Morrer! Morrer!

E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito
Um mal terrível me devora a vida
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Só tem por braços uma cruz erguida
– Castro Alves –

Já vejo ao longe que me acena a campa
Com gesto largo, que o prazer estampa
Nos braços funerários;
Na voz dos passarinhos só diviso
Som de trampas do dia de juízo
Nas estrelas – sudários.

Glória, crença, inspiração, estudo,
Na campa fria há de abismar-se tudo,
No atroz esquecimento;
E só por memória uma cruz alçada
E restos espalhados de uma ossada
Que rijo agita o vento.


Pais, irmão, companheiros de jornada,
Todos irão em noite enluarada
Regar meu mausoléu,
E eu, feliz assim na campa fria,
Hei de chorar também, mas de alegria,
De gozo lá no céu.

Já vejo ao longe a negra sepultura,
Que me acena das noites na negrura,
Chamando-me sem dó;
E eu, peregrino exausto e fatigado,
Cairei, como o cedro fulminado,
De rojo sobre o pó.

Também, Senhor, de que me vale a vida?
Se a sangrar dentro em mim uma ferida
Lacera o peito meu?
Há mais sossego a mansão da morte
Pra quem não pode suportar a sorte
De um novo Prometeu.

Sinto que vou morrer! Na campa agreste
Hei de dormir à sombra de um cipreste,
Das noites no mistério;
E se oh! mãe por alta noite um grito
Cortar da calma as dobras de granito
Partiu do cemitério.


Foi de alguém que estranhando a soledade,
Com certeza chorou, mas de saudade
De tudo que deixou;
Por mim não chames oh! mãe adorada,
Quando encetar sozinha esta jornada,
– Uma lei cumprir vou.

Já vejo ao longe que me acena a campa
Com gesto franco que o prazer estampa
Nos braços funerários;
Do porto – eternidade me avizinho,
Vejo trevas nas curvas do caminho,
Nos brancos estelários.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011