Meu Brasil!

I
Oh! minha terra, oh! meu Brasil amado,
Perfumado berço em que acordei sorrindo
Aos beijos de Febo que era então já nado
E enchia tudo de um prazer infindo,
Sendo tal o encanto que eu entusiasmado
Murmurei baixinho: como tudo é lindo!
Ao proscrito acolhe no teu seio materno,
Quando for chegando o tenebroso inverno.

II
Terra de meus pais, oh! meu jardim de flores,
Urna de primores, encantado ninho,
Campo matizado das mais belas cores,
Onde nasce o milho e onde medra o linho,
Onde cresce a rosa que desprende odores
E o casto lírio branco como arminho.
Meu Brasil, ampara nos teus almos braços
Este filho teu que traz os membros lassos.


III
Meu torrão natal, oh! meu luar de prata,
Verdejante balsa, lago resplendente,
Onde a lua desce e meiga se retrata,
Onde o sol espelha o rosto rubro, ardente,
Onde voga o barco ao som da traviata
E onde bebe a corça a água transparente.
Oh! pátria minha, oh! serve-me de encosto,
Quando for sozinho via do sol-posto.

IV
Oh! minha terra, oh! minha brisa mansa,
Meu florido bosque e lindo coqueiral,
Onde a natureza ostenta a sua pujança
E alia ao próprio o garbo oriental,
Onde bem oculto, sob a basta trança,
O canário canta o hino matinal
Pátria! que refulge em pomos e pomares
Bálsamo oferece a todos meus penares.


V
Oh! minha terra, oh! terra que diviso
A esplender augusta, bela e folgazã,
Quando o sol lhe beija as faces e um sorriso
Sai de cada flor, ao rocio da manhã,
Terra sem rival! Meu doce paraíso,
Onde não há neve e não alveja a cã,
És o meu consolo, o alívio do meu peito,
No meu sono eterno sê tu, pois, meu leito.

VI
Oh! Brasil querido, oh! céu de primavera,
Onde só pôs riso o meigo Jeová,
Onde o sol não morre e onde a aurora impera,
Onde a Virgem desce quando o sabiá
Faz ouvir seu canto, que alegria gera,
E suspenso o rio não coleia já.
Dá-me o teu regaço, ó pátria, feiticeiro
Quando for dormir o sono derradeiro.


VII
Oh! pátria minha, oh! minha calma fonte,
Minhas messes loiras, onde à melodia
Dos trabalhadores, eu curvava a fronte
Para ouvir seu canto cheio de harmonia,
Quando a luz raiava e a fímbria do horizonte
Se purpureava ao despontar do dia.
Oh! meu céu de estrela, achara meu caminho
Pois já sinto a morte e dela me avizinho.

Niterói, 06-04-1922


Uma referência à ópera La Traviata de Giuseppe Verdi.

Rocio – orvalho.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011