Sentado no barco errante,
Das ondas vagando ao léu,
Pensa o nauta a cada instante
Nas belezas do seu céu.
As asas solta ao barquinho
Ao sopro da viração,
E o barco vai de mansinho
Mergulhando na amplidão.
Sua alma – barca perdida
No lago do pensamento
Vai voando sacudida
Nas asas do sentimento.
Bem longe a pátria estanceia,
Bem longe o teto natal!
E o regalo que coleia
Entre as moitas de juncal!
Bem longe a mãe já velhinha!
As mais caras afeições!
E o pobre nauta caminha
No mar das recordações.
Ao palor fraco da lua,
Que pouco a pouco descora,
Vai gemendo a mágoa sua
Ao surgir de cada aurora.
Em face da natureza,
Ao peso do seu destino,
Quer cantar sua tristeza
Mas não pode o peregrino.
Um dia passa e outro dia,
Uma hora passa e outra hora...
Mais lhe aumenta a nostalgia
E sentido o nauta chora.
Os ais! a brisa no entanto
Leva a pátria do proscrito,
E as negras bagas de pranto
Caem no seio do infinito.
Niterói, 04-04-1922