Mulher velha que na moda,
Curtinha na perna a saia
Traz e a blusa decotada,
Ensaia.
Caixeiro que, no balcão,
A falar logo se mete
Em política e ciência,
Promete.
Homem velho que ao espelho
Vai mirar a formosura
Do rosto cheio de rugas,
Procura.
Menina que quer ser moça,
Tendo o porte de criança,
E aparenta ser sisuda,
Avança.
Poeta que só em louvores
Aos outros a lira tanja,
Si não o beija a fortuna,
Arranja.
Menino, que bem criança
Se atira logo na lide
Do mundo, como homem feito,
Progride.
Homem, que ser jornalista
Diz e em vão trabalha, sua,
Pra escrever um artigo,
Amua.
Moça velha, que só deita
Para gente olhar de lado,
Sendo no rosto uma santa,
Cuidado!
Lavrador que se intromete,
Passando a vida na foice,
A falar do que não sabe,
Dá coice.
Niterói, 02-05-1922