O sino (tradução)

(Lamartine)

O sino da minha aldeia
É um sonoro instrumento,
Que escutava em minha infância
Como a voz do firmamento.

Quando longa ausência após
Voltava a torrão natal,
Pelo ar à distância ouvia
Os sons do doce metal.

Julgava ouvir-lhe na voz,
A voz do meu valezinho,
A voz de uma terra irmã,
De uma mãe toda carinho.

Agora quando ouço ainda
Sobre o mar o som que cai,
Cada golpe do badalo
Parece arrancar-lhe um ai!


Por quê? Na torre isolada
É sempre o mesmo soar;
Sobre o vale o mesmo hino,
À manhã mesmo o saudar.

Oh! Porque desde o batismo,
O sino com triste acento
Chorou desses que eu amava
A agonia e o pensamento.

É que em vez das ternas preces
Ou do Te-Deum entoar
De minha mãe e meu filho
Ele as lousas faz vibrar.

Quando o teu som conhecido
Ontem visitar-me veio,
Eu julguei-te novamente
Da antiga alegria cheio.

Mas, ai! Do livro divino,
Onde os doces cantos lia,
Eu não sei qual a amargura
Que a cada verso sentia.


O teu gênio é sempre o mesmo,
A mesma alma é que te enflora,
Porém com a mesma harmonia,
Como tudo é triste agora!

Ah! pobre mãe e mulher!
Disfarçar desgraça? Em vão!
Os versos refletem a alma,
Como a voz o coração.

Co’a sorte concorda o canto
Tentas sorrir! Mas que dor!
Pois há pranto em cada corda
E em cada dedo um tremor.

Nesses jogos de harmonia
Dizemos juntos adeus.
Para o gênio consolar
Que pode a lira? Só Deus.

Niterói, 30-03-1922


O pronome eu foi inserido posteriormente na entrelinha.
Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011