O coveiro
Ao poeta e amigo Raeder.
Cabeça baixa como um condenado,
Que após ter perpetrado um crime infando
Segue caminho do carrasco ao mando,
Passava o pobre assim pelo povoado.
À dor alheia há muito acostumado,
Já do pesar não sente o espinho quando
Vê alguém ao seu lado derramando
Lágrimas sobre o corpo de um finado.
Poento e triste o pobrezinho desce
À luz do sol da tarde que esmaece,
Mas coisa singular! – um penso brilha
Um pranto que a saudade lhe gerara.
Pois entre os muitos corpos que enterrara
Neste dia, enterrou a própria filha.
Niterói, 01-05-1922