal.
Pôr a chacota o ricaço
Que olha todos com desdém;
Quem assim obra
Obra bem.
Mas mofar do que acolhe
A todos com modo igual;
Quem assim obra
Obra mal.
Rir muito do que se julga
Mais sábio do que ninguém;
Quem assim obra
Obra bem.
Mas zombar do que não sabe
Nem o som de uma vogal;
Quem assim obra
Obra mal.
Apanhar e mentiroso
Que nos logros se detém;
Quem assim obra
Obra bem.
Mas chasquear o coitado
Que só diz o que é real;
Quem assim obra
Obra mal.
Niterói, 31-10-1921