As estrelas

Às vezes fico enternecido a vê-las,
Na muda calma de uma noite fria,
Alheias de encanto e divinal magia
As peregrinas, pálidas estrelas.

Todas me entendem e eu julgo entendê-las,
Na sua indiferença e mágica atonia ...
Há horas de amargura e horas de alegria
Para as etéreas, cândidas donzelas.

Quanta vez, quanta vez, às horas mortas,
Nelas absorto, elas em mim absortas,
Em íntima união, um lenitivo

É impetrado reciprocamente...
E a nossa absorção é tão patente
Que penso estar já morto e ainda vivo.

Niterói, 20-03-1922


Atonia – abatimento moral e/ou intelectual; inércia.
Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011